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Brasileiro cede manuscrito "perdido" de Borges a biblioteca argentina

Manuscrito de "A Biblioteca de Babel", do argentino Jorge Luis Borges - Arantxa Iñiguez/Efe
Manuscrito de "A Biblioteca de Babel", do argentino Jorge Luis Borges Imagem: Arantxa Iñiguez/Efe

De Buenos Aires (Argentina)

13/09/2016 21h00

A Biblioteca Nacional Argentina ampliou nesta terça-feira (13) sua exposição de manuscritos inéditos do escritor Jorge Luis Borges, inaugurada em julho, depois de ter recebido de um colecionador brasileiro o manuscrito original de um conto do autor considerado perdido até agora.

Durante uma viagem profissional a São Paulo, o diretor do órgão, Alberto Manguel, se encontrou com o economista e historiador Pedro Corrêa do Lago, que o mostrou uma coleção "absolutamente impressionante" na qual estava o manuscrito de "A Biblioteca de Babel", de Borges, escrito sobre nove folhas arrancadas de um caderno de contabilidade e repleto de correções.

"Ele era muito generoso com suas coisas e as presenteava. Por isso, muitas coisas acabaram nas mãos de diversos livreiros, como as do americano John Wronoksi, que vendeu o documento ao colecionador brasileiro", disse Manguel em entrevista à agência Efe.

Pedro Corrêa do Lago, um dos maiores colecionadores de livros do país - Raquel Cunha/Folhapress - Raquel Cunha/Folhapress
Pedro Corrêa do Lago, um dos maiores colecionadores de livros do país
Imagem: Raquel Cunha/Folhapress

Após descobrir esse "grande tesouro" em São Paulo, Manguel pediu o manuscrito emprestado a Corrêa do Lago para ampliar a mostra "Uma lógica simbólica", que está em exibição desde julho na Biblioteca Nacional e reúne 17 manuscritos originais e inéditos de Borges (1899-1986), pertencentes a coleções públicas e privadas.

"Vou devolvê-los, a não ser que sofra um lapso de moral e decida roubá-los para a biblioteca", brincou o diretor, lamentando, no entanto, o fato de a entidade não ter perdido a "oportunidade" de comprar essas obras, "uma parte fundamental da memória histórica e cultural da Argentina".

Segundo o diretor, os manuscritos são essenciais para conhecer os processos mentais do autor e entender seu estilo, caracterizado por uma grande qualidade técnica e por sua preocupação em encontrar as palavras exatas. "É comovente porque tudo isso começou em um suporte tão humilde como folhas de contabilidade, que custaram poucos centavos", afirmou Manguel.