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Dramaturga espanhola traz horror e "fascinação primitiva pelo mal" ao país

Cena da pela "O Que Farei com Esta Espada?", da catalã Angelica Liddell - Luca Del Pia/Reprodução
Cena da pela "O Que Farei com Esta Espada?", da catalã Angelica Liddell Imagem: Luca Del Pia/Reprodução

Fabio Manzano

De Santos (SP)

13/09/2016 20h37

O trauma produzido por duas situações de extrema violência em Paris é o ponto de partida do espetáculo da atriz e dramaturga espanhola Angélica Liddell na quarta edição do Mirada - Festival Ibero-americano de Artes Cênicas de Santos.

"Há uma fascinação muito antiga e primitiva pelo mal que nos permite refletir sobre a natureza humana", conta Angélica em entrevista à agência Efe, em referência a sua peça "O que Farei com Esta Espada?", que será exibida nesta semana na cidade.

A peça apresenta dois casos icônicos de horror na capital francesa. O primeiro envolve um estudante japonês, que em 1984 matou, esquartejou e comeu sua companheira. Já o segundo lembra os atentados de 2015 em Paris, que provocaram a morte de 137 pessoas.

"Tínhamos previsto várias reações antes da estreia: raiva, vaias...Toca diretamente o coração da França. Mas nos surpreendeu muito quando vimos que nos aplaudiam de pé todos os dias", destacou Angélica sobre a estreia em julho na cidade francesa de Avignon.

Nascida em 1966 em Figueres, a diretora, que conquistou o Prêmio Nacional de Literatura Dramática da Espanha em 2012, conta que sua nova criação é um "canto ao irracional, a tudo aquilo que nos permite entrar em contato com as emoções, as sensações".

A atriz e dramaturga Angélica Liddell - Efe - Efe
Angélica Liddell, que levou o Prêmio Nacional de Literatura Dramática da Espanha em 2012
Imagem: Efe


Angélica, um símbolo da vanguarda cênica, estreou no Brasil em 2012 com a peça "Eu não sou bonita". Para ela, "O que farei com esta espada?" mantem a essência da obra de sua primeira passagem pelo país: a abordagem da violência e o "problema" da beleza.

"Conto a mesma história há 20 anos, mas, formalmente, meu trabalho mudou e tem uma limpeza cada vez maior, rumo a uma busca absoluta da beleza, ao sagrado e seus rituais", disse Angélica.

Em sua nova obra, repleta de polêmica, a espanhola evitou representar animais vivos, como já fez em sua última visita ao Brasil, quando colocou um cavalo no palco.

O hispânico-argentino Rodrigo García, que abriu o festival na semana passada, utilizou um animal e teve sua apresentação interrompida por um grupo de ativistas.

Os manifestantes tentaram resgatar do palco os quatro galos usados na peça. A organização do evento recebeu uma multa de R$ 2 mil, porque o uso de animais em obras de teatro é proibido por uma lei municipal de Santos.

O Sesc São Paulo, que organiza o evento em parceria com a Prefeitura de Santos, considerou a importância de debate sobre o tema e ressaltou que os animais usados por García não tinham sido dopados.

O Festival Mirada, que começou no último dia 8 de setembro e termina no próximo domingo, exibirá um total de 43 peças, oito delas espanholas, país homenageado desta edição do evento.