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História em quadrinhos de brasileiro, "Talco de vidro" chega à Espanha

Imagens de "Talco de Vidro", que tem como cenário a Niterói onde Marcello Quintanilha nasceu - Reprodução
Imagens de "Talco de Vidro", que tem como cenário a Niterói onde Marcello Quintanilha nasceu Imagem: Reprodução

Pilar Martín

02/07/2016 10h00

Embora sem sangue nem tiros, a história em quadrinhos "Talco de Vidro" mostra ao leitor um autêntico thriller sobre a busca da liberdade em meio a uma crise existencial, obra do brasileiro Marcello Quintanilha que acaba de chegar ao mercado literário espanhol.


De acordo com o autor, que mora em Barcelona, o objetivo da história é "se comunicar" com os leitores mostrando, com "honestidade", sentimentos universais.

Quintanilha explica que nesta tragédia cheia de inveja, raiva, desespero e luz, a proposta não é se aprofundar "na bondade ou na crueldade" de Rosângela, a protagonista, mas em sua "humanidade" porque o ser humano atua "em consequência de suas próprias decisões".

"A personagem tem sua forma de pensar e de agir. Eu sempre respeito isso e ela acaba ganhando uma vida independente", reconhece o autor sobre o que acontece com cada uma das histórias em quadrinhos que exerce as funções de roteirista e desenhista.

Quadrinista Marcello Quintanilha - Reprodução - Reprodução
Quadrinista Marcello Quintanilha
Imagem: Reprodução
"Talco de Vidro" foi lançado no Brasil em 2015. A HQ relata a vida de Rosângela, uma dentista brasileira que leva uma vida confortável casada com o médico Mario.

A protagonista, também mãe de dois filhos, está acostumada com sua posição social, mas é uma parente menos afortunada, porém com um sorriso resplandecente e semblante de felicidade, que desperta uma mudança de sentimentos em Rosângela e a faz querer mudar de vida de maneira radical.

"Quando faço uma história em quadrinhos, me interesso principalmente pela comunicação com as pessoas, mas de uma maneira mais profunda do que apenas ler uma história para que o leitor desfrute de um momento. Quero que as pessoas se identifiquem com os personagens em um nível mais profundo", diz o autor.

Embora viva em Barcelona há alguns anos, o brasileiro leva o leitor a seu país natal em "Talco de Vidro" porque só assim consegue transmitir as sensações que deseja por intermédio de seus personagens.

"O fato de escrever de uma maneira tão próxima ao que sou como pessoa me leva a criar histórias que tenham relação com o que me formou como pessoa, e isso inevitavelmente tem a ver com o Brasil", analisa.

E se o realismo e a proximidade desta história são perceptíveis desde a primeira página, afinal de contas o autor acredita que a história de Rosângela pode ser a história de "qualquer um", Quintanilha utilizou uma metáfora ao escolher o título. "Talco de vidro" seria a maneira de explicar como é a vida da protagonista.

"A intenção era que pudéssemos imaginar uma substância tão suave como o talco, com um tato muito delicado, mas vamos pensar o que aconteceria se cheirássemos esta substância fora do vidro, o que aconteceria com o nosso corpo", questiona.

Os desenhos em preto e branco aumentam o dramatismo da história, inclusive quando achamos que a protagonista está alcançando a felicidade.

A ausência de cor foi suprida com texturas ("pontinhos", como as define, para ter tonalidades de cinza), que o permitiram fazer um desenho "mais efetivo e direto" para acompanhar uma história na qual o leitor compreende a relação da personagem com o mundo pouco a pouco.

Marcello Quintanilha chegou ao mercado franco-belga com outro thriller, "Sept balles pour Oxford", série com roteiros de Montecarlo e Jorge Zentner que o levou a morar na Espanha, onde também trabalhou para veículos de imprensa ("El País", "La Vanguardia") enquanto desenvolvia projetos para o Brasil como "Salvador" (2005), "Sábado dos meus amores" (2009) e "Almas públicas" (2011), Tungstênio (2014) e "Hinário nacional" (2016).