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Língua inglesa manterá hegemonia na Europa apesar do Brexit

Mònica Faro

Da EFE, em Bruxelas

01/07/2016 09h55

O Brexit semeou dúvidas sobre a possibilidade de que o inglês deixe de ser idioma oficial na União Europeia (UE), embora seja usado em outros dois países do bloco, Irlanda e Malta, e nas últimas décadas tenha se imposto na comunicação entre seus 28 membros.

"A saída do Reino Unido da União Europeia não levará o inglês a perder seu status de língua oficial", afirmou à Agência Efe a porta-voz de Orçamento e Recursos Humanos do bloco, Andreana Stankova.

A polêmica surgiu com a reação de alguns eurodeputados franceses que reivindicaram, ao saber dos resultados do referendo britânico, que o inglês deixe de dominar as comunicações da UE.

Além disso, a presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais da Eurocâmara, a ex-comissária (2004-2009) Danuta Hübner, assegurou que "se o Reino Unido for embora, não haverá inglês" na lista de línguas oficiais, já que Irlanda e Malta pediram que o gaélico e o maltês também o fossem quando se somaram ao bloco.

"Embora o Reino Unido saia da UE, vai continuar havendo dois Estados nos quais é língua oficial. Não haveria portanto nenhuma razão para mudar o regime atual", explicou Stankova.

Outros parlamentares, como a espanhola Maite Pagazartundúa, avaliam que um país não pode ter duas línguas oficiais na UE e que o inglês "deixará de ser idioma oficial" se o Reino Unido sair da UE "já que foi o único país que o solicitou".

"A solução passa por um acordo que mantenha o número de línguas e respeite o critério de uma língua por país. É necessário manter o critério de eficiência, que não aumente os custos nem os recursos humanos necessários para a UE", argumentou à Efe a parlamentar do partido Unión Progreso y Democracia.

Mas os tratados não limitam que um país possa pedir que várias de suas línguas sejam também oficiais na UE, por isso que a Torre de Babel europeia poderia continuar se diversificando e a porta está aberta para outras línguas minoritárias como o luxemburguês e o turco, oficial no Chipre.

A questão voltou a revelar a complexidade linguística da UE, na qual há 24 línguas oficiais, para as quais são traduzidos todos os documentos, um trabalho que, no caso do Executivo comunitário, representa 0,3% de seu orçamento.

A direção geral de Tradução da CE tem 60 tradutores, cujo trabalho é dominado pelo inglês. Além das oficiais, existem as chamadas "línguas de trabalho", um conceito que não é contemplado nos tratados, mas que na prática, sobretudo em nível interno, implica que as comunicações sejam feitas em inglês, francês e alemão.

O francês, língua oficial em Bruxelas, dominava nas relações diplomáticas europeias até a incorporação do Reino Unido na UE em 1973 e posteriormente com a ampliação nórdica.

Uma hegemonia que se manterá apesar do Brexit, já que é a língua mais utilizada internamente e com os parceiros dos 28 países no mundo.

Em 2015, a equipe da CE traduziu mais de um milhão e meio de páginas do inglês, contra 72.662 do francês e 55.686 do alemão, de um total de quase dois milhões, o que mostra a prevalência do inglês em 80%. "O resultado do referendo não terá nenhum impacto nisto", garantiu Stankova.

A presença do maltês e do gaélico é limitada nos documentos originais que a CE traduziu (257 e 63 páginas, respectivamente), mas sim há um elevado número de traduções para esses idiomas; mais de 70.000 páginas para o maltês e 5.100 para o irlandês.

Entre as línguas oficiais não estão catalão, galego nem basco, algo que só ocorreria se houvesse um pedido formal por parte do Estado membro e unanimidade dos parceiros para adotar a decisão.

Desde 2006 qualquer cidadão da UE pode se dirigir ao parlamento em catalão, galego ou basco, e este tem o dever de responder nos idiomas que estão na lista de línguas cooficiais.

No caso espanhol, a representação das instituições em Barcelona tem uma página na internet em catalão e a de Madri outra em castelhano, um caso que não existe em nenhum outro Estado membro, embora o escritório do Chipre também atenda seus cidadãos em turco.

Os juristas da CE explicam que legalmente uma língua não deve necessariamente ser oficial em todo o Estado membro para que o seja na UE, mas é "pouco provável" que os países queiram ampliar a lista, já que isto desencadearia um debate sobre seu custo.