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Índia ignora seu outro Taj Mahal

12/05/2016 07h13

Luis Ángel Reglero.

Nova Délhi, 12 mai (EFE).- O outro Taj Mahal da Índia espera há anos que alguém o resgate do esquecimento na cidade de Bhopal, onde este palácio antes esplendoroso está fechado ao turismo enquanto espera um plano que o salve da ruína, o convertendo em um hotel de luxo.

O Taj Mahal, o mausoléu de mármore branco e maravilha do mundo que se ergue na cidade de Agra, é mimado pelas autoridades indianas, recebe milhões de turistas e sua imagem representa o país por todo o mundo.

A cerca de 500 quilômetros, na parte velha de Bhopal fica o outro Taj Mahal da Índia, que não é um mausoléu, mas um palácio muito maior, mas esquecido pelas autoridades e fechado ao turismo.

O complexo palaciano de quase 30 prédios que ocupam mais de 22 mil metros quadrados é a imagem viva do abandono, em contraste com a maravilha de Agra, com o qual a única coisa que compartilha é o nome por capricho de uma rainha.

Shah Jahan, a então rainha de Bhopal, tinha pensado em chamá-lo Raj Mahal, ou palácio real, mas quando acabou a construção em 1884 aceitou a sugestão que sua beleza era comparável ao mausoléu de Agra e merecia o mesmo nome de Taj Mahal, ou palácio da coroa.

Mais de um século depois, os grandes arcos, o sem-fim de galerias, as fontes e os jardins deste complexo de estilo indo-sarraceno são engolidos pouco a pouco pelo mato e partes de suas paredes foram caindo, deixando o recinto cheio de cascalhos.

Uma deterioração que contrasta com o brilho do principal monumento da cidade, a mesquita Taj-ul-Masjid, do outro lado do tanque que a separa do palácio em uma das regiões mais buliçosas da capital do estado de Madhya Pradesh.

"Está fechado há muito tempo e é preciso permissão para entrar", explicou à Agência Efe o historiador Syed Akhtar Hussain, um dos patrocinadores da ideia de transformá-lo em hotel.

No entanto, com um pouco de capacidade persuasiva, o guarda da entrada pode passar por cima das permissões e qualquer curioso adentrar pelo portal de sua imponente fachada de sete andares.

Após a desorganizada e suja entrada se escondem, no entanto, "elementos que são histórica e artisticamente raros, e muito interessantes", descreveu Hussain, da Fundação Nacional Índia para o Patrimônio Artístico e Cultural.

Elementos como os mármores que ainda se conservam, "talvez porque não estão à simples vista, escondidos na parte de trás", e uma fonte com um sistema "único" que simula a chuva merecem, segundo sua opinião, um esforço para evitar sua perda.

"Nos últimos dez anos gastaram muito tempo e dinheiro para a reparação e conservação sem muito sucesso", afirmou o também membro da Aliança para o Patrimônio Vivo em Bhopal.

Perante o pouco resultado destas tentativas por parte do governo do estado de Madhya Pradesh, a presidente da Aliança, Savita Rache, mantém uma campanha para evitar que o complexo continue se deteriorando, embora "algumas partes já tenham sido perdidas".

Ao se transformar a Índia em república após sua independência em 1947, a família real perdeu seu poder e com isso o dinheiro para manter o edifício.

Os reis se foram, o palácio ficou vazio e durante a década de 2000 vários de seus elementos desmoronaram, embora em 2005 tenha sido declarado monumento e depois passasse a depender do Separtamento de Turismo de Madhya Pradesh, em 2011.

"O departamento tem um plano que inclui a restauração", ressaltou à Efe a arquiteta sobre o projeto para transformá-lo em um "hotel patrimônio".

"Convidaram licitadores, mas acredito que o processo ainda continua", comentou esta professora da Escola de Arquitetura de Bhopal.

O projeto institucional em questão foi levado à licitação no ano passado pelo Departamento de Turismo para que um investidor privado instale um hotel com 30 quartos e o administre durante pelo menos três décadas.

Fontes do Diretório de Arqueologia de Madhya Pradesh confirmaram à Efe este plano, sem dizer em que ponto se encontra a licitação.

As molduras em pedra vermelha, o sistema para conseguir ar fresco no verão, as sacadas comodamente decorados e demais partes ainda de pé esperam enquanto isso, à mercê da passagem do tempo.