Moradores de Jalisco "velam" imagens de Cristo no Sábado de Aleluia
Ao final da representação da Paixão de Cristo, na Sexta-feira Santa, os moradores arrumam os altares onde "tendem" as figuras religiosas, que permanecem durante toda a noite rodeadas de flores, velas e orações. Um desses moradores é Javier García. Para ele, esta é uma forma de representar Jesus quando foi pregado na cruz. Segundo ele, a tradição, conhecida como "Tendidos de Cristo" (semelhante à Vigília Pascal), data do século 16, quando os franciscanos chegaram a Jalisco para evangelizar os indígenas da região.
"Esse foi um elemento dos muitos usados para catequizar os indígenas", explica o dono de um dos cristos com mais de 350 anos de existência.
Os "tendidos" começaram como um costume dos índios Purépechas e seus primeiros descendentes que viviam perto da cidade, onde as imagens de Cristo a base de madeira são elaboradas. Aos poucos, a tradição se estendeu a outras colônias de San Martín de Hidalgo até se tornar a maior festa popular da região, a ponto de ser declarada Patrimônio Material e Imaterial de Jalisco.
As imagens são passadas de geração em geração e guardadas pelas famílias. Ao chegar a Sexta-feira Santa, são retiradas por um "padrinho", que ajuda a vestir a imagem com um novo "cendal" ou "tanga", e que colabora na organização do "tendido".
Depois das três da tarde, horário que segundo a tradição Jesus morreu, as famílias se reúnem em torno do altar para colocar o Cristo, rezar e acender as velas. O ritual é embalado pela melodia do "huil", um instrumento pré-hispânico cujo som lembra um lamento.
O sincretismo religioso se faz presente em cada elemento do altar adornado com 33 velas, que representam a idade de Jesus ao morrer; um petate (tapete tecido de fibras naturais), usado pelas comunidades pré-hispânicas para envolver seus mortos; tecidos arroxeados em sinal de luto; e o copal, uma pedra que os indígenas queimam para purificar seus rituais.
Para os habitantes, a data representa um momento de reflexão e de renovação da fé. Alguns deles, como Juan Barbosa, aproveitam o momento para agradecer os milagres recebidos.
"Para mim, é como fazer uma reflexão. Ter um contato espiritual com Ele aqui não mais pedindo, mas pondo minha vida e minha vontade aos seus cuidados", afirma Barbosa, que este ano é "padrinho" de um dos Cristos.
O "Tendido de Cristo" é também uma oportunidade para reunir os familiares que moram longe e fomentar a tradição, como ocorre com María Isabel Jiménez, que veio dos Estados Unidos só para isso.
"Viemos de muito longe para estar com Ele. Para que a tradição continue todos os anos e não se perca", disse à Efe.
A maioria das pessoas desmonta os seus altares ao meio-dia do Sábado de Aleluia, mas alguns optam por continuar até o Domingo de Páscoa, quando a história indica que Jesus Cristo ressuscitou.
Independentemente de quando seja desfeito, a memória desta tradição dura o ano todo, pois algumas famílias "abençoam" moedas com os pedacinhos das velas utilizadas e depois as repartem entre vizinhos e amigos.
"É uma forma de garantir que não vai faltar dinheiro", concluiu Silvia García.
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