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Indicada a melhor canção, Anohni não vai a Oscar em protesto por transgêneros

26/02/2016 14h32

Redação internacional, 26 fev (EFE).- Anohni, a cantora transgênero indicada ao Oscar de melhor canção por "Manta Ray", do documentário "Racing Extinction", anunciou que não participará da cerimônia, que acontece neste domingo em Los Angeles, em protesto contra o "um sistema de opressão social e redução de oportunidades para os transexuais" nos Estados Unidos.

Um sistema empregado "para destroçar nossos sonhos e nosso espírito coletivo", afirmou Anohni em uma longa carta em que explicou as razões pelas quais não estará presente na cerimônia, e que foi distribuída por sua gravadora.

Anohni, líder da banda Antony and the Johnson, somou seu boicote ao já anunciado por artistas negros devido a ausência de indicados afro-americanos.

A cantora, indicada junto com Joseph Ralph pela canção do documentário "Racing Extinction" (sem título em português), não foi convidada para interpretar a música durante a cerimônia, apesar dealguns concorrentes estarem confirmados no palco, como Lady Gaga, Sam Smith e The Weeknd.

Ela reconheceu que a Academia de Hollywood não a excluiu unicamente por sua condição de transexual: "não fui convidada porque sou relativamente desconhecida nos Estados Unidos, canto uma canção sobre 'ecocídio' e isso poderia atrapalhar a venda de espaços comerciais, e sei além disso que não tenho o direito automático de ser convidada".

"Mas é impossível ignorar a verdade mais profunda. Como o aquecimento global, não se trata um fato isolado, mas de uma série de eventos que se produzem ao longo dos anos para criar um sistema com a intenção expressa de me minar, primeiro como menina e mais tarde como mulher trans andrógina", acrescentou a artista.

A inglesa também ressaltou que é a primeira intérprete transexual a ser indicada a um Oscar e agradeceu esse fato aos artistas que votaram, e lembrou que ficou feliz e emocionada com a quantidade de cumprimentos que recebeu depois de ser indicada.

Mas depois soube que Sam Smith (pelo tema de "007 Contra Spectre"), Lady Gaga ("The Hunting Ground") e The Weeknd ("50 Tons de Cinza") tinham pedido para interpretar durante o Oscar as canções pelas quais foram indicados e que ela nunca recebeu esse convite.

"Minha ansiedade aumentou com a passagem das semanas. Os produtores pareciam ter decidido que só atuariam intérpretes comercialmente viáveis", o que a deixou de fora, assim como à soprano coreana Sumi Jo ("Youth").

Apesar de tudo, a cantora chegou a ir ao aeroporto para pegar um avião para Los Angeles. "Mas os sentimentos de vergonha e raiva me bloquearam e não pude subir no avião. Imaginei a mim mesma, como me sentiria sentada entre todas essas estrelas de Hollywood, os mais valentes se aproximando com caras tristes e pêsames".

"E me vi alí, sentindo uma pontada de vergonha que me lembraria afirmações anteriores da América de que por ser uma pessoa transexual eu não era adequada. Portanto dei meia volta e voltei para casa".

A cantora britânica também ressaltou o apoio que recebeu de artistas como Lou Reed, que a estimularam a continuar quando estava a ponto de jogar a toalha.

Apesar de tudo, disse ter realizado muitos de seus sonhos, trabalhado com músicos e artistas que respeita, lutado pelo feminismo, pela consciência ambiental e pelos direitos dos transexuais.

E ter pago seus impostos em Nova York. "Esse dinheiro foi gasto pelo governo dos Estados Unidos na prisão de Guantánamo, em criar drones bomba, em vigilância, em aplicar a pena capital, em subsídios corporativos e em resgates bancários".

"Portanto decidi não assistir aos prêmios da Academia este ano. Não serei mimada por umas baladas bem fabricadas para fazer se sentir bem. Não se esqueçam que muitas dessas celebridades são os troféus de companhias multimilionárias cuja única intenção é nos manipular para dar a elas nosso consentimento e todo nosso dinheiro", finalizou.