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Fantasma do racismo em Hollywood assombra cerimônia do Oscar

26/02/2016 13h04

David Villafranca.

Los Angeles (EUA), 26 fev (EFE).- Quando se acendem os holofotes do Oscar, todas as atenções se voltam para os artistas indicados, mas neste ano os olhares também se dirigirão aos ausentes, pois pela segunda edição consecutiva do grande prêmios do cinema nos Estados Unidos não haverá sequer um ator negro entre os candidatos.

O fantasma do racismo voltou a assombrar Hollywood com a divulgação, em janeiro, das indicações para a 88ª edição do Oscar, que será realizada neste domingo em Los Angeles. Os protestos e a ameaça de um boicote por parte da comunidade negra marcaram as semanas prévias à cerimônia.

Havia atores negros que apareciam em algumas apostas, como Will Smith ("Um Homem Entre Gigantes"), Idris Elba ("Beasts Of No Nation"), Michael B. Jordan ("Creed: Nascido para Lutar") e Samuel L. Jackson ("Os Oito Odiados"), mas por fim todos os indicados foram brancos, uma situação que reativou nas redes sociais a hashtag de protesto #Oscarssowhite (Oscar tão branco) que já havia ecoado em 2015.

O diretor Spike Lee, que recebeu um Oscar honorário em novembro do ano passado, e a atriz Jada Pinkett Smith foram os primeiros que comunicaram sua intenção de não participar da cerimônia e de promover um boicote.

"Como é possível que pelo segundo ano seguido todos os atores indicados sejam brancos? E nem falamos das demais categorias. 40 atores brancos em dois anos? Não podemos fazer nada?", lamentou Lee.

O movimento foi crescendo. Alguns atores como Will Smith aderiram ao boicote, enquanto outros como Mark Ruffalo, Idris Elba, Lupita Nyong'o, George Clooney, Matt Damon e Reese Witherspoon mostraram apoio e exigiram maior diversidade.

A Academia de Hollywood agiu rápido e anunciou uma série de mudanças para aumentar a diversidade com o objetivo de dobrar, entre seus membros, o número de mulheres e pessoas de diversas origens étnicas até o ano de 2020.

"A Academia vai liderar a mudança e não vai esperar que a indústria reaja", declarou a presidente da organização, Cheryl Boone Isaacs, que é negra.

Ironicamente, a cerimônia da 88ª edição do Oscar será apresentada pelo humorista e ator negro Chris Rock, razão pela qual espera-se que a polêmica do #Oscarssowhite ganhe bastante espaço em suas intervenções.

A discussão sobre a continuidade ou não de atitudes racistas em Hollywood se transformou na protagonista de todas as conversas e atos prévios do Oscar.

Até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tomou a palavra na discussão e afirmou que o debate sobre os prêmios Oscar era "uma expressão" de um problema maior na sociedade: "Estamos garantindo que todo mundo tenha as mesmas oportunidades?".

Mas houve vozes discordantes, como Michael Caine, que alegou que não se pode votar em um ator só porque ele é negro, enquanto Ian McKellen ressaltou que os intérpretes homossexuais também sofrem discriminação.

A história do Oscar, como a de Hollywood em geral, aparece marcada em suas primeiras décadas pelas atitudes racistas contra os negros, que também eram vivenciadas em todos os aspectos da sociedade americana.

O primeiro Oscar para um intérprete afro-americano foi conquistado por Hattie McDaniel em 1940, por "E o Vento Levou", um prêmio que a atriz recebeu em uma cerimônia realizada em um hotel com regras discriminatórias e segregacionistas.

Já em 2002, Denzel Washington e Halle Berry fizeram história ao levarem os prêmios de melhor ator e melhor atriz na mesma cerimônia por "Dia de Treinamento" e "A Última Ceia", respectivamente.

Desde então, Morgan Freeman, Jamie Foxx, Forest Whitaker e Jennifer Hudson, entre outros, se proclamaram vencedores, antes que Lupita Nyong'o ganhasse o Oscar em 2014 por "12 Anos de Escravidão" e fosse a última atriz a acrescentar seu nome à lista de atores negros premiados até este ano.