Os mil e um sabores do Ano Novo Lunar chinês
Paloma Almoguera.
Pequim, 7 fev (EFE).- A gastronomia é uma parte crucial das festividades da China, especialmente durante o Ano Novo Lunar - "chunjie", em mandarim -, no qual as variadas tradições culinárias ao longo do país se transformam no destaque deste dia especial.
Quando na noite de 7 para 8 de fevereiro se comemora a chegada do ano novo na China, desta vez sob o influxo do "Macaco de Fogo", Xu Fei e sua família, oriundos da província de Anhui, no leste do país, levarão à mesa no final do banquete um peixe inteiro, uma carpa, de aspecto excelente e apetitoso.
No entanto, nem Xu ou seus parentes provarão um pedaço dele, já que "peixe" e "sobra" são homônimos em mandarim ("yu"), e a carpa, contou Xu à Efe, "desaparecerá intacta da mesa", sob a crença de que assim acabará e começará bem o ano, e em sinal de abundância frente à escassez de épocas passadas.
A culinária de Anhui é uma das oito mais clássicas da China, junto com as de Cantão, Fujian, Hunan, Jiangsu, Zhejiang, Shandong e Sichuan, regiões que, apesar de compartilharem o afeto pela harmonia de sabores e a combinação de frio e quente, diferem no que se refere ao "menu estrela" de Ano Novo.
Enquanto Xu terá que resistir a degustar pelo menos esse peixe, em alguns lugares de Cantão os moradores não pouparão em opções e aproveitarão a noite com os chamados "alimentos de mil anos", expressão que se refere a uma série de pratos preparados para abastecer os comensais durante até três dias.
Como uma das regiões de cozinha mais diversa, por dispor de ricos recursos agrícolas e do peixe de seu litoral, a meridional Cantão dirá adeus ao "Ano do Carneiro" com carne, peixe, macarrão frio de arroz com nabos secos, sopas de fruto de lotos e outras iguarias.
"Cozinharemos o que chamamos pratos fortes, como porco, frango, peixe, mas não incluiremos 'jiaozi' (um tipo de ravioli recheado de carne ou verdura e acompanhado de molho de soja)", disse à Efe a cantonesa Lorraine Luo.
Se tivesse incluído os "jiaozi", a tradição exigiria que Luo e sua família os cozinhassem juntos nesse dia, um elaborado processo que, segundo a tradição, aumenta a harmonia familiar e durante o qual esconderiam uma moeda em um deles para que quem a encontre tenha boa sorte durante o ano.
A ampla variedade nos banquetes de Cantão também contrasta com a frugalidade do sul de Fujian, no leste do país, onde a primeira refeição do ano novo será um macarrão muito fino e longo chamado "xian mian", que "simboliza a longevidade", disse à Efe Lin Li, fã da comida saborosa, mas suave e mole, de sua terra.
"Desde menina, a cada ano novo cozinhamos xian mian, que comemos com dois ovos para estar em paz", disse Lin, revelando um ingrediente chave de cada prato: a superstição que os acompanha.
Em Hunan, lar natal de Mao Tsé-tung, cuja comida favorita era o "hongshao rou" (porco vermelho assado, literalmente), um coquetel de pedaços de carne de lombo suíno caramelizados com açúcar, vinho de arroz, amendoins e especiarias, o mais habitual é saciar-se nesta noite com bolinhos de arroz, mas este não será o caso de Deng Ying.
Ela e seus parentes têm, conforme contou à reportagem, "uma tradição especial".
"Não comemos o bolinho de arroz, mas servimos um peixe que não pode ser comido até 15 dias depois, no Festival da Lanterna (que marca o fim das festividades do Ano Novo)".
A tradição de Deng é similar à de Xu em Anhui e em outras partes da China, onde apresentar mais alimentos do que o devido encontra sentido em um país ainda marcado pelas letais crises de fome que provocaram na década de 1960 o "Grande Salto Adiante" de Mao para desenvolver a indústria pesada em detrimento do campo.
Nas províncias vizinhas Jiangsu e Zhejiang, a última refeição do ano lunar será um prato formado por aipo, alho-poró e brotos de bambu que simboliza a permanência, e em Shandong, também no leste do país e famosa por sua comida fresca, leve e aromática, será cozida uma massa sem recheio de carne para preservar a paz e a pureza.
Talvez um dos pratos mais pesados será servido em Sichuan, no sul e famosa por sua cozinha picante, quando à noite se toma "hot pot", também conhecido como "fondue chinês" por se tratar de um conjunto de alimentos cozidos na mesma mesa em um recipiente com caldo quente e preparado com especiarias.
Ao amanhecer, os sichuaneses comerão no café da manhã "jiaozis" doces, em homenagem ao encontro com seus entes queridos no também chamado Festival de Primavera, às vezes a única ocasião do ano na qual as famílias se reúnem na China.
Sobretudo por essa razão, o menu do Ano Novo Lunar será cuidado com carinho nas celebrações de todo o país, onde a gastronomia é o eixo dos eventos familiares de uma cultura também milenar em seus sabores. EFE
pav/id/ma
Pequim, 7 fev (EFE).- A gastronomia é uma parte crucial das festividades da China, especialmente durante o Ano Novo Lunar - "chunjie", em mandarim -, no qual as variadas tradições culinárias ao longo do país se transformam no destaque deste dia especial.
Quando na noite de 7 para 8 de fevereiro se comemora a chegada do ano novo na China, desta vez sob o influxo do "Macaco de Fogo", Xu Fei e sua família, oriundos da província de Anhui, no leste do país, levarão à mesa no final do banquete um peixe inteiro, uma carpa, de aspecto excelente e apetitoso.
No entanto, nem Xu ou seus parentes provarão um pedaço dele, já que "peixe" e "sobra" são homônimos em mandarim ("yu"), e a carpa, contou Xu à Efe, "desaparecerá intacta da mesa", sob a crença de que assim acabará e começará bem o ano, e em sinal de abundância frente à escassez de épocas passadas.
A culinária de Anhui é uma das oito mais clássicas da China, junto com as de Cantão, Fujian, Hunan, Jiangsu, Zhejiang, Shandong e Sichuan, regiões que, apesar de compartilharem o afeto pela harmonia de sabores e a combinação de frio e quente, diferem no que se refere ao "menu estrela" de Ano Novo.
Enquanto Xu terá que resistir a degustar pelo menos esse peixe, em alguns lugares de Cantão os moradores não pouparão em opções e aproveitarão a noite com os chamados "alimentos de mil anos", expressão que se refere a uma série de pratos preparados para abastecer os comensais durante até três dias.
Como uma das regiões de cozinha mais diversa, por dispor de ricos recursos agrícolas e do peixe de seu litoral, a meridional Cantão dirá adeus ao "Ano do Carneiro" com carne, peixe, macarrão frio de arroz com nabos secos, sopas de fruto de lotos e outras iguarias.
"Cozinharemos o que chamamos pratos fortes, como porco, frango, peixe, mas não incluiremos 'jiaozi' (um tipo de ravioli recheado de carne ou verdura e acompanhado de molho de soja)", disse à Efe a cantonesa Lorraine Luo.
Se tivesse incluído os "jiaozi", a tradição exigiria que Luo e sua família os cozinhassem juntos nesse dia, um elaborado processo que, segundo a tradição, aumenta a harmonia familiar e durante o qual esconderiam uma moeda em um deles para que quem a encontre tenha boa sorte durante o ano.
A ampla variedade nos banquetes de Cantão também contrasta com a frugalidade do sul de Fujian, no leste do país, onde a primeira refeição do ano novo será um macarrão muito fino e longo chamado "xian mian", que "simboliza a longevidade", disse à Efe Lin Li, fã da comida saborosa, mas suave e mole, de sua terra.
"Desde menina, a cada ano novo cozinhamos xian mian, que comemos com dois ovos para estar em paz", disse Lin, revelando um ingrediente chave de cada prato: a superstição que os acompanha.
Em Hunan, lar natal de Mao Tsé-tung, cuja comida favorita era o "hongshao rou" (porco vermelho assado, literalmente), um coquetel de pedaços de carne de lombo suíno caramelizados com açúcar, vinho de arroz, amendoins e especiarias, o mais habitual é saciar-se nesta noite com bolinhos de arroz, mas este não será o caso de Deng Ying.
Ela e seus parentes têm, conforme contou à reportagem, "uma tradição especial".
"Não comemos o bolinho de arroz, mas servimos um peixe que não pode ser comido até 15 dias depois, no Festival da Lanterna (que marca o fim das festividades do Ano Novo)".
A tradição de Deng é similar à de Xu em Anhui e em outras partes da China, onde apresentar mais alimentos do que o devido encontra sentido em um país ainda marcado pelas letais crises de fome que provocaram na década de 1960 o "Grande Salto Adiante" de Mao para desenvolver a indústria pesada em detrimento do campo.
Nas províncias vizinhas Jiangsu e Zhejiang, a última refeição do ano lunar será um prato formado por aipo, alho-poró e brotos de bambu que simboliza a permanência, e em Shandong, também no leste do país e famosa por sua comida fresca, leve e aromática, será cozida uma massa sem recheio de carne para preservar a paz e a pureza.
Talvez um dos pratos mais pesados será servido em Sichuan, no sul e famosa por sua cozinha picante, quando à noite se toma "hot pot", também conhecido como "fondue chinês" por se tratar de um conjunto de alimentos cozidos na mesma mesa em um recipiente com caldo quente e preparado com especiarias.
Ao amanhecer, os sichuaneses comerão no café da manhã "jiaozis" doces, em homenagem ao encontro com seus entes queridos no também chamado Festival de Primavera, às vezes a única ocasião do ano na qual as famílias se reúnem na China.
Sobretudo por essa razão, o menu do Ano Novo Lunar será cuidado com carinho nas celebrações de todo o país, onde a gastronomia é o eixo dos eventos familiares de uma cultura também milenar em seus sabores. EFE
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