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Roma mostra parte da necrópole na qual São Paulo foi enterrado

02/02/2016 06h02

Gonzalo Sánchez.

Roma, 2 fev (EFE).- Roma começou a exibir neste último final de semana o sepulcro da via Ostiense, parte integrante de uma necrópole muito mais ampla e que ainda permanece sepultada e inexplorada na qual, segundo a tradição, foi enterrado o apóstolo São Paulo.

A abertura ao público deste sítio arqueológico inscreve-se nos atos do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, convocado pelo papa Francisco até o próximo dia 20 de novembro.

As visitas, gratuitas, acontecem uma vez ao mês até junho e serão explicadas pelos técnicos da superintendência cultural da prefeitura romana.

Estes restos, ao ar livre desde que foram desenterrados em 1917, são "uma pequena porção de uma ampla necrópole na qual foi enterrado o mártir São Paulo", segundo explicou à Agência Efe a arqueóloga Cristina Carta.

A maior parte desta área de sepulcros permanece soterrada e, como lembrança de sua remota existência, atualmente pode ver-se este sepulcro e, alguns metros mais adiante, a imponente Basílica de São Paulo, onde foi enterrado o apóstolo após ser decapitado por Nero, naqueles anos de perseguições e cultos clandestinos.

Agora o visitante poderá percorrer os becos que compõem este sepulcro e adentrar nos estreitos mausoléus familiares que o compõem.

A necrópole esteve em funcionamento entre o século I a.C. e IV d. C e se estendia ao longo da via Ostiense, a que ligava o coração da Roma "caput mundi" com o importante porto de Ostra.

A via Ostiense era há dois milênios um movimentado caminho percorrido pelas várias pessoas que chegavam à capital do Império vindas de vários lugares e, mostra disso, são algumas lápides com inscrições em grego.

Além disso, podem ser visitadas as austeras salas nas quais eram depositadas as cinzas dos mortos, os columbários, mas também os ricos receptáculos reservados às mais notáveis "gens".

Em qualquer caso, tanto os enterros mais pobres como os mais ricos desta área dão mostra da importância que a morte tinha na idiossincrasia romana.

O visitante poderá descobrir as delicadas decorações que sobreviveram à passagem dos séculos e que reproduzem em assombroso bom estado iconografias como a pomba, o peru real e o pégaso, símbolos todos da passagem para o além.

Mas se o sepulcro de via Ostiense é importante é porque, segundo a arqueóloga, "oferece uma documentação pontual sobre o passagem do ritual da incineração para o da inumação (sepultamento)", dois rituais vigentes de maneira simultânea durante "muito tempo".

A maior parte deste local é destinado a acolher cinzas, mas seu nível mais recente documenta o uso do sepultamento.

O ponto de inflexão acontece a partir do século II, quando se impôs o rito do enterro devido à preponderância que estava adquirindo a nova religião, o Cristianismo, em prejuízo dos credos pagãos politeístas, condenados à extinção.

"Todas as áreas sepulcrais representam uma importante documentação tanto do ponto de vista do estudo dos grupos sociais e das técnicas construtivas e decorativas, como dos rituais usados dentro destes recintos", explicou Cristina.

Entre os objetos achados estão os usados durante ritos como o "refrigerium", o banquete que era feito em torno do morto, ou o óbolo a Caronte, a moeda que se deixava sob a língua do morto para que este pagasse sua viagem para o além.

Também várias falanges já que os romanos achavam que uma parte de seu corpo devia permanecer intacta no mundo dos vivos, razão pela qual era depositada junto a suas cinzas nas urnas funerárias.

Seja como for, Cristina assegurou que esta necrópole foi, sem dúvida, um espaço extenso que acolheu vários enterros, entre eles o do "apóstolo dos gentios", São Paulo.

Com o fim das perseguições, no começo do século IV, o imperador Constantino construiu uma basílica sobre o local no qual os cristãos veneravam a memória de São Paulo, enterrado em uma necrópole por sua condição de cidadão romano.

Este templo foi evoluindo com a passagem dos séculos e nele pode ser visto um sarcófago no qual segundo a Igreja Católica repousam os restos mortais do apóstolo.