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"Agências de viagens tribais" garantem segurança de turistas no Sinai

01/02/2016 06h01

Edu Marín.

Wadi al Jasala (Egito), 1 fev (EFE).- Com orçamento e estrutura muito menores que os das grandes agências de turismo com atuação no Egito, tribos beduínas do sul da península do Sinai organizam viagens guiadas para que seus clientes esqueçam o medo e respirem natureza em uma região onde elas mesmas garantem que seus clientes estão a salvo de terroristas.

Excluídos da indústria turística regrada de cidades próximas como Sharm el-Sheikh ou Dahab, os beduínos, filhos destas terras e cujas raízes os mantêm arraigados a elas, resistem a acreditar que suas montanhas sejam perigosas, apesar de recentes acontecimentos envolvendo terroristas na região.

Por isso, eles organizam há muito tempo viagens nas quais mostram a turistas egípcios e estrangeiros as maravilhas de seu lugar de origem e que, segundo eles, nada tem a ver com grupos extremistas islâmicos.

"No norte (do Sinai) há alguns problemas com estas organizações (jihadistas) que lutam contra o exército, mas aqui, no sul, não temos nada disso", disse a um grupo de jornalistas Amsalam Farach, beduíno organizador de uma viagem deste tipo e chamada "Sinai is Safe 3" ("Sinai é Seguro 3").

Esta terceira edição esteve a ponto de ser suspensa devido à queda de um avião com 224 pessoas a bordo - em sua maioria turistas russos - em 31 de outubro na Península do Sinai pouco após sua decolagem, em Sharm el-Sheikh. O episódio ganhou repercussão mundial.

Apesar de tanto a Rússia como o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) apontarem que a causa da queda foi uma bomba colocada dentro da aeronave, o governo egípcio ainda não deu, quase três meses depois do ocorrido, uma resposta oficial.

Na viagem promovida por Farach, trabalharam juntas pela primeira vez as três tribos do sul do Sinai - Tarabin , Yabaliya e Mazeina -, o que, segundo ele, infunde mais segurança, porque assim "não há espaço para nenhum estranho".

"Todo mundo aqui cuida do turismo, porque é o nosso negócio. Trabalhamos aqui e não vemos nenhum perigo, é por isso que convidamos as pessoas, dizemos que o Sinai é seguro. Vivemos aqui, nesta maravilhosa paisagem que nos cerca, estas montanhas. Todo mundo conhece todo mundo neste lugar", afirmou Farach.

Para ajudar a transmitir esta mensagem além de suas terras, Ben Hoffler, um britânico que há sete anos toma chá com os beduínos do Sinai, lhes dá uma mão.

Este consultor para ONGs, que também colabora com as tarefas logísticas das viagens, considera que o sul do Sinai está "muito bem protegido" pelos próprios beduínos, que "monitoram os principais caminhos de suas terras, dia e noite, e têm muitas redes de informações".

Além disso, acrescentou que não há possibilidade de as tribos colaborem com terroristas.

"Elas estão muito arraigadas a sua terra e a sua família. Abandonar a tribo e entrar em uma organização é algo muito grande, e no sul o sistema tribal é muito forte e mantém as pessoas unidas", contou.

Esse sentimento de filiação dos beduínos e o fato de que conheçam a areia pela que caminham como a palma de sua mão é o que faz os turistas que confiam em agentes de viagem como Farach a relativizar ameaças como a que causou a derrubada do avião russo.

"Não foi a primeira bomba colocada em um avião nos últimos anos, portanto não quero dizer que há algo ruim no Egito", disse à Agência Efe Mary Guergues, uma professora da capital Cairo que participou da expedição.

Entre os paredões do Closed Canyon e do White Canyon estão imensas planícies e oásis em meio aos quais Hoffler se disse incapaz de encontrar um mínimo de insegurança, digam o que disserem "a imprensa, os especialistas e o governo".

"Não é verdade o que está se dizendo e posso mostrar porque o vejo com meus próprios olhos. Me canso quando vejo escrever essas coisas, sem nenhuma base, gente que pensa que tem experiência. Não acredito que tenham, pelo menos nesta parte do Sinai", argumentou.

Também nesse sentido, Farach afirmou que é melhor contar com a experiência de três tribos autóctones trabalhando juntas do que com a de supostos especialistas que estão a milhares de quilômetros de distância.

"As pessoas agora estão começando a se dar conta de que as coisas que aparecem na televisão e nos jornais parecem maiores do que são na realidade", concluiu.