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Biblioteca Vaticana quer mais pesquisadores para derrubar fama de "secreta"

AP Photo/L"Osservatore Romano
Imagem: AP Photo/L'Osservatore Romano

Cristina Cabrejas.

05/01/2016 06h02

Não há nada secreto, não há nada inacessível e não se parece em nada com um romance de Dan Brown, explicam logo de cara os responsáveis pela Biblioteca Vaticana, que querem atrair mais pesquisadores para explorar os milhões de documentos do arquivo dos papas.

A Biblioteca Apostólica Vaticana - com seus 1.600.000 livros, 8.400 deles incunábulos (livros impressos nos primeiros tempos da imprensa com tipos móveis, não escritos à mão), e outras centenas de milhares de estampas, fotografias e desenhos que a tornam uma das maiores e mais fascinante do mundo - quer acabar com sua fama de "secreta" e "impenetrável".

"Está claro que não se pode deixar todo mundo entrar. Mas isto acontece em qualquer grande biblioteca importante, onde estão aguardados importantes volumes", declarou à Agência Efe a espanhola Angela Núñez Gaitán, diretora do departamento de restauração da Biblioteca Vaticana.

Para poder consultar tanto a Biblioteca Vaticana como o Arquivo Secreto do Vaticano, onde ficam guardados os documentos vinculados à Santa Sé e aos pontífices, é necessário reunir uma série de requisitos e justificar a necessidade de "tocar com as mãos" os delicados volumes e manuscritos.

"A grande diferença para o resto das obras de arte e objetos antigos é que o livro precisa ser tocado, é preciso virar suas páginas para que revelem sua beleza, e isso pode danificá-lo para sempre", explicou Angela, que chefia um dos departamentos mais importantes da biblioteca.

"Não pode ser apenas pelo fetichismo de ter um incunábulo nas mãos", acrescentou ela, que tem a responsabilidade de conservar o valioso patrimônio vaticano pelos próximos anos.

A maioria dos documentos da Biblioteca Vaticana, assim como os que já foram desclassificados do Arquivo Secreto do Vaticano, foi digitalizada ou será em breve, podendo ser consultada na internet. Mesmo assim, seus corredores repletos de prateleiras estão abertos a qualquer consulta.

"Gostaríamos de que mais pessoas viessem à biblioteca", afirmou à Efe a secretária desta instituição apostólica, Raffaella Vincenti.

Ela destacou que "existe um aumento" nestes últimos anos dos pedidos para realizar consultas, "pois os estudiosos que vinham eram já mais velhos e pouco a pouco vão morrendo".

"(Os livros) Estão abertos a todos os pesquisadores, para aqueles que estão fazendo tese de doutorado ou, em alguns casos, inclusive a universitários", salientou.

Mas cada vez mais são menos os que pedem poder consultar um livro dos arquivos vaticanos nas duas salas de consultas disponíveis.

A mais austera é a da área dos manuscritos, onde em seu teto chama a atenção o escudo pontifício de Sisto V, o papa que encarregou o arquiteto Domenico Fontana de realizar um grandioso projeto de ampliação da então pequena biblioteca.

A área de consultas dos livros, a chamada Sala Leonina, construída em dois níveis, é imponente, adornada pela estátua de São Tomás de Aquino, uma das maiores figuras da teologia.

Como qualquer biblioteca, esta também tem suas "carteirinhas" para permitir o acesso.

"No último ano emitimos quase 900 novas carteiras e renovamos outras 1.500", declarou com orgulho Raffaella, acrescentando que neste ano 14.000 leitores entraram nas salas de estudo - uma média de 74 pessoas por dia.

Os estudiosos que chegam à Biblioteca Vaticana vêm de todo o mundo, em sua maioria de Itália e Estados Unidos, seguidos por franceses, alemães e espanhóis.

Para aqueles que não tenham as carteirinhas, a biblioteca organiza de vez em quando exposições como a que promoveu após sua restauração em 2010, depois de três anos de fechamento.

Naquela ocasião, foi exposta para todos os visitantes sua peça mais valiosa e antiga: dois dos papiros de Bodmer (o 14 e o 15), descobertos no Egito em 1952, datados entre os anos 170 e 220 depois de Cristo e que contêm parte dos Evangelhos de São Mateus e de São João.

Para aqueles que consigam entrar, outra joia a explorar é a cafeteria da biblioteca, construída respeitando os destroços da fonte que o arquiteto renascentista Donato Bramante tinha projetado para um dos pátios do palácio vaticano.