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Abóbadas do Museu do Ouro de Bogotá escondem segredos milenares

05/12/2015 10h20

Carlos Meneses Sánchez.

Bogotá, 5 dez (EFE).- As aproximadamente oito mil peças que estão expostas no Museu do Ouro, em Bogotá, fundado em 1939, são apenas uma parte mínima do patrimônio que a Colômbia abriga nos depósitos deste local repleto de tesouros que nunca viram a luz e entre os quais destacam-se múmias conservadas com perfeição.

"O interessante dos depósitos é que cada vez que você abre uma gaveta encontra algo diferente. É muito difícil conhecer toda a coleção aqui", comentou o arqueólogo Juan Pablo Quintero, que trabalha para o museu há quase seis anos.

A coleção completa do Museu do Ouro, propriedade do Banco da República da Colômbia e que, além de Bogotá, tem outras seis delegações no país, tem um total de 54 mil peças de pedra, ouro, cerâmica, madeira e tecido. Desse número, uma grande parte está guardada em dois depósitos, denominados abóbadas.

Os trabalhos de cerâmica e ouro estão nas entranhas da principal sede do museu na capital colombiana e cujo acesso é restrito e tem rígidas medidas de segurança. Quem tem a oportunidade de entrar se sente em um filme de James Bond.

São muitas portas e uma só se abre depois que a outra se fecha. Além disso, para ter acesso, é preciso olhar fixamente para a câmera de segurança para que a equipe dê o sinal o verde para a passagem para a próxima sala.

Na sala das cerâmicas, criada em 2004, 15 mil objetos - todos que não tem elementos de ouro - impecavelmente organizados pelo tipo de material e a data de chegada estão distribuídos em armários, que se movimentam por trilhos e que são classificados geograficamente.

Em um dos lados desta sala se encontra uma espécie de sarcófago de polietileno, feito sob medida e com respiradores, com várias múmias, a maioria nunca exposta ao público.

"Esta ainda tem o cérebro. Conseguimos descobrir porque fizemos tomografias recentemente", explicou Quintero ao falar da menina de 13 anos mumificada em posição fetal e que veio acompanhada com um copo de cerâmica e 40 tunjos (figuras antropomorfas) de cobre.

O bom estado de conservação da jovem múmia, que chegou ao museu nos anos 80, levantou a suspeita de que pudesse se tratar de um sacrifício humano, já que a menina conserva o cabelo preto intacto, assim como os dedos das minúsculas mãos.

A antropóloga Ana María González, também funcionária do museu, declarou que a mumificação variava conforme o lugar. Segundo ela, o processo dos egípcios é diferente do feito na cultura pré-hispânica.

Apesar de ninguém poder ficar muito tempo nos depósitos, frequentemente o lugar recebe os "mamos", líderes espirituais de comunidades indígenas, que realizam festas, fazem oferendas e rituais, chamados de "limpas", nas salas das exposições abertas ao público e nos estoques, pois as coleções "também pertencem a eles", destacou Ana María.

Por outro lado, na abóbada de peças de ouro, cujo acesso é ainda mais restrito, há "pelo menos 25 mil" e de diferentes ligas de metais.

Os encarregados deste enorme tesouro guardado em um mar de chaves e fechaduras deram autorização para tirar da abóbada três gavetas que continham pectorais de ouro da cultura Calima correspondentes ao período Yotoco (200 a.C. a 900 d.C.) e 50 cascavéis com distintas representações, típicas dos Tayrona (900 d.C 1600 d.C.).

Segundo Ana María, a informação que existe sobre a coleção "é pouca", e, por isso o museu se diz aberto a receber todos os pesquisadores de disciplinas afins para apresentarem suas ideias e estudos com o propósito de esclarecer os mistérios que ainda se encerram no interior de suas gavetas.

"Aqui, tem coisa para se pesquisar durante centenas de anos", concluiu Ana María.