Livro retrata presença e influência de Santa Teresa de Ávila no Brasil

Rio de Janeiro, 4 dez (EFE).- Santa Teresa de Jesús, a religiosa, mística e escritora espanhola que fundou a ordem das carmelitas descalças no século XVI, tem uma importante presença e influência no Brasil de hoje, segundo um livro editado pela embaixada da Espanha em Brasília e lançado nesta sexta-feira no Rio de Janeiro.

"Santa Teresa de Ávila no Brasil", uma obra de 168 páginas em edição bilíngue (espanhol e português), reúne sete ensaios que abordam desde a influência da religiosa espanhola na literatura, na pintura e na religião no Brasil até a presença física das carmelitas no país.

O livro inclui textos de especialistas em literatura, história, artes, religião e até freiras do convento de Santa Teresa, assim como uma participação especial da escritora Nélida Piñon.

A obra foi lançada como um dos últimos atos de comemoração pelo V centenário da santa e também pelos 450 anos da fundação do Rio de Janeiro e pelos 300 anos do nascimento de Jacinta de São José, fundadora do convento carioca de Santa Teresa, o primeiro centro das freiras carmelitas no Brasil.

E é precisamente este convento, que dá o nome a um dos bairros mais bucólicos e tradicionais do Rio de Janeiro e cujas freiras inspiram um dos mais chamativos blocos do carnaval carioca, o que abriu a entrada a Santa Teresa no Brasil e o ponto de partida do livro.

"A ideia nasceu pela minha admiração pelo bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro e pela curiosidade que surgiu quando soube a origem de seu nome", relatou a doutora em filologia Begoña Sáez Martínez, assessora de Educação da Embaixada da Espanha no Brasil e quem coordenou a edição e apresentou um artigo sobre a introdução e as traduções das obras de Santa Teresa no país.

Sáez Martínez não só buscou cada um dos autores que poderia dar uma visão brasileira sobre a santa espanhola em suas respectivas áreas como conseguiu que as carmelitas lhe abrissem as portas de seu convento no Rio para que pudesse consultar as obras lá guardadas.

"É um livro diferente não só por abordar a importante presença de Santa Teresa no Brasil, mas por sua visão pluridisciplinar, e será sem dúvida uma referência nos estudos sobre Teresa de Ávila no Brasil", disse o diretor do Instituto Cervantes no Rio de Janeiro, Óscar Pujol, anfitrião no ato de lançamento do livro.

O cônsul da Espanha no Rio de Janeiro, Manuel Salazar Palma, destacou por sua vez a particularidade da "visão brasileira" sobre a escritora e religiosa que é considerada como máxima expoente, junto com San Juan de la Cruz, da literatura mística espanhola do Século de Ouro.

Piñón, imortal da Academia Brasileira das Letras, abre a obra com uma exposição de sua relação com uma escritora que diz admirar desde a adolescência. A escritora revelou durante o lançamento que há 40 anos tem um projeto para escrever um livro que combina ficção e história sobre uma das mulheres que a inspirou a escrever, porque lhe mostrou que, inclusive com as dificuldades que enfrentou como mulher em sua época, "é possível resistir e ser capaz de deixar uma obra".

A imortal admitiu que diferentes dificuldades a impediram de viajar em sua juventude à Espanha "para rastrear os caminhos de Teresa e ver os lugares nos quais criou sua obra".

Piñón acrescentou que contou sobre esse plano à embaixadora do México no Brasil, Beatriz Paredes, e que vem recebendo da política mexicana constantes e insistentes propostas de apoio à iniciativa, mas que já não tem mais "a forma física para andar pelo mundo por trás desses projetos".

O livro também inclui um artigo da teóloga e especialista teresiana Lúcia Pedrosa-Pádua sobre as dimensões da religiosa como mulher, escritora e professora espiritual.

O historiador Dante Gallian, diretor do Centro de História e Filosofia da Universidade Federal de São Paulo, abordou a história desde suas origens até a fundação do convento de Santa Teresa, cuja pedra fundamental foi colocada em 1750.

A influência de Teresa de Ávila em diferentes e grandes escritores brasileiros, incluindo Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz, Cecilia Meireles e a própria Nélida Piñon, foi retratada em um ensaio da catedrática de literatura María de la Concepción Piñero.

A influência da religiosa na pintura colonial no Nordeste do Brasil foi o tema escolhido pela historiadora da arte e a arquitetura Roberta Bacellar Orazem.

A socióloga e especialista em religiões Silvia Fernandes fez uma comparação entre a experiência mística de Santa Teresa com as das religiões afro-brasileiras como a Umbanda e o Candomblé.

O livro termina com um texto elaborado pelas freiras do convento de Santa Teresa sobre a referência que têm da fundadora da ordem. EFE

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