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Cientistas israelenses descobrem como os ancestrais comiam há 400 mil anos

29/11/2015 06h02

Daniela Brik.

Jerusalém, 29 nov (EFE).- Dentes humanos encontrados em uma caverna em Israel, usada por nossos ancestrais há 400 mil anos, jogam luz sobre os costumes pré-históricos de alimentação, muito distantes de como comemos atualmente em torno de uma mesa.

Uma equipe da Universidade de Tel Aviv analisou meticulosamente dentes humanos pré-históricos encontrados na caverna de Qesem, localizada no centro de Israel em 2000, e elaborou a partir deles o padrão de comportamento sobre o que os nossos ancestrais comiam, com que potência mastigavam e como cortavam os alimentos antes de levá-los à boca.

O desgaste e pequenas fissuras presentes nos dentes permitiram que os cientistas reconstruíssem como os alimentos eram cortados em pequenos pedaços antes de serem ingeridos.

O procedimento consistia em pegar um pedaço de carne de tamanho considerável com uma mão e mordê-lo com força em uma das extremidades. Com a outra mão, se usava pedras com bordas afiadas para cortá-la ou rasgá-la, fazendo com que, dessa forma, o indivíduo pudesse ingerir um pedaço razoável.

A estratégia, porém, tinha seus riscos. E os menos experientes poderiam acabar cortando as bochechas, gengivas e até mesmo os próprios dentes, provocando as fissuras que despertaram a curiosidade dos pesquisadores.

"Vimos que havia pequenos cortes na parte exterior do dente e que foram feitas com ferramentas como rochas duras ou sílica, com as quais cortavam a comida e, na 'manobra', podiam se machucar", explicou à Agência Efe Rachel Sarig, antropóloga e dentista da Universidade de Tel Aviv, que liderou o estudo publicado neste mês na revista científica "Quaternary International".

Graças às marcas deixadas nos dentes pelos primitivos utensílios de cozinha, analisadas com microscópios eletrônicos, os pesquisadores foram capazes de reconstruir o padrão de comportamento da alimentação, garantiu a cientista.

O estudo analisou 13 dentes pertencentes a 12 indivíduos diferentes, em sua maioria crianças ou jovens adultos.

A grande quantidade de arranhões, sua forma e localização similar levaram a equipe a descartar a possibilidade de que as marcas fossem feitas após a morte por animais ou fenômenos naturais.

Outra das conclusões sugere que os hominídeos empregavam uma grande potência para mastigar: "Tinham músculos muito desenvolvidos e isto se deve à combinação de comidas duras e uma alta capacidade muscular".

Prova disso é o amplo desgaste dos dentes, apesar de pertencerem a jovens. E sugere que eles tinham, além disso, uma dieta muito abrasiva. Segundo Sarig, isso significa que a consistência da comida era dura e requeria muita mastigação ao não estar composta somente por proteínas animais, mas também vegetais e sementes.

Mas os dentes ainda não revelaram que tipo de hominídeo viveu na caverna de Qesem. A falta de restos mortais humanos de importância no local gera dúvidas nos arqueólogos israelenses.

"As pessoas que viveram nesta região há 400.000 anos eram hábeis e capazes de caçar diferentes animais, selecionar partes do corpo da presa, cozinhá-las (encontraram a evidência mais antecipada do uso de fogo controlado) e depois consumir as partes selecionadas", contou à Efe Ran Barkaí, arqueólogo que participou do estudo.

O atraso na ingestão das partes de alta qualidade da presa indica que a carne era compartilha com outros membros do grupo.

Qesem se transformou desde sua descoberta em uma mina de pequenas ferramentas de pedra, geralmente recicladas de outra de maior tamanho e que foram empregadas para cortar e despedaçar como utensílios de cozinha rudimentares.

"O foco desta atividade ocorria em uma área central da caverna, onde se assava a carne e se comia em pequenos pedaços", disse Barkai ao ressaltar a grande quantidade de ossos de animais com marcas de cortes causados pelas ferramentas, o que indica que eram cortados.

Os arqueólogos consideram o habitante de Qesem um elo intermediário entre o Homo erectus e o Neardenthal, pois com ambos compartilha afinidades, das quais que se tem poucas evidências.

"Sabemos uma mínima parte de todas as atividades que realizavam na caverna, mas sim que a habitaram durante 250 mil anos, o que em si representa uma forma de sobrevivência bem-sucedida do ponto de vista evolutivo", concluiu o pesquisador.