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Proposta de ensino do árabe em escolas de Israel recebe sinal verde

10/11/2015 06h05

Daniela Brik.

Jerusalém, 10 nov (EFE).- Em meio à crescente tensão entre israelenses e palestinos, o parlamento de Israel aprovou uma proposta para que o árabe se transforme em língua obrigatória de estudo para crianças a partir de 6 anos de idade.

O plenário votou no final de outubro a favor do projeto legislativo em primeira leitura, após um incomum debate sobre quais devem ser as razões para que o árabe, uma das línguas oficiais de Israel, seja uma disciplina obrigatória no currículo escolar.

O idealizador da medida, Oren Hazan, deputado pelo partido conservador Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acredita que o idioma deve ser ensinado a todos os alunos israelenses com a esperança de que sirva para melhorar as relações entre a majoritária comunidade judaica e a minoria árabe - de origem palestina - que habita o país.

"Quando você aprende a língua do outro, entende sua cultura e é mais fácil o entrosamento. Se nos conhecermos uns aos outros, será mais fácil viver aqui juntos", argumentou, partindo de uma premissa tão simples quanto inovadora em um estado que nasceu há 67 anos.

Além de ressaltar que se trata de uma língua imprescindível em uma região habitada por milhões de falantes de árabe, o legislador defende que, na atual situação, o conhecimento mútuo das línguas deve ser voltado a diminuir suspeitas e mal-entendidos.

"Quando um israelense (judeu) escuta alguém falar em árabe no ônibus, por exemplo, em seguida passa a ter medo. Devemos conhecer a língua do outro para compreender que também falam de futebol, de coisas cotidianas e acabar com as falsas crenças", disse.

Descendente de judeus procedentes da Tunísia e do Marrocos, e ele mesmo estudante de árabe coloquial, Hazan defende que esta língua é um legado cultural vinculado a muitas famílias judias árabes e lamenta que as novas gerações não a dominem.

Recuperar essa bagagem cultural foi um dos argumentos usados no debate prévio à votação pela deputada árabe Hanín Zoabi, do partido Balad, que integra a Lista Árabe Unida, terceira maior força parlamentar.

Ela defende, paradoxalmente em hebraico, que o árabe não deve fazer parte apenas do currículo dos estudantes de escolas judias, mas ser inserido no currículo padrão porque "também faz parte da cultura judaica". Os chamados árabes-israelenses são descendentes dos palestinos que ficaram em suas regiões quando o Estado judeu foi estabelecido em 1948, contam com cidadania israelense e representam, aproximadamente, 20% da população.

Tanto o árabe quanto o hebraico são idiomas oficiais em Israel, a diferença é que a maior parte dos árabes com cidadania israelense fala o hebraico, mas o árabe não é estendido entre a população judaica e usado apenas por alguns acadêmicos, jornalistas, militares e veteranos descendentes de judeus de países árabes.

Ambos os idiomas aparecem nas sinalizações de estradas e instituições públicas, assim como em escritórios do governo e documentos oficiais. No entanto, o árabe quase não é ouvido nos debates parlamentares, pois a maioria dos deputados árabes prefere que os demais legisladores ouçam o hebraico sem a necessidade de tradução.

Além disso, no país o árabe deve ser estudado durante pelo menos três horas por semana do 7º ao 10º ano em escolas judias, mas ainda existem muitos colégios que não possuem a matéria, segundo o jornal digital "Times of Israel".

Paralelamente, apesar de o hebraico ser a língua mais comum e estudada nos centros educativos árabes durante vários anos, muitos alunos desta comunidade têm dificuldade na hora de usá-lo para escrever ou falar, conforme uma reportagem apresentada pelo "Channel 10" da televisão israelense.

O ensino do árabe faz parte do programa de centros bilíngues que defendem a coexistência entre os dois povos, assim como de programas educativos piloto e planos de estudos desenhados em coordenação com o exército, com o objeto de incluir os alunos mais destacados em unidades de inteligência.

O deputado Ayman Odeh, representante da Lista Árabe Unida, disse à Agência Efe que apoia "plenamente a iniciativa", mas ressaltou que "tristemente não parece que o governo vá até o final".

Por enquanto, ela conta com o sinal verde do titular de Educação, o ultranacionalista Naftali Bennett, e deve agora ser analisada em uma comissão parlamentar antes de retornar à Câmara para sua segunda e terceira leituras, para, então, ganhar a autorização final.