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Chile afirma que há "versões opostas" sobre a morte do poeta Pablo Neruda

Pablo Neruda morreu após o golpe de estado no Chile - Divulgação
Pablo Neruda morreu após o golpe de estado no Chile Imagem: Divulgação

Santiago do Chile

05/11/2015 21h53

O governo do Chile disse nesta quinta-feira que existem "versões opostas" sobre a morte do poeta Pablo Neruda em 1973, motivo pelo qual segue investigando o caso para tentar "chegar a um veredito judicial definitivo".

O Programa de Direitos Humanos do Ministério do Interior do Chile, que é parte da investigação judicial, enviou um comunicado respondendo a uma informação divulgada pelo jornal espanhol "El País" hoje, que cita um relatório oficial desse órgão que afirma que "é altamente provável" que Neruda tenha sido assassinado.

"Como querelante no processo, o órgão sustentou que 'dos fatos credenciados no expediente, é claramente possível e altamente provável a intervenção de terceiros em sua morte'", disse a nota.

No entanto, o Programa de Direitos Humanos explica que com essa afirmação, incluída no documento revelado pelo "El País", não busca antecipar conclusões, algo que é responsabilidade dos tribunais.

Segundo o comunicado do órgão estatal, o documento divulgado pelo "El País" faz parte de um relatório que o Programa de Direitos Humanos enviou ao juiz Mario Carroza, que está à frente das investigações para esclarecer as causas da morte de Neruda, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1971.

"Esse documento faz parte do segredo do processo e não foi vazado, entregue em confidência ou de nenhuma outra forma a veículo de comunicação algum", disse o Programa de Direitos Humanos.

Segundo o jornal espanhol, o órgão chileno disse no relatório enviado ao juiz que é possível concluir que "apesar de Neruda sofrer de um câncer de próstata, (...) não se estabeleceu então, nem durante o curso da investigação, que a morte tenha se produzido em decorrência da doença".

Além disso, o texto destaca que diante das persistentes dúvidas, o governo do Chile realizou "dois painéis internacionais e interdisciplinares de especialistas". O último deles, realizado em outubro, teve como objetivo continuar realizando as perícias que permitam chegar a uma conclusão científica sobre a morte do poeta.

"Nenhum dado ou peça de evidência parcial deve distrair a opinião pública da obrigação de esperar o veredito do Tribunal de Justiça do Chile, que é quem tem o poder de determinar a verdade nesse doloroso caso", conclui o comunicado.

Carroza disse ao "El País" que segue "à espera do resultado de um último teste científico" relacionado à presença de "um estafilococo dourado", um micro-organismo altamente agressivo e resistente à penicilina, que foi encontrado no corpo de Neruda.

Familiares do poeta chileno afirmaram no início de outubro que estão convencidos que alguém injetou a bactéria em Neruda enquanto ele estava internado na Clínica Santa Maria, um hospital administrado pelos militares.

A descoberta da bactéria ocorreu em maio, após perícias realizadas pelo Centro de Ciências e Técnicas Legistas da Universidade de Múrcia, na Espanha.

O juiz responsável pelo caso procura esclarecer se Neruda, morto na própria clínica no dia 23 de setembro de 1973, pouco depois do golpe de Augusto Pinochet, foi vítima do câncer ou de terceiros por meio de algum elemento estranho aos remédios para tratar a doença.

Os restos mortais do poeta foram exumados em abril de 2013.

A investigação começou em 2011 por causa de uma denúncia do Partido Comunista do Chile, baseada em afirmações de Manuel Araya, ex-motorista de Neruda, à revista mexicana "Proceso".

Araya disse que o poeta tinha sido envenenado por agentes da ditadura por meio de uma injeção fornecida na clínica em que ele estava internado.

Neruda morreu quando se preparava para viajar ao México, a convite do então presidente do país, Luis Echeverría, e, segundo Araya, para liderar a oposição a Pinochet.