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Museu de Roterdã redescobre vida cotidiana do século XVI em sua pintura

16/10/2015 10h06

María López Fontanals.

Roterdã (Holanda), 16 out (EFE).- O Museu Boijmans van Beuningen de Roterdã redescobre neste semestre o mundo cotidiano do século XVI através da pintura de artistas como El Bosco, Bruegel e Lucas van Leyden.

"De El Bosco a Bruegel - Descobrindo a vida cotidiana" recolhe cerca de 40 obras, que também incluem manuscritos e objetos cotidianos, além de pinturas e gravuras, para mostrar a revolução que protagonizaram três gerações de artistas holandeses que encontraram na vida cotidiana uma fonte de inspiração.

Trata-se de obras artísticas que, longe de apresentar cenas costumeiramente ordenadas, refletem um mundo "politicamente incorreto" carregado de ironia, humor, jogos de palavras e detalhes.

"Durante séculos as pinturas a óleo só representavam cenas religiosas, temáticas vinculadas ao poder, à realeza e retratos; no entanto, uma série de artistas entre os quais encontramos El Bosco, Bruegel e Lucas van Leyden, começaram a se interessar pela vida cotidiana e a representar cenas do dia a dia", explicou à Agência Efe um dos curadores da exposição, Friso Lammertse.

"É a primeira exposição que indaga sobre esta temática na pintura e, embora às vezes nos esqueçamos, somente no século XVI que a vida cotidiana começa a fazer parte das representações artísticas", acrescentou.

A peça central da exposição, que viajou do Museu do Prado de Madrid até Roterdã depois de mais de 450 anos, é o "Carro de Feno" de Jerónimo de El Bosco, a primeira pintura da história da arte que reproduz cenas cotidianas.

A tela central do tríptico, dedicado ao pecado, representa a humanidade arrasada pelo pecado em torno de uma carruagem cheio de feno, e lembra um provérbio flamengo que diz que "o mundo é como um carro de feno e cada um pega o que pode".

Na tela esquerda, El Bosco representa a origem do mundo e na da direita, o inferno. O conjunto, fechado, mostra um idoso peregrino que percorre uma vida carregada de perigos.

O "Carro de Feno", que voltará a Madri para a exposição que o Museu do Prado prepara sobre o artista holandês a partir de junho, viajará antes a Den Bosch, concretamente ao Museu Het Noordbrabants.

O motivo da mudança é a exposição "Jerónimo Bosco. Visões de um gênio", a maior retrospectiva do artista na Holanda, realizada no aniversário dos 500 anos de sua morte.

Lammertse reconhece que em seus 20 anos trabalhando no Museu de Roterdã este é o empréstimo mais importante que viveu. Incluir o "Carro de Feno" na exposição era "imprescindível", porque "das 25 obras mais ou menos que conservamos de El Bosco, esta é a única que trata esta temática, algo que ainda a torna mais especial".

"Além disso, é a primeira vez que o público holandês verá o tríptico porque saiu da Holanda há mais de 450 anos e não voltou até agora", assinalou o especialista.

"Não sabemos exatamente quem o comprou, mas sim sabemos que Felipe II o comprou de Felipe de Guevara. Mas antes desta transação não sabemos quem o adquiriu de El Bosco. Acreditamos que foi uma pessoa espanhola", explicou.

Junto a obras de El Bosco, o visitante poderá desfrutar de pinturas de outros artistas como Lucas van Leyden, Quinten Massys, Pieter Bruegel e Jan Sanders van Hemessen, que, seguindo a linha de El Bosco, também abordaram a temática da vida cotidiana.

A maioria das cenas que poderão ser vistas nesta exposição são satíricas, com lições morais, mas também brincadeiras sobre sexo, alcoolismo e miséria.

Um mundo de prostíbulos, festas, camponeses e charlatães que poderá ser visitado no Museu Boijmans van Beuningen de Roterdã até o dia 17 de janeiro de 2016.

Como parte das atividades da exposição, a equipe de conservadores do Boijmans van Beuningen realizarão seus trabalhos de restauração da obra "São Cristóvão" de El Bosco, à vista de todos os visitantes. EFE

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