Defensores de animais combatem tradição de matar galos no Yom Kippur
Elías L. Benarroch.
Jerusalém, 22 set (EFE).- Milhares de judeus realizam para o Yom Kippur o ancestral ritual da expiação mediante o sacrifício de um galo ou de uma galinha, uma cerimônia que tem perdido popularidade diante da possibilidade de costumes mais modernos e das crescentes queixas dos defensores dos animais.
O costume, que segundo alguns remonta aos sacrifícios no Templo de Jerusalém e para outros ao mundo das superstições na baixa Idade Média, consiste em degolar uma ave para que ela leve os maus agouros e sirva de expiação aos pecados do ano que passou.
"A ideia é que todos os pecados passem para o animal", disse à Agência Efe um homem em Israel após realizar o ritual em que o 'shojet' (pessoa capacitada pelo rabinato para matar os animais) pega a ave pelas asas e, antes de passar habilmente pelo pescoço uma faca afiada, pronuncia três vezes a ancestral oração.
"Este é meu substituto, este é minha mudança, esta é minha expiação, este galo/galinha será degolado e eu serei selado para a boa vida e para a paz", canta o fiel, ou o 'shojet', em uma breve cerimônia que o profissional repete centenas de vezes enquanto passa a ave acima da cabeça de seu cliente em meio a um incessante cacarejo.
O costume, que existe há séculos, despertou a oposição dos sábios mais prestigiados do judaísmo, entre eles os sefarditas Maimônides - para quem parecia "obra do emoreo" (eufemismo para idolatria), e Yosef Caro - que pediu sua abolição em sua obra prima "Shuljan Aruj", 'vade mecum' da prática judia desde o século XVI.
"É uma tradição de milhares de anos, e sabemos que se pode fazer o rito de outras formas - com dinheiro ou peixes, entre elas - mas assim faziam nossos pais e nossos avós", se justificou o também ortodoxo Shmuel, que sacrificou hoje sua ave no mercado do bairro ultra-ortodoxo de Mea Shearim.
Uma ave por cada membro da família, diz a tradição; galo ou galinha segundo o sexo; dois - um para cada um, para o caso de uma gravidez, inclusive se o sexo do bebê já é conhecido.
O Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário hebreu, que começa amanhã à noite, é o dia de expiação em que os crentes pedem perdão a deus por suas ofensas (pelas realizadas a outras pessoas devem pedir perdão diretamente ao seu alvo) e que os inscreva no livro da vida.
Para se submeter ao julgamento divino do modo mais puro possível, observam um estrito jejum de 26 horas, vão em massa às sinagogas e vestem calçados de lona em sinal de humildade.
As chamadas "kaparot" (expiações), assim como as grandes rezas noturnas nas sinagogas e no Muro das Lamentações nos dez dias anteriores, fazem parte de um costume que para muitos é difícil de abolir.
A verdade é que, diante das tradições milenares, na conservadora Jerusalém pouco valem as recomendações de grandes rabinos, ONGs ou do Ministério da Agricultura, que nas últimas duas semanas realiza uma campanha para que os galos sejam substituídos pela doação aos pobres.
"Faz cinco anos que estamos no galinheiro, à espera do inevitável", diz um galo em uma animação divulgada constantemente pela televisão, rádio e internet.
Após expor a angústia dentro do galinheiro, uma ave a ponto de ser sacrificada se rebela e levanta a voz pelos direitos dos animais, proclamando a gritos: "Yom Kippur é um dia de responsabilidade mútua. Este ano façam a expiação com dinheiro!".
Os principais meios ultra-ortodoxos se negaram a publicar o anúncio, o que obrigou o Ministério a pendurar grandes cartazes por todos os bairros da cidade.
O anúncio inclui uma reunião do "Shuljan Aruj" a favor da doação com dinheiro e, em sua versão digital, também um link que adverte para os perigos para a saúde pública de realizar a cerimônia em espaços públicos não autorizados.
O Ministério, assim como algumas ONGs, ressaltaram ainda o sofrimento das aves nas gaiolas dos mercados à espera de serem sacrificadas, às vezes após longas horas sob o sol.
No último domingo ativistas atacaram uma revista rabínica da cidade de Ashdod, ao sul de Tel Aviv, e jogaram água nas gaiolas para refrescar os animais, uma ação de protesto de um grupo ecologista.
Como alternativa extrema aos mais intransigentes, propuseram cumprir o ritual com um frango de plástico, embora o mais progressista movimento internacional Chabad Lubavitch, de caráter ultra-ortodoxo messiânico, apela há anos a todos os crentes deixando em sua caixa do correio uma carta sobre a doação.
Claro, como só podia ser, com a tradicional imagem de um galo na parte da frente do postal.
Jerusalém, 22 set (EFE).- Milhares de judeus realizam para o Yom Kippur o ancestral ritual da expiação mediante o sacrifício de um galo ou de uma galinha, uma cerimônia que tem perdido popularidade diante da possibilidade de costumes mais modernos e das crescentes queixas dos defensores dos animais.
O costume, que segundo alguns remonta aos sacrifícios no Templo de Jerusalém e para outros ao mundo das superstições na baixa Idade Média, consiste em degolar uma ave para que ela leve os maus agouros e sirva de expiação aos pecados do ano que passou.
"A ideia é que todos os pecados passem para o animal", disse à Agência Efe um homem em Israel após realizar o ritual em que o 'shojet' (pessoa capacitada pelo rabinato para matar os animais) pega a ave pelas asas e, antes de passar habilmente pelo pescoço uma faca afiada, pronuncia três vezes a ancestral oração.
"Este é meu substituto, este é minha mudança, esta é minha expiação, este galo/galinha será degolado e eu serei selado para a boa vida e para a paz", canta o fiel, ou o 'shojet', em uma breve cerimônia que o profissional repete centenas de vezes enquanto passa a ave acima da cabeça de seu cliente em meio a um incessante cacarejo.
O costume, que existe há séculos, despertou a oposição dos sábios mais prestigiados do judaísmo, entre eles os sefarditas Maimônides - para quem parecia "obra do emoreo" (eufemismo para idolatria), e Yosef Caro - que pediu sua abolição em sua obra prima "Shuljan Aruj", 'vade mecum' da prática judia desde o século XVI.
"É uma tradição de milhares de anos, e sabemos que se pode fazer o rito de outras formas - com dinheiro ou peixes, entre elas - mas assim faziam nossos pais e nossos avós", se justificou o também ortodoxo Shmuel, que sacrificou hoje sua ave no mercado do bairro ultra-ortodoxo de Mea Shearim.
Uma ave por cada membro da família, diz a tradição; galo ou galinha segundo o sexo; dois - um para cada um, para o caso de uma gravidez, inclusive se o sexo do bebê já é conhecido.
O Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário hebreu, que começa amanhã à noite, é o dia de expiação em que os crentes pedem perdão a deus por suas ofensas (pelas realizadas a outras pessoas devem pedir perdão diretamente ao seu alvo) e que os inscreva no livro da vida.
Para se submeter ao julgamento divino do modo mais puro possível, observam um estrito jejum de 26 horas, vão em massa às sinagogas e vestem calçados de lona em sinal de humildade.
As chamadas "kaparot" (expiações), assim como as grandes rezas noturnas nas sinagogas e no Muro das Lamentações nos dez dias anteriores, fazem parte de um costume que para muitos é difícil de abolir.
A verdade é que, diante das tradições milenares, na conservadora Jerusalém pouco valem as recomendações de grandes rabinos, ONGs ou do Ministério da Agricultura, que nas últimas duas semanas realiza uma campanha para que os galos sejam substituídos pela doação aos pobres.
"Faz cinco anos que estamos no galinheiro, à espera do inevitável", diz um galo em uma animação divulgada constantemente pela televisão, rádio e internet.
Após expor a angústia dentro do galinheiro, uma ave a ponto de ser sacrificada se rebela e levanta a voz pelos direitos dos animais, proclamando a gritos: "Yom Kippur é um dia de responsabilidade mútua. Este ano façam a expiação com dinheiro!".
Os principais meios ultra-ortodoxos se negaram a publicar o anúncio, o que obrigou o Ministério a pendurar grandes cartazes por todos os bairros da cidade.
O anúncio inclui uma reunião do "Shuljan Aruj" a favor da doação com dinheiro e, em sua versão digital, também um link que adverte para os perigos para a saúde pública de realizar a cerimônia em espaços públicos não autorizados.
O Ministério, assim como algumas ONGs, ressaltaram ainda o sofrimento das aves nas gaiolas dos mercados à espera de serem sacrificadas, às vezes após longas horas sob o sol.
No último domingo ativistas atacaram uma revista rabínica da cidade de Ashdod, ao sul de Tel Aviv, e jogaram água nas gaiolas para refrescar os animais, uma ação de protesto de um grupo ecologista.
Como alternativa extrema aos mais intransigentes, propuseram cumprir o ritual com um frango de plástico, embora o mais progressista movimento internacional Chabad Lubavitch, de caráter ultra-ortodoxo messiânico, apela há anos a todos os crentes deixando em sua caixa do correio uma carta sobre a doação.
Claro, como só podia ser, com a tradicional imagem de um galo na parte da frente do postal.
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