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A maldição do Sathorn Unique Tower: o arranha-céu inacabado de Bangcoc

15/09/2015 06h06

Noel Caballero.

Bangcoc, 15 set (EFE).- O esqueleto abobadado do Sathorn Unique Tower, um imponente arranha-céu inacabado, mostra a estrutura deteriorada e oxidada e que para alguns também é amaldiçoada depois que a obra foi paralisada há quase 20 anos em Bangcoc.

"O edifício está enfeitiçado. Tem fantasmas e espíritos dentro dele. É uma obra amaldiçoada que nunca vai terminar" afirmou Pattanarong Chaivilit, proprietária de um restaurante a poucos metros do prédio, à beira do rio Chao Phraya, que atravessa a capital tailandesa.

No início dos anos 90, em plena turbulência especulativa que desembocou na crise econômica asiática de 1997, o arquiteto tailandês Rangsan Torsuwan lançou seu projeto mais ambicioso: o Sathorn Unique Tower.

O projeto, com uma espetacular entrada repleta de enormes colunas coríntias e arcos de dez metros de altura, seria um luxuoso edifício residencial de 47 andares e 600 apartamentos às margens do Chao Phraya.

Uma acusação de tentativa de homicídio, em 1994, provocou a primeira suspenção das obras quando o arquiteto foi posto sob custódia policial. Alguns meses depois, Rangsan conseguiu sair da prisão pagando fiança e retomou o projeto, ao mesmo tempo em que deu início a um processo judicial para limpar sua reputação, que ainda hoje não terminou.

Em julho de 1997, quando a construção estava 90% pronta, a desvalorização da moeda tailandesa produziu um efeito dominó que desembocou em uma profunda crise econômica em vários países da Ásia. Na Tailândia, a consequência foi uma contração da economia de 10% em 1998.

"Para nossa desgraça, a companhia financeira que nos adiantou o dinheiro foi uma das afetadas e o organismo governamental criado para reestruturar o setor a absorveu", lembrou Pansit Torsuwan, filho do arquiteto e atual dono da empresa construtora.

O imbróglio jurídico e os processos que surgiram em ambas as direções entre provedores financeiros e a construtora fizeram com que a construção fosse novamente interrompida e assim está até hoje.

"Nos pedem para ajudar no 'plano de reabilitação', mas isto deixaria famílias e credores quase de mãos vazias", ressaltou Pansit.

Em dezembro, peritos da prefeitura de Bangcoc garantiram que a estrutura continua estável e segura, apesar do tempo que está parada e concedeu a extensão da permissão de construção aos proprietários.

"Quando herdei o trabalho, quatro ou cinco anos depois da crise, pensei que seria fácil terminar o prédio em seis meses. Agora, sei que nunca terminarei o edifício sozinho", lamentou.

Apesar das várias tentativas para recomeçar a obra e a busca por novos parceiros que forneçam o capital, com o passar do tempo, o aumento dos custos de reparação e construção dispararam o orçamento estimado para mais de 1 bilhão de baht (cerca de R$ 106,5 milhões).

O Sathorn Unique, que nos últimos dias foi usado para exibir um enorme outdoor de uma famosa marca de celular, se transformou em uma popular atração para turistas e exploradores urbanos que entram de maneira ilegal nas entranhas da estrutura ignorando as advertências de segurança.

O teto, por exemplo, desabou perante a falta de manutenção, enquanto o mato brota entre as fendas.

Algumas portas foram arrancadas e despedaçadas ao longo dos profundos corredores pouco iluminados pelo sol, onde abundam os trabalhos de grafiteiros e os escombros amontoados.

Um fotógrafo encontrou em dezembro do ano passado o corpo de um homem que, segundo a posterior investigação policial, se descobriu ser um turista sueco que se suicidou no edifício.

Em declarações à emissora "Thai PBS", o fotógrafo disse que subornou com 100 baht (pouco mais de R$ 10) um segurança da "torre fantasma" para poder fotografar o amanhecer da capital tailandesa.

O Sathorn Unique Tower, que faz parte da lista dos 40 edifícios mais altos de Bangcoc com quase 185 metros de altura, assistiu impávido como nos últimos 20 anos a maioria das 300 obras paralisadas pela crise foi finalizada em uma megacidade que conta com 750 arranha-céus de mais de 30 andares.