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Mestre da abstração geométrica expõe obras que buscam silêncio em São Paulo

12/09/2015 12h23

Daniel Muñoz.

São Paulo, 12 de setembro (EFE).- Na busca de um instante de silêncio em meio ao "barulho visual" da contemporaneidade, o artista argentino César Paternosto, ícone da abstração geométrica, inaugurou neste sábado em São Paulo sua mais recente exposição, na qual procura oferecer ao público um momento de "meditação".

Localizada na Dan Galeria, no coração do bairro de Jardins, a exposição do artista octogenário reúne obras com sua maneira singular de pintar vazios brancos com "apenas uma nota de cor", como descreveu seu estilo o próprio Paternosto à Agência Efe.

Seu objetivo é fazer com que o público circule pelo ambiente da exposição para assim ter diferentes perspectivas.

Batizada pelo artista como 'O Som do Silêncio', a exposição recebeu esse nome pelo gosto de Paternosto de pintar enquanto escuta música, especialmente contemporânea, o que sempre foi uma de suas paixões, contou o artista.

"O que quero evocar principalmente são essas notas soltas da música moderna, que vão criando silêncios", explicou Paternosto, acrescentando que também escuta "muito jazz" durante seu processo de trabalho e, inclusive, "às vezes" alguns tangos de seu "juventude".

Paternosto assinalou que suas obras não devem ser consideradas simples quadros para serem contemplados, mas objetos que fazem parte da arquitetura que as rodeia, razão pela qual não devem ser encarados apenas frontalmente.

O artista explicou que sua visão da arte geométrica parte da busca do valor mais ancestral do desenho: a linha, que já se manifestava como expressão artística nas sociedades mais antigas da civilização, segundo Paternosto.

O pintor argentino afirmou que teve essa revelação durante uma visita que fez nos anos 70 ao Peru, onde ficou fascinado pelo minimalismo artístico que se podia ver no trabalho realizado pelos incas já no século XV.

Desta maneira, o artista procura que as pessoas possam chegar a ter um "momento de paz e de silêncio".

Apesar de ter vivido nos Estados Unidos e de morar atualmente na cidade espanhola de Segóvia, o artista não ocultou seu lado argentino e revelou que, em muitas de suas obras, encontrou a si mesmo "recuperando alguns títulos dos contos de Borges".

"Tenho esta referência de um criador que, da Argentina, influenciou grandes escritores de todo o mundo; minha inspiração é acompanhar essa sofisticação que Borges tinha, mas na pintura", comentou Paternosto.

Em suas obras expostas em São Paulo, o argentino utilizou apenas tinturas brancas, pretas, vermelhas e amarelas, pois "buscava os primeiros pigmentos aos quais a humanidade teve acesso", tentando encontrar esse "vermelho ancestral".

"Minha arte tem muita conexão com a arquitetura", ressaltou, antes de acrescentar que "as obras geométricas se adaptam melhor aos locais públicos que as estátuas equestres com espadas, que eram parte de nosso passado".

Com esta mostra, sua segunda exposição própria no Brasil, Paternosto não tem nenhum receio da recepção do público local devido à "tradição concreta e geométrica" do país, como mostram os trabalhos de Lygia Clark e Hélio Oiticica, artistas brasileiros que o argentino admirava em sua juventude.

A exposição permanecerá aberta ao público durante exatamente um mês, até o dia 12 de outubro.