Em Madri, Juca Ferreira diz que cultura precisa de modernização no Brasil


O ministro da Cultura Juca Ferreira garantiu nesta quinta-feira (9), em entrevista à Agência Efe em Madri, que "o esforço de democratizar a cultura" no Brasil "não é um lema vazio" e que seus instrumentos para isso são o diÔlogo e a participação de todos.
Ferreira, que realiza uma visita Ć capital espanhola, participou de um evento organizado pela Secretaria Ibero-Americana (Segib) com o tĆtulo de "Brasil Remix: Modernização e Democratização da Cultura".
Segundo o ministro, a cultura no Brasil precisa de "modernização" porque o mundo estÔ "avançando muito rapidamente desde o fim do século passado, em grande parte pelas novas tecnologias".
Para Ferreira, o governo tem "a obrigação de modernizar as relações entre o Estado e a população para acompanhar esse processo de transformação muito acelerado em todos os âmbitos da cultura".
No Brasil "pouco mais" de 5% da população jĆ” entrou em um museu e "algo em torno" de 13% vai ao cinema. SĆ£o nĆŗmeros que "dentro do processo de democratização do paĆs, nos impƵem uma estratĆ©gia muito poderosa para fortalecer o acesso Ć cultura, que esteja disponĆvel para toda a população", relatou o sociólogo.
Juca Ferreira assumiu o MinistĆ©rio da Cultura no inĆcio de 2015. Trata-se de seu retorno Ć pasta, que ocupou entre 2008 e 2010, no segundo mandato de Luiz InĆ”cio Lula da Silva, Ć©poca na qual ambos realizaram uma "verdadeira revolução cultural", de acordo Ferreira.
O ministro considerou que foi um perĆodo no qual o governo "ampliou o conceito de cultura". "Toda a produção humana passou a nos interessar, e ampliamos muito a ação e os conceitos do MinistĆ©rio", disse. "Eu diria que foi o lado mais encantador da democratização do Brasil", afirmou com um sorriso o ministro e sociólogo de 66 anos.
Desde que deixou o MinistĆ©rio pela primeira vez, Ferreira comentou que o paĆs mudou muito e que "nĆ£o existe a possibilidade de fazer o mesmo". Para o ministro, nĆ£o só Ć© preciso retomar os programas que "tinham sido abandonados ou enfraquecidos", mas tambĆ©m "iniciar um conjunto de estratĆ©gias novas", nas quais o atual governo estĆ” trabalhando.
Participação de artistas
E, para isso, Ferreira tem uma visĆ£o muito clara dos instrumentos que poderĆ” utilizar. A polĆtica, para o ministro, "nĆ£o pode ser feita dentro dos despachos, Ć© preciso dialogar e Ć© necessĆ”ria a participação de artistas, produtores culturais, empresĆ”rios. Todo esse mundo precisa ser incorporado na construção, execução e avaliação das polĆticas culturais".
Juca Ferreira disse que nĆ£o se pode pensar no desenvolvimento de um paĆs "apenas avaliando a dimensĆ£o econĆ“mica e produtiva". A cultura, e com ela a educação, Ć© central "para se compreender a complexidade do mundo no sĆ©culo 21", opinou.
Mas, alĆ©m disso, a cultura precisa ter um aporte orƧamentĆ”rio necessĆ”rio, por isso estĆ” tramitando no Brasil --ainda de acordo com o ministro-- um projeto no qual se propƵe que um mĆnimo de 2% do orƧamento seja destinado Ć cultura, o que "Ć© pouco, mas Ć© muito, e significaria hoje quadruplicar o orƧamento" nesta matĆ©ria.
Embaixador especial da Segib de 2011 a 2012, Ferreira Ć© um claro defensor da cooperação entre os paĆses de regiĆ£o ibero-americana em todos os Ć¢mbitos e, devido ao cargo que ocupa, insiste no aspecto cultural.
"O Brasil Ć© um paĆs que tem uma importĆ¢ncia global. (O presidente americano, Barack) Obama acaba de dizer que (o Brasil) Ć© um 'player' global, nĆ£o somente regional, e esta Ć© uma constatação real, mas nós estamos inseridos na AmĆ©rica Latina e temos muitos espaƧos de inserção."
Ferreira defendeu a colaboração em todos os campos culturais. "Criar mercados comuns, sistemas de coprodução, criar uma possibilidade de troca cultural maior", pois - segundo Juca Ferreira - é "ruim, é péssimo" que os filmes espanhóis e argentinos cheguem ao Brasil por meio de produtoras americanas.
"Constituir um mundo ibero-americano, eu acho que Ć© uma tarefa importante para sobreviver e que nos desenvolvamos dentro de um mundo globalizado", concluiu Juca Ferreira.