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Escritor queniano diz na Flip que daria Prêmio Nobel a Jorge Amado

04/07/2015 01h00

O escritor queniano Ngugi wa Thiong'o, um dos mais famosos candidatos a levar o Prêmio Nobel de Literatura nos últimos anos, confessou na sexta-feira (3) que, se pudesse, daria este prêmio a Jorge Amado.

"Infelizmente, eles não dão prêmios 'post mortem', mas Jorge Amado é um grande autor e gostei muito de 'Gabriela, cravo e canela'", explicou Thiong'o, que participa nesta semana da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

O autor, que está pela primeira vez na América do Sul, garante que, por causa de Amado, quando pensa no Brasil, pensa na Bahia. "Achei incrível o sentimento e os personagens e tive a sensação de que o lugar me era familiar", comentou.

Thiong'o destacou o elo entre o continente africano e a Bahia, onde grande parte da população "tem origem em países como Angola, Congo e Benin", mas também ressaltou que gostaria "de viajar mais (pelo Brasil) e ver mais gente negra, cujos ancestrais africanos construíram Paraty e muitos outros lugares".

Nesse sentido, o escritor queniano não só afirmou que gostaria ver "mais intercâmbio econômico, cultural e intelectual" entre as duas regiões, mas também ressaltou que "as pessoas negras foram tornadas invisíveis no mundo todo" e acrescentou que devemos lembrar "que os negros construíram a América, construíram o Brasil".

Essa vontade de reivindicar a própria cultura foi o que levou o autor a deixar o catolicismo, a abandonar a língua inglesa e a adotar o idioma gikuyu, com o qual escreveu parte de seu romance 'Pétalas de sangue', em 1977.

Reconhecido por seu ativismo político, Thiong'o chegou inclusive a escrever sua obra 'O diabo na cruz' em papel higiênico enquanto estava na prisão e onde apenas lhe davam uma caneta quando garantia que precisava se confessar.

Uma trajetória que lhe rendeu a indicação ao Prêmio Nobel de Literatura em várias ocasiões, apesar de que, para ele "o verdadeiro Nobel é o que recebo de leitores, que me dizem que meu livro significa tal coisa para eles". "Isso sim que é 'nobre'", comentou.

O autor, que vive exilado nos Estados Unidos, é um dos principais escritores da Flip, que acontece em Paraty até no próximo domingo e neste ano homenageia o imortal Mario de Andrade.