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Roteirista de "As Horas" diz que Hollywood não aceita escritores no comando

04/07/2015 00h37

O dramaturgo inglês David Hare, indicado ao Oscar em duas ocasiões, afirmou na sexta-feira (3) que o crescente sucesso das séries de televisão se deve ao fato de "o roteirista ser o principal artista", mas que Hollywood ainda resistem a dar espaço aos escritores: "os diretores de Hollywood não aceitam que os escritores estejam no comando".

Hare, um dos principais nomes da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), assegurou em entrevista coletiva que os autores "estão tomando o poder" nas telas, mas afirmou que o teatro jamais conseguirá a "velocidade narrativa" de produções como "Mad Men" e "House of Cards", que vêm conquistando milhões de espectadores.

Conhecido por suas obras de tom político, Hare se mostrou contundente ao dizer: "Meu trabalho teve algum efeito na política? David Cameron e o governo de extrema direita que temos são a resposta".

O roteirista de 'As Horas' (2003) e 'O Leitor' (2008), que ostenta o título de 'Sir', se mostrou, no entanto, encorajado porque "pelo menos haverá um registro de que nem todo mundo está de acordo com quais são os valores da sociedade na qual vivo".

A melhor forma de reclamar é, para Hare, a dramaturgia, já que confessou não estar "interessado em escrever romances" porque nunca quis "fazer descrições".

Segundo Hare, "discutir sobre a sociedade no teatro não é incomum na Inglaterra" e que a "vantagem do teatro é que você tem uma rápida resposta" do público, um 'feedback' que o encanta quando consegue arrancar a cultura "do pequeno gueto" no qual se esconde.

No entanto, o dramaturgo não se deixa levar quando alguém lhe diz que suas obras transformaram sua vida, pois, disse que sabe que eles "querem ser agradáveis comigo, mas pode ter sido uma tempestade que mudou seu estilo de vida".

Hare acrescentou que adora quando lhe dizem que "sua obra fez com que eu me tocasse que não estava louco porque acreditava que era a única pessoa que pensava assim".

Sir David Hare é, aos seus 67 anos, um dos poucos que ainda dizem usar caderno e caneta para escrever, já que - em sua opinião - a tecnologia "piorou as coisas". "Agora tudo ficou chato e os livros são muito grandes, um acúmulo de palavras que se examina. Sou totalmente contrário a escrever em um computador", concluiu.

Hare participa neste sábado de um encontro com o público da Flip.