Descoberta de navio naufragado honra memória de escravos africanos
Marcel Gascón.
Johanesburgo, 2 jun (EFE).- A África do Sul lembra nesta terça-feira os mais de 400 escravos moçambicanos que viajavam no navio português São José-Paquete da África, uma embarcação com destino ao Brasil que naufragou há mais de 200 anos no litoral da Cidade do Cabo.
Os destroços da embarcação escravista, que afundou ao chocar-se com uma rocha dois dias depois do Natal de 1794, foram apresentados hoje no Museu Iziko da Cidade do Cabo para celebrar este achado histórico, o do primeiro navio acidentado com escravos a bordo.
"É a primeira prova concreta do uso de pessoas do leste da África no comércio transatlântico de escravos", afirmou à Agência Efe Melissa Scheepers, do Museu Iziko, destacando a relevância científica da descoberta porque até agora só havia documentos que provavam este fato.
Este êxito arqueológico é responsabilidade do Slave Wrecks Project (SWP), fruto da colaboração entre o Iziko, a Agência Sul-Africana de Patrimônio, a Universidade George Washington e o recém criado Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana dos Estados Unidos.
A primeira prova física da existência do São José-Paquete da África remonta ao anos 80, quando exploradores de tesouros marítimos encontraram restos do navio, que foi identificado então como uma embarcação holandesa.
Anos depois, em 2011, o arqueólogo do Iziko, Jaco Boshoff, encontrou nos arquivos do Cabo uma declaração judicial sobre o naufrágio do capitão do São José, que o fez reunir dados e concluir que o navio holandês era na realidade esta embarcação escravista procedente de Moçambique.
Documentos achados em arquivos portugueses e moçambicanos - sobre a carga do navio ao partir de Lisboa e a compra de escravos no país africano, respectivamente - confirmaram pouco depois a teoria de Boshoff, segundo contam fontes do museu sul-africano.
Seguindo o delicado processo científico que permite conservar em bom estado todos os objetos para seu posterior estudo, os destroços do naufrágio foram trazidos à superfície, o que permitirá reconstruir os detalhes das condições nas quais viajavam escravos e traficantes.
Segundo informações dos arquivos, a tripulação foi resgatada e levada a terra, assim como, aproximadamente, metade dos escravos, que foram revendidos na Cidade do Cabo e para quem a salvação só representou uma mudança de donos.
A outra metade dos moçambicanos morreu entre as violentas ondas do Atlântico, muito longe das plantações brasileiras de cana de açúcar, seu destino quando embarcaram em 3 de dezembro de 1794.
"É realmente um lugar diante do qual se deve abaixar a cabeça em sinal de respeito, um lugar no qual refletir sobre todos os que fizeram essa viagem, sobre todos os que morreram", comentou o diretor do Museu de História Afro-Americana, Lonnie G. Bunch, sobre o local de descoberta do navio.
Os objetos coletados do fundo do Atlântico serão cedidos durante dez anos pelo Iziko à instituição dirigida por Bunch, que abrirá suas portas ao público o ano que vem em Washington.
"Está projetado quase como um memorial", afirmou Bunch sobre a maneira em que os destroços do navio serão expostos no museu.
Entre o material achado no litoral da Cidade do Cabo, utilizado frequentemente como escala pelos navios que navegavam entre o Índico e o Atlântico, há algemas e correntes para imobilizar os escravos, além de diversas ferramentas de ferro e de madeira utilizadas no funcionamento da embarcação.
Johanesburgo, 2 jun (EFE).- A África do Sul lembra nesta terça-feira os mais de 400 escravos moçambicanos que viajavam no navio português São José-Paquete da África, uma embarcação com destino ao Brasil que naufragou há mais de 200 anos no litoral da Cidade do Cabo.
Os destroços da embarcação escravista, que afundou ao chocar-se com uma rocha dois dias depois do Natal de 1794, foram apresentados hoje no Museu Iziko da Cidade do Cabo para celebrar este achado histórico, o do primeiro navio acidentado com escravos a bordo.
"É a primeira prova concreta do uso de pessoas do leste da África no comércio transatlântico de escravos", afirmou à Agência Efe Melissa Scheepers, do Museu Iziko, destacando a relevância científica da descoberta porque até agora só havia documentos que provavam este fato.
Este êxito arqueológico é responsabilidade do Slave Wrecks Project (SWP), fruto da colaboração entre o Iziko, a Agência Sul-Africana de Patrimônio, a Universidade George Washington e o recém criado Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana dos Estados Unidos.
A primeira prova física da existência do São José-Paquete da África remonta ao anos 80, quando exploradores de tesouros marítimos encontraram restos do navio, que foi identificado então como uma embarcação holandesa.
Anos depois, em 2011, o arqueólogo do Iziko, Jaco Boshoff, encontrou nos arquivos do Cabo uma declaração judicial sobre o naufrágio do capitão do São José, que o fez reunir dados e concluir que o navio holandês era na realidade esta embarcação escravista procedente de Moçambique.
Documentos achados em arquivos portugueses e moçambicanos - sobre a carga do navio ao partir de Lisboa e a compra de escravos no país africano, respectivamente - confirmaram pouco depois a teoria de Boshoff, segundo contam fontes do museu sul-africano.
Seguindo o delicado processo científico que permite conservar em bom estado todos os objetos para seu posterior estudo, os destroços do naufrágio foram trazidos à superfície, o que permitirá reconstruir os detalhes das condições nas quais viajavam escravos e traficantes.
Segundo informações dos arquivos, a tripulação foi resgatada e levada a terra, assim como, aproximadamente, metade dos escravos, que foram revendidos na Cidade do Cabo e para quem a salvação só representou uma mudança de donos.
A outra metade dos moçambicanos morreu entre as violentas ondas do Atlântico, muito longe das plantações brasileiras de cana de açúcar, seu destino quando embarcaram em 3 de dezembro de 1794.
"É realmente um lugar diante do qual se deve abaixar a cabeça em sinal de respeito, um lugar no qual refletir sobre todos os que fizeram essa viagem, sobre todos os que morreram", comentou o diretor do Museu de História Afro-Americana, Lonnie G. Bunch, sobre o local de descoberta do navio.
Os objetos coletados do fundo do Atlântico serão cedidos durante dez anos pelo Iziko à instituição dirigida por Bunch, que abrirá suas portas ao público o ano que vem em Washington.
"Está projetado quase como um memorial", afirmou Bunch sobre a maneira em que os destroços do navio serão expostos no museu.
Entre o material achado no litoral da Cidade do Cabo, utilizado frequentemente como escala pelos navios que navegavam entre o Índico e o Atlântico, há algemas e correntes para imobilizar os escravos, além de diversas ferramentas de ferro e de madeira utilizadas no funcionamento da embarcação.
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