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Diretor de "Senna" lança documentário sobre Amy Winehouse em Cannes

17/05/2015 18h19

Enrique Rubio.

Cannes (França), 17 mai (EFE).- Em um jantar com executivos do mundo espetáculo, alguém fez uma brincadeira sobre quanto tempo Justin Bieber demoraria até morrer. Outro se perguntou quem se importa com a falecida Amy Winehouse. E um terceiro sugeriu ao diretor de cinema Asif Kapadia: "Por que não faz um filme sobre essa 'junkie'?".

O britânico Kapadia, que apresentou seu documentário "Amy" neste domingo no Festival de Cannes, está convencido que atualmente há casos como o de Amy Winehouse - morta em 2011 aos 27 anos por uma intoxicação etílica - se repetindo em todos os países.

"Enquanto fazíamos este filme, o número de jovens estrelas do cinema que morreu é enorme. O médico de Amy me escrevia e-mails e ia contando: 'Outro, e outro, e outro'. Muitos deles se transformam em estrelas aos 11 anos e se suicidam", disse Kapadian em um encontro com jornalistas internacionais.

Seu filme retrata uma jovem extremamente sensível que jamais conseguiu tomar as rédeas de sua vida, algo que, segundo seu diretor, é bastante mais comum do que parece no "show business".

Sua tremenda fragilidade e vulnerabilidade fizeram da cantora e compositora britânica um alvo fácil dos abusos de seu entorno, que se centrava basicamente em explorar economicamente seu talento.

"O que mais me chocou ao fazer o filme é o quão jovens eram todos, porque conheci seus amigos e acabam de completar 30 anos, e só agora estão começando a crescer um pouco. Na época tinham 20 ou 22 anos, ela tinha meio milhão de libras e ninguém lhe dizia não. Ela podia fazer o que quisesse", comentou.

O diretor, autor também do premiado documentário "Senna", ri ao lembrar que seu agente nos Estados Unidos lhe disse que, após ver seu filme, pela primeira vez se sentia culpado por seu trabalho.

Para o britânico, a vida desenfreada que levava a criadora de canções como "Rehab" era em grande parte um pedido de ajuda para que alguém "parasse tudo".

"É como a criança que diz a outra no pátio: 'Vou bater em você, mas estou esperando o professor para que venha e nos separe'. Só que o professor nunca veio para detê-la", exemplificou.

O filme é narrado quase inteiramente de forma cronológica, desde a festa do aniversário de 14 anos de uma de suas amigas até o dia de sua morte, com imagens da vida da cantora sobre testemunhos sonoros em off.

Paradoxalmente, quando Kapadia exibiu os primeiros cortes do filme para pessoas próximas a Amy, viu que a maioria começava a chorar no começo da exibição apenas por vê-la contente e sorrindo, já que pensavam que sempre tinha sido infeliz.

"No final do documentário, essa gente já não estava emocionada, mas zangada, porque a maioria ainda não assimilou e seguem pensando que ninguém os escutou quando deram o alarme", considerou.

Para rodar o filme - com quase 100 entrevistas - Kapadia teve que lidar com um mundo de egos no qual todos estavam enfrentados entre si e no qual todos pretendiam atirar em direções diferentes.

Segundo confessou, "foi uma experiência muito estressante" e bem diferente da preparação de "Senna", sobre o falecido piloto brasileiro de Fórmula 1 que suscitava "um amor universal".

Mesmo assim, Kapadia confia que seu novo trabalho tenha conseguido "dar alguma paz" aos que a amavam de verdade, àqueles que no final não puderam sequer entrar em contato com ela porque a cantora nem sequer tinha telefone.

E espera que todos os envolvidos em sua destruição tomem nota para que não se repita. "Alguns jornalistas com os quais falei para o filme têm em seus armários fantasias de Amy Winehouse para o Halloween. Engraçados, estes londrinos", lamentou com um trejeito de resignação.