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Gesto de Katy Perry é interpretado como pró-Taiwan e gera polêmica na China

01/05/2015 14h50

Antonio Broto e Francisco Luis Pérez.

Pequim/Taipé, 1 mai (EFE).- O show de Katy Perry em Taipé, a capital de Taiwan, nesta semana, gerou uma inesperada tensão pelo fato de a cantora, talvez involuntariamente, ter feito no palco um gesto de apoio à independência taiuanesa.

A americana, que se apresenta na China e em Taiwan como parte da turnê mundial "The Prismatic World", deu o que falar após dar destaque a uma bandeira da ilha durante o show.

O regime comunista chinês não reconhece Taiwan como país, assim como sua bandeira, que também representava a China antes da guerra civil entre 1945 e 1949, que terminou com a cisão.

No momento em que destacou a bandeira - que havia recebido de alguém da plateia - Katy Perry cantou "Unconditionally", na qual declara seu amor incondicional a algo ou alguém, o que para muitos admiradores taiuaneses poderia ser a ilha de Taiwan.

A artista combinou a bandeira com um vestido enfeitado com girassois, outro símbolo, desde o ano passado, da rebeldia taiuanesa contra a China.

Com a flor como emblema, centenas de estudantes ocuparam em março e abril de 2014, durante 23 dias, o parlamento taiuanês em protesto contra os acordos de integração comercial entre China e a ilha, no chamado "Movimento dos Girassois".

Katy Perry, que hoje e sábado se apresenta em Macau, não conhecia o significado político em Taiwan desses girassois - flor que destacou em muitas ocasiões, inclusive em um recente show na cidade chinesa de Xangai -, mas isso não impediu a repercussão entre os fãs chineses e taiuaneses nas redes sociais.

Enquanto muitos em Taiwan elogiavam o gesto da cantora californiana, alguns fãs chineses lamentavam os "erros" cometidos por Katy Perry, devido à possibilidade de não poder voltar a se apresentar no país, de acordo com as leis chinesas.

"Temo que não haverá mais chances de (Katy Perry) voltar à China, mas acho continuará igual. Esses artistas que se metem na política de outros países são os piores", escreveu um deles na popular rede social Weibo.

Quem agiu até agora foi a censura chinesa, que retirou fotos de Katy Perry com a bandeira taiuanesa de boa parte dos sites do país e bloqueou o acesso a elas pelo popular buscador Baidu, similar local ao Google.

Do outro lado do Estreito de Taiwan eram lidas opiniões de internautas como Rocky Chen, que afirmou em um comentário no jornal "Liberty Times" que o gesto da cantora seria "um grande choque aos fãs chineses comunistas".

"Sua atitude tocou em um ponto delicado nas relações entre as duas partes do Estreito. Alguns de seus fãs estão preocupados que ela seja colocada na lista negra, por isso pedimos que não divulguem essa foto em redes sociais", disse o jornal taiuanês "Apple Daily".

Desde 2008, quando a cantora islandesa Bjork gritou palavras de ordem a favor da independência do Tibete em um show em Xangai, o Ministério da Cultura chinês proibiu a entrada no país de artistas que "ameaçassem a soberania nacional".

A proibição não deve afetar as apresentações de Katy Perry neste fim de semana em Macau, ex-colônia portuguesa com ampla autonomia em relação ao restante da China.

Katy Perry optou por ignorar a polêmica e não tocou no assunto ao longo da semana. Quando anunciou que a turnê incluiria cidades chinesas e taiuanesas, a cantora se referiu a elas como alguns de seus "lugares favoritos da Ásia".

No ano passado, em Pequim, Katy Perry assistiu a um concerto da Orquestra Nacional da China, no qual se emocionou quando os músicos reproduziram alguns de seus sucessos adaptados com instrumentos orientais.