Com excrementos como foco, "Museu da Merda" é inaugurado na Itália
A cidade de Castelbosco, no norte da Itália, ganhou nesta segunda-feira (27) uma atração inusitada: o Museu della Merda ("Museu da Merda"), que aproveita os excrementos de animais para gerar energia e os usa como foco artístico.
A ideia partiu de Giantonino Lucatelli, empreendedor e proprietário do recém inaugurado museu e que estava convencido da necessidade de dar uma utilidade às cem toneladas de excrementos que são geradas por ano por suas 2,5 mil vacas produtoras de queijo Grana Padano.
Lucatelli decidiu juntar em um mesmo recinto a produção de leite e queijo de seus animais com um projeto "humano, natural, artístico e tecnológico" que visa, além disso, "dar aos excrementos o valor que têm" e quebrar os preconceitos ao falar sobre o tema.
Apresentado no Museu da Ciência e de Tecnologia de Milão, o Museu da Merda de Castelbosco nasce com a ideia de recuperar todos os recursos que são utilizados na pecuária baseado na cultura do "não esbanjamento".
"Poucos fenômenos estão tão cheios de complexidade material e conceitual como a história cultural da merda", argumentaram os organizadores, que pretendem aprofundar e divulgar doutrinas sobre os excrementos nas civilizações passadas e atuais.
A instalação agrária e cultural faz um percurso histórico pelo uso medicinal dos excrementos para dar assim o valor que merecem e mostra potes com diferentes combinações de estrume e plantas usadas para curar doenças.
O museu também ensina como é possível criar tijolos com uma grande capacidade isolante a partir dos excrementos das vacas, combinando assim recursos naturais, tecnologia e inovação ecológica.
Os excrementos são ainda o componente principal de pinturas e argilas, além da fonte de energia que é utilizada em todo o local para climatização e geração de eletricidade.
O museu conta com tudo isso combinado com mostras de arte contemporânea, como fotografias, pinturas e desenhos que refletem a natureza, a antropologia e a ecologia. Além disso, há pinturas de "merda líquida".
Além dos sedimentos, o outro protagonista relacionado a eles é o besouro, do qual há vários exemplares que lembram o valor que tiveram no Antigo Egito, quando eram colocados sobre o coração de um morto para serem enterrados com ele e acompanhá-lo assim na viagem para outra vida.
Curiosamente, os organizadores explicaram que enquanto construíam o museu, descobriram uma fossa que foi utilizada na Antiguidade como latrina e na qual foram achados fósseis de excrementos, o que entenderam como um sinal do triunfo do projeto.
Lucatelli disse à Agência Efe que a ideia do museu "nasceu há muitos anos" e classificou a inauguração como "só o início" de seu projeto, afirmando que ainda restam "muitas surpresas".
"Há anos entendi que deste material era possível fazer muitas coisas", explicou o idealizador do projeto, que lembrou que começou com a transformação em metano dos sedimentos e daí chegou a descobrir que eles podiam ser aproveitados para mais coisas, como fertilizantes orgânicos.
Ele passou a descobrir que "era possível criar tijolos e construções formadas por 80% de excrementos", uma inovação que representa "uma grande economia energética e funciona como isolamento" ao tempo que luta contra a mudança climática.
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