Cartas entre Frida Kahlo e amante espanhol serão leiloadas em Nova York
A casa de leilões Doyle de Nova York leiloará na próxima semana um lote de 25 cartas inéditas enviadas pela artista mexicana Frida Kahlo (1907-1954) a seu amante Josep Bartolí (1910-1995), desenhista e pintor espanhol exilado na cidade norte-americana. Foi lá que Bartolí e a artista se conheceram e iniciaram o intenso romance, até então mantido em segredo. As cartas têm um valor estimado entre US$ 80 mil e US$ 120 mil.
A mexicana conheceu Bartolí por meio de sua irmã Cristina, enquanto aguardava para enfrentar uma complicada operação na coluna em um hospital de Nova York, onde foi visitada pelo pintor catalão. Ao todo, Frida escreveu mais de cem páginas ao amante, entre agosto de 1946, quando tinha 39 anos, e novembro de 1949.
A operação foi uma das muitas intervenções cirúrgicas às quais a pintora mexicana se submeteu após o grave acidente de ônibus que sofreu quando tinha apenas 18 anos, no qual fraturou a coluna. Por conta das lesões que teve, Frida permanecia prostrada na cama por longos períodos.
A biógrafa da artista, Hayden Herrera, destacou que as mensagens a serem leiloadas "choram com uma solidão que parte o coração e com a miséria da dor física", já que foram escritas enquanto Frida se recuperava no México após sua última operação. "Suas cartas a Bartolí falam sobre se sentir fechada, isolada e imóvel. Mas, tanto em suas cartas como em seus autorretratos, Kahlo nos mira com seu olhar desafiante e com sua determinação para superar sua miséria", diz Hayden.
As 25 cartas falam da doença de Frida, de sua tempestuosa relação com o marido, Diego Rivera, e da dificuldade para pintar. Mas são, principalmente, declarações de amor que imortalizaram o romance entre a mexicana e Bartolí. "Meu Bartolí... Não sei como escrever cartas de amor. Mas queria te dizer que meu inteiro ser está aberto para ti. Desde que me apaixonei, tudo se transformou e está cheio de beleza... O amor é como um aroma, como uma corrente, como a chuva. Saiba, meu céu, que chove em mim e eu, como a terra, te recebo. Mara", diz uma delas.
Frida assinava suas cartas como "Mara", um diminutivo de "maravilhosa", como era chamada por seu amante, e ela chamava Bartolí de "Sonja", para que Rivera não suspeitasse de sua infidelidade, já que o pintor mexicano não tinha problemas com as relações de sua esposa com outras mulheres, mas era ciumento com os homens.
Embora a artista estivesse profundamente ligada a Rivera, as cartas sugerem, segundo a biógrafa, que a mexicana teria deixado seu marido por Bartolí se tivesse tido oportunidade, porque ele dava "um amor que ela nunca tinha experimentado; apaixonado, carnal, suave e maternal".
Em algumas de primeiras mensagens, a pintora mexicana contou a Bartolí que havia sofrido um atraso em sua menstruação, o que a fez pensar em uma gravidez, algo que desejaria muito se sua coluna permitisse. "Se não estivesse na condição em que estou e fosse realidade, nada me faria mais feliz. Pode imaginar um pequeno Bartolí ou uma Mara?".
O desenhista espanhol guardou as correspondências em casa até a data de sua morte, em 1995, em Nova York, e mais tarde a família dele as vendeu ao homem que agora leiloa também documentos que contêm lembranças de Frida, como desenhos, flores prensadas e fotografias.
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