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Pesquisadores acreditam ter encontrado restos mortais de Cervantes

Pedaços de metal corroídos, fragmentos de madeira e um cartaz com as iniciais MC poderiam ajudar a confirmar o local de descanso de Cervantes - Sociedad de Ciencia Aranzadi/AFP
Pedaços de metal corroídos, fragmentos de madeira e um cartaz com as iniciais MC poderiam ajudar a confirmar o local de descanso de Cervantes Imagem: Sociedad de Ciencia Aranzadi/AFP

Lourdes Velasco

Em Madri

11/03/2015 15h06

Os pesquisadores que buscam os restos mortais de Miguel de Cervantes na Igreja das Trinitárias, em Madri, onde foi enterrado, acreditam ter encontrado partes de ossos que poderiam corresponder aos do escritor e sua esposa, Catalina de Salazar, informaram à Agência Efe fontes ligadas ao projeto.

As partes, soltas e "em muito mal estado", estão junto ao material ósseo de vários adultos, mas em nichos de cripta diferente do que tinha a tábua com as iniciais M.C., e as análises de laboratório parecem indicar que são os do criador de Dom Quixote e sua esposa.

De acordo com as mesmas fontes, não se trata do ponto onde o escritor foi sepultado em 1616, mas o lugar para onde transferiram o seu corpo, possivelmente depois de 1673, quando começaram as obras de reforma da igreja, agora catalogada como bem de interesse cultural.

Foram testes com espectrômetro de massas que permitiram à equipe liderada pelo legista Francisco Etxeberria analisar a composição óssea e datar as partes que coincidiriam com as de Miguel de Cervantes, sua esposa, e outros indivíduos que foram enterrados na mesma época, em localizações também comprovadas na pesquisa. No entanto, não foi encontrado o esqueleto completo de Cervantes, apenas ossos em mal estado, uma hipótese que vem reforçar o ponto de partida dos pesquisadores.

"Não vamos encontrar Cervantes com seu nome posto em um caixão", ironizou o diretor do projeto, Francisco Etxeberria, em declarações à Efe, quando em junho do ano passado foram apresentados os locais de sepultamento da igreja detectados com georradar.

Etxeberría, que participou do estudo das valas comuns da Guerra Civil espanhola e da análise dos restos mortais do ex-presidente chileno Salvador Allende, entre outros, dirigiu esta segunda fase do projeto na recuperação e análise do material para cotejar depois sua possível correspondência com os do escritor.

Os detalhes da descoberta serão expostos em uma entrevista coletiva do governo de Madri, que financiou e promoveu a busca de Cervantes - quase 400 anos após sua morte - na igreja onde foi enterrado por expresso desejo do escritor, grande devoto da ordem Trinitária, que lhe recuperou de cinco anos de cativeiro em Argel (Argélia). Ainda residem no convento anexo à Igreja das Trinitárias 13 religiosas, que no início dos trabalhos foram reticentes à busca, mas por fim deram sinal verde a uma intervenção, a qual acompanharam muito de perto na última etapa.

Os trabalhos começaram no final de abril do ano passado, quando a equipe com georadares liderada pelo co-diretor do projeto Luis Avial Bell localizou quatro sepulturas na igreja e a cripta com os nichos. Depois de meses de gestões para obter as permissões, em 22 de janeiro começou a fase antropológica e 30 pesquisadores foram à cripta, de 70 metros quadrados e localizada a cinco metros abaixo da terra, para a recuperação.

Lá, foram encontrados mais de 200 corpos, a maioria de crianças, que permitem ampliar o conhecimento de como era a Madri dos séculos XVI e XVII.

A descoberta coincide com a comemoração dos 400 anos da publicação da segunda parte de "O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de La Mancha", que precede à celebração em 2016 do quarto centenário da morte do escritor espanhol mais universal, que coincidirá com a homenagem da Inglaterra a William Shakespeare, cujo túmulo pode ser visitado na igreja de sua cidade natal.