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Projeto na favela de Paraisópolis aposta no balé para combater o crime

Alba Gil

05/03/2015 10h13

São 10h da manhã e em Paraisópolis o som de uma música clássica pode ser ouvido. Há uma hora, 20 crianças seguem as instruções da professora com total disciplina: é o balé tentando ganhar a batalha contra o crime.

"Estamos tirando os jovens da criminalidade", disse à Agência Efe a bailarina Monica Tarrago, que há três anos decidiu atravessar as ruas que separam o Morumbi de Paraisópolis para entrar neste lugar e fornecer seu "grãozinho de areia à sociedade".

Desde então e graças ao apoio da associação de moradores, já são 300 as crianças que todas as semanas passam pelas salas de aula do projeto Ballet Paraisópolis e provam que um collant e um par de sapatilhas podem, sim, combater a violência.

Para participar, não é preciso pagar, mas cumprir duas condições: estar matriculado na escola e ir a todas as aulas, requisitos que nem sempre são fáceis de manter, principalmente por conta da situação socioeconômica das famílias dos alunos.

"São meninos que vivem na miséria absoluta", explicou a professora, que se apressa em completar que "se cada um fizer a sua parte, conseguiremos ir à frente".

De fato, a comunidade acolheu tão bem o projeto que já há 800 crianças e adolescentes na lista de espera para entrar no curso, que dura oito anos e onde, além da dança, os alunos aprendem a ter um ritmo de vida saudável e manter uma alimentação equilibrada.

"Organização e disciplina" continuam sendo os dois pilares da comunidade para afastar os moradores da criminalidade, mas não os únicos.

A arte, em todas as suas formas se tornou nos últimos tempos uma ferramenta fundamental para conseguir transformar a favela em um bairro, já que, com 800 mil moradores, Paraisópolis está disposta a dar uma guinada.

Um espetáculo de balé, um concerto de orquestras filarmônicas locais e a visita ao estúdio da rádio comunitária são algumas das cinco paradas que complementam o "Circuito Paraisópolis das Artes".

A primeira delas é na oficina de conserto de carros e motos administrada por Berbela, um mecânico com alma de artesão que dá vida a qualquer forma imaginável, de crocodilos a grilos, mesas de decorações a motos Harley-Davidson usando porcas, parafusos, engrenagens, pregos e tudo o mais que aparecer de automóveis dispensados.

Outra parada é na residência de Estevão Silva Conceição, o "Gaudí brasileiro", cujo desejo de ter um jardim o levou a construir, durante 30 anos, sua própria "Casa de Pedra" usando tudo o que tinha a seu alcance: óculos, moedas, vasilhas, pratos, cerâmica, souvenirs e até bonecos.

O passeio cultural mostra ao visitante projetos artísticos e sociais que se desenvolvem na favela para tentar "reverter a visão de uma comunidade carente", tal como destacou Isaac Bezerra, um dos moradores.

"A maioria das pessoas da comunidade é trabalhador e gente honesta, mas sem motivação nem oportunidade. Esperamos que esta rota consiga mudar um pouco a concepção dos visitantes sobre o que é uma favela", concluiu Juliana Gonçalves, vice-presidente da associação de moradores.