Artistas independentes da China, livres apenas em suas obras
Paloma Almoguera.
Pequim, 2 mar (EFE).- São definidos como artistas independentes, e suas criações costumam ter um componente de denúncia e irreverência ao qual a China não dá sinal verde - famosos ou anônimos, optaram por sair do sistema para que ninguém dite suas obras, embora isso complique suas vidas.
"Muitos não se atrevem a cooperar conosco por causas políticas", disse à Agência Efe Gao Qiang, o menor dos "Gao Brothers" (Irmãos Gao), em uma cafeteria que os conhecidos artistas frequentam no distrito 798 de Pequim, uma antiga zona industrial ao norte da capital que atualmente acolhe modernas galerias de arte.
A sua está muito perto dali, mas hoje só é utilizada como lugar de trabalho. O governo chinês a fechou ao público em 2007, embora ali ainda estejam armazenadas várias de suas obras.
Entre elas, a chamativa "Execução de Cristo", na qual seis réplicas de bronze de Mao Tsé-Tung apontam para um Jesus Cristo em posição indefesa, ou vários indecorosos bustos do líder também conhecido como "Grande Timoneiro" com o colo feminino e as extremidades abertas em postura de parto.
Claramente controversa, sua última exposição em Pequim foi permitida em 2010. Desde então, vive de seu êxito no exterior, onde a rebeldia de suas criações chamou a atenção de atores de Hollywood ou altos executivos de Wall Street, segundo fontes próximas aos artistas.
Apesar de o governo chinês ter devolvido o passaporte aos artistas em 2003 e terem a permissão de viajar, eles asseguram que isso não é nenhuma garantia.
"Do que temos certeza agora, não quer dizer que teremos depois. Qualquer ação pode nos causar um problema. Na China, a política é como o ar: está em todas as partes", declarou à Agência Efe o mais velho dos irmãos, Zhen Gao.
Mas isso não tira a coragem de seguirem em frente, pelo contrário. "Muitas das nossas obras têm a ver com a realidade da sociedade chinesa e queremos ver essa mudança aqui", comentou o mais novo dos artistas, cuja obra asseguram estar marcada por eventos como a Revolução Cultural (1966-1976).
Com a missão de "limpar" as influências do capitalismo na China, o então secretário do Partido Comunista, Mao Tsé-tung, ordenou o encarceramento e o envio de milhões de pessoas a campos de trabalho.
Entre essas pessoas estava o pai dos Gao Brothers, que, segundo a versão do governo, acabou se suicidando na prisão.
Reminiscências desse período são sentidas agora, meio século depois, sob o mandato de Xi Jinping. Por ordem do governo, artistas e profissionais dos meios de comunicação terão que passar períodos no campo para deixar para trás a "escravidão do mercado", como expressou o líder há poucos meses.
"Não tiramos nem um fen (um centésimo de iuane) do Partido Comunista e não vamos ao campo como eles querem. Estamos fora do sistema e isso não nos afeta", contou à Efe Yang Weidong, autor de um volume de entrevistas sobre temas delicados na China (chamado "Sinal"), como a democracia, em um café de Pequim.
Embora menos influentes que as obras dos Gao, seus livros e obras de arte também estão censurados na China continental, e, após receber ameaças por parte das autoridades, assegura que se protege "tentando controlar" o que diz.
Mordaz, intercala um tema com outro, assegurando que "90% dos chineses não acreditam no Partido Comunista", e que ele quer "apresentar o estado real das coisas", distinguido-se dos artistas que "estão dentro do sistema".
"É como uma grande atuação. Eles têm salários pagos pelo Partido. Eles sim irão aos campos", acrescentou.
No entanto, a linha entre os artistas oficiais e os supostos independentes é difusa na China. Em círculos do setor, há críticas de que alguns artistas, como os Irmãos Gao e Ai Weiwei, estão protegidos pela fama internacional, ou que o governo é mais permissivo porque contam com um padrinho do Partido.
Mas Yang, que apesar de afirmar ser primo do vice-presidente Liu Yuanchao, diz que não o conhece pessoalmente, conta que "pelo menos cinco policiais" o vigiam "sempre" e acredita que as coisas pioraram para eles, embora os "antissistema" tentem unir forças criando associações como a Aliança de Artistas Independentes da China.
Os Gao têm a mesma opinião e lembram que dezenas de artistas independentes foram detidos por mostrar simpatia aos protestos pró-democráticos de Hong Kong do final do ano passado, e que alguns seguem detidos.
Tendo ou não uma posição vantajosa, tanto os Gao como Yang decidiram ficar na China e aproveitar sua influência ainda dentro do país, com as limitações que enfrentam e apesar do governo de Xi se mostrar mais repressivo com relação a intelectuais, ativistas e artistas, sem reparar em sua fama ou prestígio.
"Eu encontro a liberdade em minhas obras", concluiu Yang, minutos antes de sair na rua e se encontrar de novo com os cinco policiais que o "escoltam".
Pequim, 2 mar (EFE).- São definidos como artistas independentes, e suas criações costumam ter um componente de denúncia e irreverência ao qual a China não dá sinal verde - famosos ou anônimos, optaram por sair do sistema para que ninguém dite suas obras, embora isso complique suas vidas.
"Muitos não se atrevem a cooperar conosco por causas políticas", disse à Agência Efe Gao Qiang, o menor dos "Gao Brothers" (Irmãos Gao), em uma cafeteria que os conhecidos artistas frequentam no distrito 798 de Pequim, uma antiga zona industrial ao norte da capital que atualmente acolhe modernas galerias de arte.
A sua está muito perto dali, mas hoje só é utilizada como lugar de trabalho. O governo chinês a fechou ao público em 2007, embora ali ainda estejam armazenadas várias de suas obras.
Entre elas, a chamativa "Execução de Cristo", na qual seis réplicas de bronze de Mao Tsé-Tung apontam para um Jesus Cristo em posição indefesa, ou vários indecorosos bustos do líder também conhecido como "Grande Timoneiro" com o colo feminino e as extremidades abertas em postura de parto.
Claramente controversa, sua última exposição em Pequim foi permitida em 2010. Desde então, vive de seu êxito no exterior, onde a rebeldia de suas criações chamou a atenção de atores de Hollywood ou altos executivos de Wall Street, segundo fontes próximas aos artistas.
Apesar de o governo chinês ter devolvido o passaporte aos artistas em 2003 e terem a permissão de viajar, eles asseguram que isso não é nenhuma garantia.
"Do que temos certeza agora, não quer dizer que teremos depois. Qualquer ação pode nos causar um problema. Na China, a política é como o ar: está em todas as partes", declarou à Agência Efe o mais velho dos irmãos, Zhen Gao.
Mas isso não tira a coragem de seguirem em frente, pelo contrário. "Muitas das nossas obras têm a ver com a realidade da sociedade chinesa e queremos ver essa mudança aqui", comentou o mais novo dos artistas, cuja obra asseguram estar marcada por eventos como a Revolução Cultural (1966-1976).
Com a missão de "limpar" as influências do capitalismo na China, o então secretário do Partido Comunista, Mao Tsé-tung, ordenou o encarceramento e o envio de milhões de pessoas a campos de trabalho.
Entre essas pessoas estava o pai dos Gao Brothers, que, segundo a versão do governo, acabou se suicidando na prisão.
Reminiscências desse período são sentidas agora, meio século depois, sob o mandato de Xi Jinping. Por ordem do governo, artistas e profissionais dos meios de comunicação terão que passar períodos no campo para deixar para trás a "escravidão do mercado", como expressou o líder há poucos meses.
"Não tiramos nem um fen (um centésimo de iuane) do Partido Comunista e não vamos ao campo como eles querem. Estamos fora do sistema e isso não nos afeta", contou à Efe Yang Weidong, autor de um volume de entrevistas sobre temas delicados na China (chamado "Sinal"), como a democracia, em um café de Pequim.
Embora menos influentes que as obras dos Gao, seus livros e obras de arte também estão censurados na China continental, e, após receber ameaças por parte das autoridades, assegura que se protege "tentando controlar" o que diz.
Mordaz, intercala um tema com outro, assegurando que "90% dos chineses não acreditam no Partido Comunista", e que ele quer "apresentar o estado real das coisas", distinguido-se dos artistas que "estão dentro do sistema".
"É como uma grande atuação. Eles têm salários pagos pelo Partido. Eles sim irão aos campos", acrescentou.
No entanto, a linha entre os artistas oficiais e os supostos independentes é difusa na China. Em círculos do setor, há críticas de que alguns artistas, como os Irmãos Gao e Ai Weiwei, estão protegidos pela fama internacional, ou que o governo é mais permissivo porque contam com um padrinho do Partido.
Mas Yang, que apesar de afirmar ser primo do vice-presidente Liu Yuanchao, diz que não o conhece pessoalmente, conta que "pelo menos cinco policiais" o vigiam "sempre" e acredita que as coisas pioraram para eles, embora os "antissistema" tentem unir forças criando associações como a Aliança de Artistas Independentes da China.
Os Gao têm a mesma opinião e lembram que dezenas de artistas independentes foram detidos por mostrar simpatia aos protestos pró-democráticos de Hong Kong do final do ano passado, e que alguns seguem detidos.
Tendo ou não uma posição vantajosa, tanto os Gao como Yang decidiram ficar na China e aproveitar sua influência ainda dentro do país, com as limitações que enfrentam e apesar do governo de Xi se mostrar mais repressivo com relação a intelectuais, ativistas e artistas, sem reparar em sua fama ou prestígio.
"Eu encontro a liberdade em minhas obras", concluiu Yang, minutos antes de sair na rua e se encontrar de novo com os cinco policiais que o "escoltam".
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