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Para conservadores, premiações do Oscar foram muito liberais

23/02/2015 22h27

Fernando Mexía.

Los Angeles (EUA), 23 fev (EFE).- O sucesso do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu no Oscar não caiu bem nos setores mais conservadores dos Estados Unidos, abalados por uma cerimônia que consideraram muito liberal e na qual os direitos dos imigrantes ilegais foram protagonistas.

Iñárritu conquistou estatuetas de melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro, enquanto seu compatriota Emmanuel Lubezki recebeu o prêmio de melhor fotografia, em ambos os casos pelo filme "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", que foi o grande vencedor da noite.

"Foi uma grande noite para o México, como sempre", disse nesta segunda-feira em declarações ao canal "Fox" o magnata Donald Trump, que não escondeu frustração pelos reconhecimentos obtidos pela equipe de Iñárritu na noite de gala do cinema.

"Este cara não parava de subir, subir e subir (no palco) O que está fazendo? Está indo embora com todo o ouro. (O filme) é tão bom assim? Eu não ouvi isso", disse Trump indignado.

Os conservadores americanos torciam pelo sucesso absoluto de "Sniper Americano", de Clint Eastwood, que ganhou apenas uma estatueta, a de melhor edição de som.

"O Oscar é uma triste piada, muito parecido ao nosso presidente. Muitas coisas estão erradas!", escreveu Trump no Twitter, enquanto nessa mesma rede social a personalidade da TV Sean Hannity qualificou de "previsível" o mau resultado de "Sniper Americano" em uma Hollywood "liberal".

Nessa mesma linha foram muitas as críticas aos apelos feitos nos discursos, como o da ganhadora do prêmio de melhor atriz coadjuvante, Patricia Arquette ("Boyhood: Da Infância à Juventude") que reivindicou igualdade de direitos e de salários para as mulheres e foi extremamente aplaudida por uns, mas acusada de falar sem saber por outros.

Já Iñárritu dedicou seu grande prêmio da noite aos mexicanos de ambos os lados da fronteira e pediu respeito e dignidade das autoridades para os que residem nos Estados Unidos.

O crítico cinematográfico Christian Toto qualificou de "insulto" o fracasso de "Sniper Americano" frente ao sucesso "Birdman", e de "inapropriados" os pronunciamentos, que tiveram "pedidos de anistia fora de lugar", como a mensagem de Iñárritu.

A opinião, no entanto, não foi compartilhada pela diretora do Conselho Nacional La Raza (NCLR), Clarissa Martínez-De-Castro. Para ela, o gesto do mexicano foi "extraordinário", tanto pela ocasião, ao vivo perante milhões de telespectadores em todo o planeta, quanto pelo conteúdo, já que lembra a origem dos Estados Unidos.

Para Alex Nogales, presidente da Coalizão Nacional Hispânica para os Meios de Comunicação (NLMC), Iñárritu e seus colegas diretores Alfonso Cuarón e Guillermo del Toro oferecem uma imagem muito positiva do latino, longe dos estereótipos, "especialmente nos Estados Unidos onde há tantos preconceitos contra o latino".

Nogales disse que acredita que as reações negativas às declarações de Iñárritu aumentem por parte dos conservadores porque muitos membros do Partido Republicano têm posições racistas e são contrários aos imigrantes latinos.

"Muitos acham que estamos tomando os trabalhos deles", comentou.

O diretor de NHMC minimizou a importância do comentário do ator Sean Penn quando entregou o Oscar de melhor filme a Iñárritu.

Penn perguntou "Quem foi que deu o Green Card para este filho da p...?", uma frase que soou como ofensa para muitos espectadores que reagiram nas redes sociais, embora não para o mexicano, que explicou que era uma espécie de piada interna, já que os dois são amigos.

"É uma piada de mau gosto. Ele (Penn) não é racista, não é conservador, é um desbocado que não tem limites. Aqueles que têm outra agenda (política) vão usar esse comentário", explicou Noguales.