Carnaval em Lima é comemorado com desperdício de água
Fernando Gimeno.
Lima, 16 fev (EFE).- Em Lima, um carnaval sem fantasias, máscaras ou desfiles perturba as autoridades por sua forma de comemoração: o desperdício de água, que tradicionalmente é esbanjada aos montes pelas ruas da capital peruana nesta época do ano, provocando multas e controvérsias.
Sob o sol de verão dos quatro domingos do mês de fevereiro, os limenhos esbanjam água, se esquecendo da escassez que há na cidade, onde chove em média sete milímetros por ano, e a água disponível não é suficiente para abastecer os dez milhões de habitantes. Além disso, Lima é a segunda maior cidade do planeta em região desértica, atrás apenas de Cairo, no Egito.
Em Callao, cidade portuária na região metropolitana de Lima, os moradores ocupam as ruas com piscinas infláveis, onde famílias e vizinhos, independentemente da idade, fazem a festa. A cerveja corre de mão em mão durante horas, ao som de salsa e reggaeton, que aquecem ainda mais o ambiente.
Ciente da falta de cuidado da população com o gasto de água, o Serviço de Água Potável e Esgoto de Lima (Sedapal) advertiu sobre o desperdício de 120 mil m³ de água em fevereiro de 2014 - o equivalente a 30 piscinas olímpicas.
"O desperdício acontece majoritariamente nas áreas onde são feitas ligações clandestinas ou que não utilizam medidor. As pessoas usam até mesmo hidrantes contra incêndio sem autorização", alertou a especialista comercial da Sedapal, Cecilia Maurtua.
A fim de prevenir atos de vandalismo, alguns distritos de Lima estabeleceram multas para quem colocar piscinas na rua, como foi o caso de Barranco, que cobra o equivalente a R$ 1.600 pela infração, atribuindo à proibição motivos de higiene e segurança - o valor da multa aumenta para o equivalente a R$ 2.700 caso alguém molhe um transeunte sem o seu consentimento.
Além disso, a polícia colocou 10 mil agentes nas ruas para preservar a ordem pública durante o carnaval, e vigiar para que não haja situações de delitos ou danos contra o patrimônio e contra a tranquilidade pública.
Com esta medida as autoridades passaram a punir uma tradição que acontece desde, pelo menos, o século XVIII, afirmou à Agência Efe Vladimir Velásquez, administrador do projeto de historiografia Lima Antiga.
Velásquez afirmou que os carnavais de Lima "sempre" estiveram marcados pelas diferenças entre as classes sociais: as famílias ricas costumavam comemorar em bailes de máscaras particulares, enquanto nos locais mais pobres a tradição era de jogar água, inclusive nos bondes, fazendo com que muitos entrassem em curto-circuito.
"A partir das tradicionais varandas, que antes eram abundantes em Lima, as moças respingavam água nos cavalheiros, e eles respondiam molhando-as com uma espécie de seringa, e esta era uma forma de flerte", contou Velásquez.
Era costume jogar ovos cheios de água perfumada - em algumas ocasiões continha "água suja" -, e também borrifadores de perfume, que provocavam "ardência quando caiam nos olhos", além de éter, utilizado em furtos para deixar as vítimas inconscientes, disse Velásquez.
No século XIX, o escritor Manuel Atanasio Fuentes criticava o carnaval de Lima, se referindo à comemoração como "três dias funestos", em que "dois terços dos habitantes de Lima perdem o juízo e o restante é vítima dessa loucura".
"Não se pode sair às ruas sem se expor às cataratas vindas de todas as varandas e sem ser acometido por bandos de pessoas que durante esses dias não reconhecem a hierarquia superior", relatou Fuentes em seu livro "Lima. Apuntes descriptivos, historicos y de costumbres", em 1867.
Segundo Velásquez, o maior esplendor do carnaval de Lima aconteceu durante o governo do presidente Augusto Leguía (1919-1930), que estabeleceu um desfile com carros alegóricos, máscaras e bonecos, mas depois a festa foi perdendo a forma, até retornar aos lançamentos de água de antigamente.
Lima, 16 fev (EFE).- Em Lima, um carnaval sem fantasias, máscaras ou desfiles perturba as autoridades por sua forma de comemoração: o desperdício de água, que tradicionalmente é esbanjada aos montes pelas ruas da capital peruana nesta época do ano, provocando multas e controvérsias.
Sob o sol de verão dos quatro domingos do mês de fevereiro, os limenhos esbanjam água, se esquecendo da escassez que há na cidade, onde chove em média sete milímetros por ano, e a água disponível não é suficiente para abastecer os dez milhões de habitantes. Além disso, Lima é a segunda maior cidade do planeta em região desértica, atrás apenas de Cairo, no Egito.
Em Callao, cidade portuária na região metropolitana de Lima, os moradores ocupam as ruas com piscinas infláveis, onde famílias e vizinhos, independentemente da idade, fazem a festa. A cerveja corre de mão em mão durante horas, ao som de salsa e reggaeton, que aquecem ainda mais o ambiente.
Ciente da falta de cuidado da população com o gasto de água, o Serviço de Água Potável e Esgoto de Lima (Sedapal) advertiu sobre o desperdício de 120 mil m³ de água em fevereiro de 2014 - o equivalente a 30 piscinas olímpicas.
"O desperdício acontece majoritariamente nas áreas onde são feitas ligações clandestinas ou que não utilizam medidor. As pessoas usam até mesmo hidrantes contra incêndio sem autorização", alertou a especialista comercial da Sedapal, Cecilia Maurtua.
A fim de prevenir atos de vandalismo, alguns distritos de Lima estabeleceram multas para quem colocar piscinas na rua, como foi o caso de Barranco, que cobra o equivalente a R$ 1.600 pela infração, atribuindo à proibição motivos de higiene e segurança - o valor da multa aumenta para o equivalente a R$ 2.700 caso alguém molhe um transeunte sem o seu consentimento.
Além disso, a polícia colocou 10 mil agentes nas ruas para preservar a ordem pública durante o carnaval, e vigiar para que não haja situações de delitos ou danos contra o patrimônio e contra a tranquilidade pública.
Com esta medida as autoridades passaram a punir uma tradição que acontece desde, pelo menos, o século XVIII, afirmou à Agência Efe Vladimir Velásquez, administrador do projeto de historiografia Lima Antiga.
Velásquez afirmou que os carnavais de Lima "sempre" estiveram marcados pelas diferenças entre as classes sociais: as famílias ricas costumavam comemorar em bailes de máscaras particulares, enquanto nos locais mais pobres a tradição era de jogar água, inclusive nos bondes, fazendo com que muitos entrassem em curto-circuito.
"A partir das tradicionais varandas, que antes eram abundantes em Lima, as moças respingavam água nos cavalheiros, e eles respondiam molhando-as com uma espécie de seringa, e esta era uma forma de flerte", contou Velásquez.
Era costume jogar ovos cheios de água perfumada - em algumas ocasiões continha "água suja" -, e também borrifadores de perfume, que provocavam "ardência quando caiam nos olhos", além de éter, utilizado em furtos para deixar as vítimas inconscientes, disse Velásquez.
No século XIX, o escritor Manuel Atanasio Fuentes criticava o carnaval de Lima, se referindo à comemoração como "três dias funestos", em que "dois terços dos habitantes de Lima perdem o juízo e o restante é vítima dessa loucura".
"Não se pode sair às ruas sem se expor às cataratas vindas de todas as varandas e sem ser acometido por bandos de pessoas que durante esses dias não reconhecem a hierarquia superior", relatou Fuentes em seu livro "Lima. Apuntes descriptivos, historicos y de costumbres", em 1867.
Segundo Velásquez, o maior esplendor do carnaval de Lima aconteceu durante o governo do presidente Augusto Leguía (1919-1930), que estabeleceu um desfile com carros alegóricos, máscaras e bonecos, mas depois a festa foi perdendo a forma, até retornar aos lançamentos de água de antigamente.
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