Filme russo "Leviatã" causa polêmica no país de Vladimir Putin
Ignacio Ortega.
Moscou, 28 jan (EFE).- Premiado no Globo de Ouro e indicado ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro, a produção russa "Leviatã" se transformou em um fenômeno cultural no país, mesmo antes de sua estreia, por denunciar a corrupção na Rússia de Vladimir Putin, o que lhe rendeu acusações de "antipatriotismo".
"Todo o poder emana de Deus", afirma o papa ortodoxo ao corrupto prefeito da cidade russa, banhada pelo mar de Barents, na qual o filme se passa.
Por frases como esta, mais próximas do absolutismo do que de uma democracia, "Leviatã" indignou as forças patrióticas do Estado russo - funcionários, igreja e deputados -, que acusam o diretor, Andrei Zviaguintsev, de mostrar uma imagem distorcida da Rússia para agradar o Ocidente.
O ministro da Cultura, Vladimir Medinski, deixou claro desde o princípio que não gostou do filme, que afirmou ser "extremamente oportunista", especialmente por sua crítica à Igreja.
"Esta não parece ser uma história russa. É um tema universal que poderia se passar em qualquer lugar do mundo. Por mais que os autores tenham feito os protagonistas dizerem palavrões e beberem litros de vodca, isto não a torna uma história russa", comentou.
Uma polêmica como essa não acontece desde 2012, quando uma música do grupo punk Pussy Riot, que começa com o pedido "Virgem, mãe de Deus, nos livre de Putin", levou suas integrantes à prisão.
"O filme não está somente concentrado em criticar o poder, mas em cuspir nele. Falta perspectiva e o sentido de nossa existência, esse tipo de filme não deveria ser produzido às custas dos contribuintes", completou Medinski.
Após o lançamento do filme, o Ministério da Cultura rapidamente elaborou um projeto de lei proibindo a distribuição de filmes que "denigram a cultura russa, ameacem a união nacional e minem os princípios da ordem constitucional".
Alguns diretores e críticos de cinema compararam o projeto com a perseguição da propaganda antissoviética, ou seja, um novo método de censura por motivos ideológicos que alguns já qualificam de "nova caça às bruxas".
"O filme é muito pessimista. Não me surpreende que seja popular no Ocidente. Vodca, libertinagem, um desastroso sistema político e uma igreja igualmente horrorosa", declarou Vsevolod Chaplin, chefe de relações exteriores da Igreja Ortodoxa Russa (IOR).
Por sua vez, o líder comunista russo, Gennady Ziuganov, não hesitou em afirmar que o filme tem "caráter antinacionalista" por mostrar uma realidade que "desmoraliza" o país. Já o analista político governista Sergei Markov descreveu seu argumento como "a justificativa do genocídio do povo russo".
"Se eu fosse Zviaguintsev, tiraria o filme de circulação, iria à Praça Vermelha, me ajoelharia e pediria perdão ao povo russo", disse Markov sobre o filme que recebeu o nome de "Leviatã" em referência ao monstro dos mares do Antigo Testamento.
De pouco serve que o filme tenha recebido prêmios internacionais, pois os patriotas e religiosos russos consideram que o Ocidente tenta, deste modo, castigar a Rússia por sua ingerência na Ucrânia.
Valentin Lebedev, chefe da União de Cidadãos Ortodoxos, declarou que o diretor mostra no filme o Estado russo, o povo e a igreja tais como Leviatã, um monstro dos mares que, portanto, "não têm direito a existir".
"É evidente que foi por este motivo que o filme conquistou apreço mundial", assegurou Lebedev, que reivindica a limitação de sua distribuição, pois "o mal deve ser chamado pelo nome" e o "Estado russo é obrigado a enfrentar este mal".
Além de um oportuno retrato de Putin no gabinete do prefeito, o filme inclui cenas memoráveis por sua comicidade, como quando os protagonistas praticam tiro utilizando retratos de antigos líderes soviéticos, como Lênin, Stalin e Gorbachev.
Embora o diretor afirme que se baseou na história do norte-americano Marvin Heemeyer, que morreu em 2004 após um caso semelhante, ele considera que a história seja "muito russa", devido ao "sistema feudal" instaurado no país, onde tudo está nas mãos de Putin.
Antes mesmo de sua estreia, em 5 de fevereiro, o filme se transformou em uma verdadeira febre na internet. Muitos internautas, que assistiram a cópia pirata, prometeram ir ao cinema a fim de reaver o prejuízo dos produtores.
"Espero que as pessoas assistam o filme, independente do que dizem sobre ele, e assim decidam o que acham, se o filme retrata ou não o país", declarou Zviaguintsev.
Em "Leviatã", primeiro filme russo premiado com o Globo de Ouro desde "Guerra e Paz", em 1969, o prefeito mantém a sua casa, enquanto o protagonista perde a sua e, o que é pior, é preso após ser acusado de matar a sua esposa.
"Eu sou o líder e você não teve, não tem e não terá direito algum", diz o prefeito ao protagonista, de quem pretende tirar a casa para empreender um lucrativo projeto imobiliário.
"Leviatã" disputará a estatueta do Oscar com o argentino "Relatos Selvagens", o polonês "Ida", o estoniano "Tangerines" e o mauritano "Timbuktu".
"Tenho certeza de que ganhará o Oscar", apostou Sergei Popov, deputado do partido do Kremlin, que descreveu "Leviatã" como uma "caricatura" do povo russo.
Moscou, 28 jan (EFE).- Premiado no Globo de Ouro e indicado ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro, a produção russa "Leviatã" se transformou em um fenômeno cultural no país, mesmo antes de sua estreia, por denunciar a corrupção na Rússia de Vladimir Putin, o que lhe rendeu acusações de "antipatriotismo".
"Todo o poder emana de Deus", afirma o papa ortodoxo ao corrupto prefeito da cidade russa, banhada pelo mar de Barents, na qual o filme se passa.
Por frases como esta, mais próximas do absolutismo do que de uma democracia, "Leviatã" indignou as forças patrióticas do Estado russo - funcionários, igreja e deputados -, que acusam o diretor, Andrei Zviaguintsev, de mostrar uma imagem distorcida da Rússia para agradar o Ocidente.
O ministro da Cultura, Vladimir Medinski, deixou claro desde o princípio que não gostou do filme, que afirmou ser "extremamente oportunista", especialmente por sua crítica à Igreja.
"Esta não parece ser uma história russa. É um tema universal que poderia se passar em qualquer lugar do mundo. Por mais que os autores tenham feito os protagonistas dizerem palavrões e beberem litros de vodca, isto não a torna uma história russa", comentou.
Uma polêmica como essa não acontece desde 2012, quando uma música do grupo punk Pussy Riot, que começa com o pedido "Virgem, mãe de Deus, nos livre de Putin", levou suas integrantes à prisão.
"O filme não está somente concentrado em criticar o poder, mas em cuspir nele. Falta perspectiva e o sentido de nossa existência, esse tipo de filme não deveria ser produzido às custas dos contribuintes", completou Medinski.
Após o lançamento do filme, o Ministério da Cultura rapidamente elaborou um projeto de lei proibindo a distribuição de filmes que "denigram a cultura russa, ameacem a união nacional e minem os princípios da ordem constitucional".
Alguns diretores e críticos de cinema compararam o projeto com a perseguição da propaganda antissoviética, ou seja, um novo método de censura por motivos ideológicos que alguns já qualificam de "nova caça às bruxas".
"O filme é muito pessimista. Não me surpreende que seja popular no Ocidente. Vodca, libertinagem, um desastroso sistema político e uma igreja igualmente horrorosa", declarou Vsevolod Chaplin, chefe de relações exteriores da Igreja Ortodoxa Russa (IOR).
Por sua vez, o líder comunista russo, Gennady Ziuganov, não hesitou em afirmar que o filme tem "caráter antinacionalista" por mostrar uma realidade que "desmoraliza" o país. Já o analista político governista Sergei Markov descreveu seu argumento como "a justificativa do genocídio do povo russo".
"Se eu fosse Zviaguintsev, tiraria o filme de circulação, iria à Praça Vermelha, me ajoelharia e pediria perdão ao povo russo", disse Markov sobre o filme que recebeu o nome de "Leviatã" em referência ao monstro dos mares do Antigo Testamento.
De pouco serve que o filme tenha recebido prêmios internacionais, pois os patriotas e religiosos russos consideram que o Ocidente tenta, deste modo, castigar a Rússia por sua ingerência na Ucrânia.
Valentin Lebedev, chefe da União de Cidadãos Ortodoxos, declarou que o diretor mostra no filme o Estado russo, o povo e a igreja tais como Leviatã, um monstro dos mares que, portanto, "não têm direito a existir".
"É evidente que foi por este motivo que o filme conquistou apreço mundial", assegurou Lebedev, que reivindica a limitação de sua distribuição, pois "o mal deve ser chamado pelo nome" e o "Estado russo é obrigado a enfrentar este mal".
Além de um oportuno retrato de Putin no gabinete do prefeito, o filme inclui cenas memoráveis por sua comicidade, como quando os protagonistas praticam tiro utilizando retratos de antigos líderes soviéticos, como Lênin, Stalin e Gorbachev.
Embora o diretor afirme que se baseou na história do norte-americano Marvin Heemeyer, que morreu em 2004 após um caso semelhante, ele considera que a história seja "muito russa", devido ao "sistema feudal" instaurado no país, onde tudo está nas mãos de Putin.
Antes mesmo de sua estreia, em 5 de fevereiro, o filme se transformou em uma verdadeira febre na internet. Muitos internautas, que assistiram a cópia pirata, prometeram ir ao cinema a fim de reaver o prejuízo dos produtores.
"Espero que as pessoas assistam o filme, independente do que dizem sobre ele, e assim decidam o que acham, se o filme retrata ou não o país", declarou Zviaguintsev.
Em "Leviatã", primeiro filme russo premiado com o Globo de Ouro desde "Guerra e Paz", em 1969, o prefeito mantém a sua casa, enquanto o protagonista perde a sua e, o que é pior, é preso após ser acusado de matar a sua esposa.
"Eu sou o líder e você não teve, não tem e não terá direito algum", diz o prefeito ao protagonista, de quem pretende tirar a casa para empreender um lucrativo projeto imobiliário.
"Leviatã" disputará a estatueta do Oscar com o argentino "Relatos Selvagens", o polonês "Ida", o estoniano "Tangerines" e o mauritano "Timbuktu".
"Tenho certeza de que ganhará o Oscar", apostou Sergei Popov, deputado do partido do Kremlin, que descreveu "Leviatã" como uma "caricatura" do povo russo.
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