Um palácio de mil quartos para o "sultão" Recep Tayyip Erdogan
Ancara, 1 nov (EFE).- Quanto maior, melhor, parece ser a filosofia de vida do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan - o último exemplo é o novo palácio presidencial em Ancara, um imenso complexo de edifícios com nada menos que mil quartos.
O novo palácio foi batizado como AK Saray (Palacio Branco), no que parece uma alusão ao nome do partido AK Parti e à Casa Branca de Washington, cujo nome é traduzido como "palácio" em turco.
O edifício, inaugurado nesta semana, substituirá a Vila de Çankaya, que serviu de residência para os presidentes turcos desde a fundação do Estado em 1923 após ter sido escolhida pessoalmente pelo 'pai da pátria', Mustafa Kemal Atatürk, em 1921.
Com 300 mil metros quadrados e três blocos de edifícios que somam mil quartos, o novo palácio não apenas supera em tamanho as residências oficiais dos chefes de Estado de França, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos, mas também a do sultão de Brunei, registrada no livro dos recordes "Guinness" como a de maiores dimensões.
"Desde que o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) chegou ao poder, em 2002, teve uma obsessão: ter algo grande não basta, precisam ter o maior", comentou à Agência Efe o analista político Tariq Sengül.
A nova residência de Erdogan é também cinco vezes maior que o Palácio Dolmabahçe em Istambul, a mais esplêndida residência dos sultões otomanos.
Além de uma mesquita de quatro minaretes, sob construção, o complexo inclui um bunker antinuclear como "centro de operações governamentais" e um escritório presidencial blindado contra escutas, assim como dependências nas quais só se pode entrar ao passar por um controle de impressões digitais ou retina.
Com custo estimado entre 300 milhões e 500 milhões de euros, o palácio estará pronto para uso a partir da próxima primavera, quando a família de Erdogan será transferida para um anexo dentro do complexo.
Apesar de a decoração interior ser otomana, de fora o palácio deverá transmitir a mensagem que Ancara "é uma capital seljúcidas", nas palavras de Erdogan, embora esta tribo turca, que conquistou Anatólia em 1071, nunca tenha governado desde então.
A inquietação para alcançar grandes marcas, que já levou Erdogan a anunciar o maior aeroporto do mundo em Istambul (ainda em planejamento), além de outros macroprojetos, também já resultou em problemas jurídicos.
O palácio está situado em um terreno de floresta na periferia da cidade, declarado por Atatürk como terreno agrícola experimental e hoje transformado em um dos "pulmões verdes" da capital.
Milhares de árvores foram retiradas durante a edificação do AK Saray e, após uma denúncia de ecologistas, engenheiros e arquitetos, os tribunais decidiram suspender a construção em março.
"Não fiz nada ilegal. Se têm força suficiente, que o derrubem. Mas não poderão freá-lo, não poderão parar este edifício. Vou inaugurá-lo, entrar e morar lá", garantiu Erdogan.
"Com essa obsessão, os dirigentes feriram as próprias leis, destruíram cidades e prejudicaram o legado arquitetônico e cultural da República", afirmou Sengül.
"A construção ilegal desse palácio na floresta do sítio de Atatürk é um ataque aos valores republicanos. O governo está manipulando as cidades com uma mentalidade dogmática e ideológica, impõe uma imitação da arquitetura otomana e seljúcidas e destrói o caráter republicano da capital", completou Mehmet Soganci, presidente do Colégio de Engenheiros e Arquitetos.
Kemal Kiliçdaroglu, líder do CHP, principal partido opositor, inclusive prometeu que, quando seu partido ganhar as eleições, não utilizará o palácio como residência presidencial e o transformará em um complexo universitário.
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