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Nélida Piñon diz que é raro o dia em que não detecta atitudes machistas

A escritora brasileira Nélida Piñón fala com a imprensa na Residência de Estudiantes, em Madri (24/9/12) - EFE/Zipi
A escritora brasileira Nélida Piñón fala com a imprensa na Residência de Estudiantes, em Madri (24/9/12) Imagem: EFE/Zipi

Patricia Piernas

03/10/2014 17h49

Santiago de Compostela (Espanha), 3 out (EFE).- Dotada de uma imaginação transbordante, a escritora e imoral da Academia Brasileira de Letras (ABL) Nélida Piñon, que se define como "feminista histórica", acredita que este foi o movimento mais importante do século XX e não hesita em combater com "muita dialética" o machismo que vê muito presente nos dias atuais.

"Melhorou, sem sombra de dúvida. Mas ainda há. É raro o dia em que eu não detecte atitudes machistas em direção à mulher", disse em entrevista à Agência Efe a brasileira, que está passando alguns dias na Galícia após ter sido nomeada, há uma semana, acadêmica de honra do Real Academia Galega (RAG).

Nélida ressaltou que o feminismo provocou uma revolução "cega que ninguém poderia imaginar, na qual não houve derramamento de sangue".

A escritora, comprometida com as realidades sociais, ressaltou que apesar de terem havido muitos avanços na batalha contra o terrorismo sexista, as jovens não estão "liberadas" como elas acham, e por isso é preciso continuar conscientizando sobre essa realidade.

A escritora põe o foco nos homens, que nem sempre "se dão conta" que estão sendo machistas, porque em algumas ocasiões essa nem é a intenção.

Entre surpreendida e consternada, a consagrada escritora exclamou: "na Espanha se mata muito! Ano passado, mataram mais de 70 mulheres".

Ela apontou como possível culpada a natureza social, e não a natureza do homem, assim como uma matiz cultural, para tentar explicar, "apesar de não existir justificativa válida", o fato de que a mulher, para alguns homens, seja vista como uma posse.

"O sexo tem um certo aspecto de 'tu és minha', algo muito impressionante. Nós querendo ser donos do outro", afirmou Nélida Piñon, que lamenta que no âmbito legislativo estejamos avançando pouco.

A escritora lembrou que, no Brasil, nenhum homem tem coragem de dizer que é feminista por uma espécie de "covardia ou ufanismo".

Nélida Piñon assegura que existe uma insatisfação muito grande com alguns valores estabelecidos, e defende modernizá-los com responsabilidade, motivo pelo qual é urgente uma atuação política que, atualmente, classifica de "lamentável", em boa parte pelas consequências do que chamou de "compra de vontades".

"Quando se vota com o estômago, porque tem que ser alimentado, não há liberdade democrática", alegou, ao afirmar que esta dependência é algo "muito trágico".

Para Nélida, o poder está muito centrado em seus próprios interesses e carece de "um sentido republicano, da coisa pública".

Sobre a idade, a escritora ressaltou que a juventude é efêmera e é necessário conseguir um apogeu do corpo, para o que é necessário cultura, sabedoria e conhecimento.

Ganhadora de prêmios como o Juan Rulfo (1995), o XVII Prêmio Internacional Menéndez Pelayo (2003) e o Príncipe das Astúrias das Letras (2005), ela nem cogita que se fale dela como candidata ao Nobel.

"Isso é invenção", sentenciou esta cidadã do mundo, uma das principais vozes narrativas de região ibero-americana.