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Armas, copos e absorventes femininos viram materiais em exposição em SP

Sebastião Moreira/EFE
Imagem: Sebastião Moreira/EFE

Em São Paulo (SP)

25/08/2014 21h43

Materiais do cotidiano que normalmente parariam no lixo foram reciclados e transformados em 12 obras de arte contemporânea que estão expostas desde o último final de semana em São Paulo.

"A exposição reuniu um conceito comum, o 'ready made', no qual os artistas trabalham com objetos já formados, do cotidiano, que são pensados e ressignificados para virar obra de arte", explicou nesta segunda-feira (25) à Agência Efe Nina Paschoal, guia do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que recebe a mostra "Ciclos".

A obra que abre a exposição é "Ciclo - Criar com o que temos", da portuguesa Joana Vasconcelos e inspirada no estilo "ready-made" de Marcel Duchamp, na qual a artista criou um imenso lustre feito inteiramente de absorvente interno feminino e pendurado no centro da galeria.

Vasconcelos montou a luxuosa lâmpada com um material aparentemente não reciclável imitando brilhantes em forma de cascata, o que impressiona quem passa pelo local.

"Esse primeiro lustre logo na entrada é impressionante e de maneira nenhuma imaginei que era de absorvente", disse a analista Vanessa Breves, que aproveitou a hora do almoço para conhecer a exposição.

Além do lustre, outras obras causam impacto visual ou sonoro, como o caso da montagem de instrumentos musicais a partir de uma coleção de armas reunidas pelo artista mexicano Pedro Reyes, na qual os revólveres formaram um xilofone.

Reyes contou com centenas de armas confiscadas pelas autoridades mexicanas dos narcotraficantes e, com a ajuda de entidades do governo, construiu uma "banda automatizada", com "sons fortes para impactar nos ouvidos", comentou a guia do CCBB.

"Acho que com a obra de Reyes as pessoas ficam muito impactadas, tanto pelas armas e sua procedência, como pelo barulho que produzem. São armas que se transformaram em instrumentos que tocam sozinhos e são programados por um computador", explicou Nina.

Palitos de dentes, lâminas de barbear e copos descartáveis também se transformaram em peças da exposição.

No caso dos copos descartáveis, eles estão em uma sala vazia, um dentro de outro, formando uma figura que é confundida pelos visitantes com uma espuma de colchão, uma nuvem ou neve.

"Através desta exposição propomos ao público uma reflexão sobre como um novo olhar sobre objetos comuns pode modificar a experiência do cotidiano, evidenciando que é possível pensar diferente sobre aquilo que parece ser sempre o mesmo", afirma em comunicado o curador da exposição, Marcello Dantas.

Outro tema abordado pelos 14 artistas de diferentes nacionalidades é o uso da tecnologia na arte, como o espanhol Daniel Canogar, que utiliza materiais eletrônicos descartados que se misturam com uma projeção de vídeo.

O jovem brasileiro Daniel Senise também participa da exposição com um enigmático salão com azulejos beges que transmitem a sensação de um "vazio proposital", declarou Nina.

"Ele juntou catálogos e convites de exposições para formar esse piso de azulejos que, ao mesmo tempo que mostra uma ideia de vazio, faz um chamado de consciência perante o esbanjamento de materiais usados na divulgação artística", comentou a guia.

A exposição ficará em cartaz no CCBB até o dia 27 de outubro e a entrada é gratuita para o público.