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Aumento de preços na Venezuela atinge a sexta edição da Caracas Comic-Con

Alberto Andreo

De Caracas (Venezuela)

11/08/2014 18h43

Nada nem ninguém dribla o aumento dos preços na Venezuela. Nem espadas Jedi, raios laser ou o Superman puderam evitar que o público da sexta edição da Caracas Comic-Con, evento de história em quadrinhos realizado na capital venezuelana, sofresse um ataque intergaláctico na carteira.

Este setor também sofre com os problemas da falta de divisas na Venezuela, que já atinge, por exemplo, empresas que importam alimentos, e uma inflação de 60% que nem o todo-poderoso Hulk pode enfrentar. "É bem difícil importar artigos e isso é muito caro. É preciso fazê-lo por outros meios, mas aqui estamos acostumados a resolver em meio à crise", declarou à Agência Efe a diretora e fundadora do Caracas Comic-Con, Daniela Paolillo.

Desde 2003, a Venezuela possui um controle de câmbio que deixa nas mãos do Estado o monopólio da compra e venda de divisas, que entrega de maneira seletiva, após embaraçosos trâmites, três preços diferentes dependendo de seu destino.

O mais barato destes preços, de 6,3 bolívares por dólar, rege a importação de alimentos e outros produtos básicos; o segundo estabelece um tipo variável controlado de cerca de 10 bolívares; e o terceiro de cerca de 50 bolívares com participação de atores públicos e privados em um mercado controlado.

"Com o pouco que podemos conseguir fazemos muito", afirmou ela, fanática por X-Men desde os 15 anos, enquanto pulam ao seu redor diversos personagens de histórias em quadrinhos.

Esta edição da Caracas Comic-Con, que terminou no domingo (10), foi instalada em três andares de um conhecido shopping caraquenho onde os visitantes puderam, por exemplo, encontrar a sua história em quadrinhos favorita ou sentar em uma réplica fiel da poltrona do Capitão Kirk de "Jornada nas Estrelas".

Hugo Cabriles também é afetado. Ele tem uma loja em que vende camisetas de fabricação própria e imagens do capitão América, mas, segundo disse, o preço da matéria-prima "disparou, em um ano, 500%".

"O mesmo produto que este ano é vendido por 1.400 bolívares (cerca de R$ 505) no ano passado era vendido por 800 bolívares (R$ 289)", explicou.

Em seu stand em que dezenas de personagens de Lego de "Guerra nas Estrelas", "Os Simpons" e "Harry Potter" receberam o visitante, Vanessa Hernández tinha a mesma opinião. Especializada na venda deste tipo de peça há cinco anos, e que hoje vende a 500 bolívares a unidade (cerca de R$ 180), ela afirmou à Agência Efe que a Venezuela tem problema também com diversas companhias aéreas.

Há algumas semanas, várias companhias aéreas internacionais reduziram seus voos e até fecharam rotas pela dívida de, aproximadamente, US$4 bilhões que afirmam que o governo deve na venda de bilhetes em bolívares.

"Se não tem voos, não posso trazer nada por mensagem", lamentou.

No entanto, Daniela afirmou que as expectativas para os três dias do evento foram "muito boas" que a venda de ingressos e stands de exposição "bateram recordes".

"Estamos em um momento incrível para os fãs de história em quadrinhos", garantiu ela, que atribui esta situação, em grande parte, à aparição dos últimos filmes de super-heróis e séries que facilitaram que a cultura da história em quadrinhos "fosse mais conhecida e aceita".