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"O maior museu é a rua", diz muralista Eduardo Kobra sobre arte urbana

Pablo Giuliano

Da EFE, em São Paulo

07/08/2014 13h38

Em meio a uma grande massa de cimento, a cidade de São Paulo aparece como um imenso ateliê do século 21 aos artistas urbanos, como o muralista Eduardo Kobra. Aos 36 anos, ele diz que é um "privilegiado" por quebrar o cinza dos muros com as cores vibrantes de suas obras e retratos.

"A verdade é que me sinto um privilegiado por pintar na rua. O maior museu é a rua, ao ar livre e que faz com a arte possa chegar a todas as pessoas, pobres ou ricos", revelou Kobra durante uma entrevista à Agência EFE.

As novas vozes da arte nacional incluem a chamada segunda geração de "grafiteiros", muitos dos quais aparecem como destacados nomes da arte de rua, mas com espaço nas grandes galerias nacionais e internacionais, como é o caso de Kobra e dos irmãos Osgêmeos.

Kobra entende como uma evolução o fato das senhoras e senhores mais conservadores não acionarem mais à polícia ao ver os jovens com uma lata de spray nas mãos, inclusive pintando um mural.

No entanto, em sua adolescência, este pintor autodidata nascido no bairro do Campo Limpo chegou a ser detido três vezes por causa de seus grafites, inicialmente vinculados ao hip-hop e à resistência cultural. As primeiras referências foram as revistas alternativas de grafite, as quais traziam imagens dos vagões do metrô de Nova York na década de 80.

Agora, dentro dessa nova realidade, na qual a arte da rua não é mais vinculada à marginalidade, Kobra diz receber inúmeras encomendas de sua "pop art" e, inclusive, por parte das autoridades, as mesmas que antes só se ocupavam em perseguir os grafiteiros."Já fui contratado para pintar na sala de dois delegados", lembrou com humor o artista ao falar sobre essa nova realidade do muralismo.

Por outro lado, nem todos são Kobra, já que existem três níveis de comunicação visual nas ruas da maior cidade sul-americana. O chamado "pichador", que é o que apenas usa o spray para grafar seu nome ou o de sua turma; o grafiteiro, que realiza desenhos mais trabalhados sem permissão, e o muralista, que busca autorização para trabalhar com arte urbana em alto nível.

Mas, independente dessa suposta divisão, a arte do Kobra está diretamente vinculada com as ruas. "Entrei em uma galeria somente aos 28 anos", contou o artista em seu próprio atelier, situado na Vila Madalena e cujas paredes integram esse "grande museu ao ar livre", como ele mesmo disse.

Com murais e desenhos em 3D espalhados por vários países, como Estados Unidos, Inglaterra, França, México e Grécia, além de encomendas para mais um dúzia de nações, Kobra conseguiu aliviar o domínio dos muros de concreto de São Paulo, onde rege a lei "cidade limpa", que, além de combater a pichação, também proíbe os grandes cartazes publicitários nos edifícios.

Desta forma, em um dos extremos da Avenida Paulista, Kobra aproveitou o espaço para realizar um mural em homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer, o qual demorou um mês para ser concluído e teve um custo de mais de R$ 10 mil.

Os trabalhos de Kobra também incluem murais que apelam à memória de São Paulo, com desenhos e pinturas que reproduz em exatidão as imagens captadas no início do século 20, e ao movimento ambientalista.

Neste último campo, batizado como "Green Pincel", Kobra objeta em suas obras contra as touradas espanholas, o massacre das baleias no Japão e as obras de infraestrutura na floresta amazônica.

Com uma mistura de figuras geométricas e cores, Kobra também se destaca pelos seus imponentes retratos, como o do Niemeyer. No entanto, essa técnica não é uma regra para o artista, como comprova o mural da Avenida Hélio Pellegrino, onde o homenageado é o ex-jogador Paulo Roberto Falcão, reproduzido em meio à clássica celebração de seu gol na final da Copa da Espanha (1982).

Neste aspecto, o artista segue sua caminhada com objetivo de abrir novos caminhos em uma cidade marcada pelo trânsito, tendo em vista que, em caso de engarrafamento, nada melhor que buscar um de seus murais para um minuto de observação, seja no ônibus ou no carro. Essa é a nova queda de braço artística da metrópole.