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Triunfo de Conchita Wurst aviva debate sobre direitos dos homossexuais

17/05/2014 10h05

Antonio Sánchez Solís.

Viena, 17 mai (EFE).- O triunfo de Conchita Wurst no Eurovision ultrapassou as fronteiras do programa e avivou o debate sobre os direitos dos homossexuais na Áustria, até o ponto de o governo querer começar a legislar sobre temas como a adoção e o casamento gay.

Conchita, o "alter ego" de Tom Neuwirth, um cantor homossexual de 26 anos, já conseguiu levar sua mensagem de tolerância e respeito com seu nome artístico, e chegou tão longe que receberá neste domingo todas as honras do chanceler federal, o social-democrata Werner Faymann.

Em seguida, fará um show gratuito ao ar livre na frente da chancelaria, a sede do governo austríaco.

Mas ser tão bem valorizada não foi nada fácil para Conchita. Segundo dados de uma enquete publicada pela revista "News", antes do concurso, 46% dos austríacos diziam não sentir orgulho da candidata enviada ao famoso concurso Eurovision.

Essa porcentagem caiu para 29% após o triunfo, mas 80% acredita que Conchita faz bem à imagem do país.

Desde sua vitória com a canção "Rise like a Phoenix", a imprensa austríaca não passa um dia sem mostrar a nova estrela em programas de TV e capas de jornal.

A elevação de Conchita ao nível de "heroína nacional" é especialmente notável na imprensa sensacionalista e populista, onde a defesa dos direitos dos homossexuais, até agora, não costumava encontrar espaço na linha editorial.

"Graças à senhora Wurst, agora há mais direitos para os homossexuais", publicou, por exemplo, o jornal "Österreich".

O partido social-democrata SPÖ, que governa junto com os democratas cristãos do ÖVP, quer aproveitar o triunfo no Eurovision para pressionar seus parceiros a fazer a uma série de reformas legais que melhoram a situação dos homossexuais no país.

O SPÖ propõe três questões: a adoção de crianças por casais homossexuais; o direito à fecundação artificial para mulheres lésbicas; e a equiparação legal completa dos casais de fato com os casamentos convencionais.

Do ÖVP, que até agora bloqueou uma legislação mais liberal a respeito, a reação foi cautelosa sobre os prazos, mas, por sua vez, bem mais aberta do que o habitual.

"Não tenho qualquer limite para pôr a isto", declarou o chefe do partido e vice-chanceler, Michael Spindelegger, sobre a possibilidade de equiparar legalmente os casais homossexuais.

A própria ministra de Famílias, a também conservadora Sophie Karmasin, reconheceu que o triunfo de Conchita é um sinal que é preciso "discutir sobre a igualdade" e o fato representa um impulso na abertura do debate político.

A decisão, no entanto está nas mãos do ÖVP, assegura Kurt Krickler, membro da direção da Iniciativa Homossexual da Áustria.

O militante dos direitos LGTB na Áustria opinou em declarações à Agência Efe que o sucesso de Conchita representará mais uma "mudança de consciência" na sociedade do que um impacto imediato na política e nas leis.

Contudo, Krickler estima que o furor em torno do sucesso de Conchita, inclusive na imprensa mais popular, pode abrir um debate interno no ÖVP sobre se negar a questões como o casamento gay atrai ou não eleitores.

Seu triunfo no Eurovision é "uma mostra de que as pessoas estão mais avançadas do que acredita a lei em muitos países", comentou a deputada Ulrike Lunacek, lésbica assumida.

Segundo ela, seu partido atende com mais credibilidade ao tema dos direitos dos homossexuais. Ulrike se referiu a várias propostas apresentadas ao Parlamento europeu como o reconhecimento da igualdade para os casais homossexuais além das fronteiras nacionais.

Até agora, estas iniciativas quase não recebiam resposta dos demais partidos, algo difícil de ser sustentado nestes dias, pelo menos na Áustria, após a vitória de Conchita no Eurovision.