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Arte, uma sobrevivente da barbárie da Síria

29/04/2014 10h10

Maria Llort.

Paris, 29 abr (EFE).- A arte que sobrevive à barbárie da Síria, graças aos criadores que continuam trabalhando, apesar das revoltas de 2011 que geraram uma guerra civil, chega a Paris com uma exposição no Institut des Cultures d'Islam (Instituto de Culturas do Islã).

Os vídeos, as fotografias e as pinturas levam a assinatura de 15 artistas que retratam, às vezes com humor ácido e, outras, com dureza, o horror da violência que castiga um país destruído.

Como diz o título da mostra, "Et pourtant ils créent! Syrie: la foi dans l'art" ("E ainda assim criar! Síria: a fé na arte").

Apenas um dos artistas, Fadi Yazigi, cujas peças viajaram às feiras de arte contemporânea de Paris e de Dubai, continua vivendo em Damasco, onde a falta de recursos os levaram a usar sacos de farinha como telas, contou à Efe a diretora do museu, Elsa Jacquemin.

Os outros trabalham do exílio, e suas obras refletem que tudo mudou. Alguns modificaram os temas que tratam, enquanto outros mudaram os tons e as técnicas usadas, apostando em muitos casos no uso dos meios digitais.

Por exemplo, Akram al Halabi, formado na academia de Belas Artes de Viena, deixou os pincéis para se dedicar a escrever sobre uma série de fotografias de massacres da Síria.

No caso de Mohammed Omran, cujos desenhos abordam o corpo humano doente, as cores dos primeiros filmes empalideceram e em seus últimos trabalhos o branco e o preto se apossam das imagens.

Evolução parecida experimentou a obra de Khaled Takreti, que em seu trabalho "J'ai perdu mes couleurs" ("Perdi minhas cores") abandonou em parte a técnica "precisa e limpa" que o caracteriza para se deixar levar pelo caos, explicou à Efe a diretora de relações públicas do espaço, Blanca Pérez.

Quando perdeu sua oficina em Damasco, Tammam Azzam, que expôs em galerias de Beirute e de Londres, decidiu se expressar através da arte digital com composições baseadas em fotografias reais da Síria nas quais remete a motivos icônicos de grandes mestres, como "Os Fuzilamentos de Três de Maio", de Goya, o primeiro pintor que retratou a guerra como algo doloroso, e não épico, segundo Pérez.

"E, embora todos integrassem o drama de seu país em suas obras, em alguns há uma vontade política clara", disse Elsa.

Por exemplo, o grupo "Masasit Mati", formado por dez artistas que permanecem no anonimato, expõe episódios de uma sátira política que foi divulgada nas redes sociais e na qual o ditador Bashar al Assad aparece como uma marionete.

O Facebook foi a plataforma escolhida pelo coletivo "No" para mostrar uma série de fotografias na qual se utiliza o corpo humano com um braço vendado para formar em árabe a palavra que dá nome ao grupo.

Os cineastas do grupo "Abounaddara", cujos filmes participaram de festivais como a Mostra de Veneza, optaram por realizar curtas-metragens centrados em histórias cotidianas, além dos confrontos que captam a atenção da mídia.

Outra forma de protesto são os retratos realizados por Jaber al Azmeh, que expôs na Forum Factory de Berlim, e nos quais retratou sírios sustentando um exemplar do jornal oficial do regime "Baath" sobre o qual tinham escrito mensagens como "Amamos todos eles", em referência aos desaparecidos.

O único fotógrafo presente, Muzaffar Salman, da agência Reuters, capturou com sua objetiva detalhes belos em meio a um cenário destruído, em fotos em que a luz é a protagonista.

As ilustrações de momentos trágicos da história contemporânea de Yasser Safi, os desenhos em preto e branco com que Abdul Karim Majdal al Beik mostra a dor da Síria e as criações em que Waseem al Marzouki mostra o papel dos recursos energéticos no conflito também podem ser vistas.

"Quisemos dar a palavra, o direito de falar aos artistas sírios", ressaltou a diretora do Instituto, que acompanha a exibição com um programa de concertos, debates e encontros com escritores que olham para o panorama cultural da Síria.

A mostra pode ser vista até o dia 27 de julho.