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Cem anos da história colombiana em um gole de café

21/03/2014 10h08

Daniel M. Salazar Castellanos.

Bogotá, 21 mar (EFE).- Os cafés do centro de Bogotá, que foram ponto de encontro de artistas, intelectuais e personalidades da elite política e econômica do século XX, ressurgem após décadas de decadência, graças a um programa de revitalização.

A Pastelería Florida é um desses estabelecimentos, e sua coproprietária, Elsa Martínez, conta que por suas "mesas de ouro" passaram personagens como o caudilho liberal Jorge Eliécer Gaitán, o poeta Leon de Greiff e seu irmão, o sábio Otto, e também poeta Raúl Gómez Jattin.

No começo do século XX em Bogotá, existiam cerca de 90 cafés que gozavam de prestígio e reconhecimento; eram tempos nos quais as mentes brilhantes do país se reuniam para "regular o mundo em uma noite" com discussões, versos e argumentos, mas essa tradição foi silenciada com a explosão violenta de "El Bogotazo".

A revolta popular de 9 de abril de 1948, que seguiu ao assassinato de Gaitán, e a ditadura do general Gustavo Rojas Pinilla (1953-1957) reduziram a frequência da intelectualidade aos cafés, que, com o passar dos anos e a modernização da cidade, entraram em decadência e a maioria acabou fechando as portas.

As lembranças das épocas em que Bogotá era conhecida como "A Atenas sul-americana" fizeram com que o Instituto Distrital de Patrimônio Cultural empreendesse uma cruzada para recuperar o centro histórico da cidade e fazer ressurgir a cultura dos cafés.

Com o programa "Bogotá em um café", lançado em 2013, a entidade que depende da prefeitura selecionou os estabelecimentos mais antigos ainda em funcionamento para ajudar na recuperação do seu esplendor.

O plano de revitalização inclui o Café Pasaje, La Pastelería Florida, ambos fundados em 1936; El Café Saint Moritz (1937); a Pastelería Belalcázar (1942); o Salón La Fontana (1955); e o Café Restaurante La Romana (1964), com um investimento próximo aos 400 milhões de pesos (cerca de R$ 470 mil) em atividades culturais para atrair novos clientes. O instituto também procura incentivar que pessoas financiem reformas físicas em alguns dos cafés que necessitam de remodelação.

"O programa de cafés é inteligente porque é um projeto barato, com muito impacto e de muita alegria para quem o vive", disse à Agência Efe a diretora de Patrimônio Cultural, María Eugenia Martínez.

De acordo com ela, em uma segunda fase do projeto se espera vincular aos cafés modernos.

"As estratégias serão abertas, muito variadas, por isso não vai ter qualquer choque; ao contrário, temos uma lista dos cafés que querem participar deste projeto", contou.

A ideia foi um sucesso e os cafés bogotanos com atividades culturais começaram a recuperar seu prestígio com grande presença do público. Durante a primeira etapa do programa, com oito encontros culturais, cerca de 590 pessoas apareciam por sessão.

Para este ano, estão programadas 15 "Tardes de Café", como se denomina os encontros com personalidades da cultura como a escritora Carolina Sanín, o cineasta Lisandro Duque e a arquiteta argentina Maria Nieves Arias, que comandou o programa "Cafés Notáveis de Buenos Aires", que serviu de inspiração para Bogotá.

A estratégia consiste em recuperar os encontros e a essência destes locais, pois, como diz a coordenadora do programa, Laura Pinzón: "não se trata de revivê-los porque nunca morreram".

"É um plano que procura alimentar o imaginário coletivo" em torno da magia destes locais que em sua maioria conservam a decoração sóbria e elegante típicas de uma "belle époque" bogotana.

A ideia é considerada "oportuna" por um experiente conhecedor do negócio como César Iannini, proprietário do Café La Romana. Ele acredita que isso devolverá a vida ao centro da capital.

"Os jovens são o público alvo dos cafés, pois gostam de se reunir para conversar" comentou Iannini.

Ele vê nesta geração uma oportunidade para que estes estabelecimentos se posicionem novamente como os centros de debate e ideias que foram no passado ao redor de uma xícara fumegante da bebida colombiana.