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Detroit evita sacrifício de seu museu graças a juízes e governador

14/02/2014 06h27

Cristina García Casado.

Washington, 14 fev (EFE).- Sacrificar um museu para salvar uma cidade em quebra? Este cenário está agora um pouco mais longe de acontecer em Detroit, depois que um juiz descartou uma nova taxação das obras e outro criou uma campanha de recolhimento de fundos à qual se somaram várias fundações e um governador.

Detroit, sob a ferrão da pior quebra municipal da história dos Estados Unidos, corre contra o tempo há meses a fim de evitar que seus quadros de Van Gogh acabem transformados em dinheiro para acalmar os credores.

No entanto, os últimos eventos demonstraram que o Instituto de Arte de Detroit não está sozinho: dois juízes, várias fundações e até o próprio governador do Estado saíram a seu resgate.

Steven Rhodes, o juiz que deu sinal verde para que a cidade pudesse se declarar em quebra, rejeitou na última quarta-feira a última exigência dos credores: uma segunda taxação da coleção do museu que inclua desta vez todas as obras e não só as adquiridas com fundos municipais.

Os credores consideram "conservadora e insuficiente" a taxação que a Prefeitura encarregou à casa de leilões Christie's, que estimou que as obras compradas pela cidade, um total de 2.773 peças que representam apenas 5% do total, teriam um valor de venda de entre US$ 454 milhões e US$ 867 milhões.

Rhodes descartou sem rodeios a criação de uma comissão para avaliar as 66 mil peças do museu com o argumento de que não compete a ele, mas sem esconder que embora tivesse autorização para atender suas demandas, também não o faria.

Das palavras do juiz, um ator-chave no desenlace desta disputa entre a arte e as dívidas, pode se ver uma evidente reticência com que a Prefeitura pague os erros de sua gestão com o patrimônio dos cidadãos.

Rhodes não foi o único a dar boas notícias ao Instituto de Arte de Detroit, o governador do estado de Michigan, Rick Snyder, propôs uma verba de US$ 350 milhões para os próximos 20 anos destinada a aliviar a quebra da cidade e, concretamente, a cobrir as pensões dos aposentados.

O anúncio de Snyder veio logo após a campanha lançada por outro juiz, Gerald Rosen, que de seu papel como mediador impulsiona um recolhimento de fundos para arrecadar US$ 500 milhões, número que segundo seus cálculos permitiria salvar as pensões e outras prestações municipais em perigo.

Esta soma evitaria que Detroit, uma cidade em tempo de vacas magras com fama de decadente e perigosa, receba o golpe moral de ficar sem um dos poucos pontos de prestígio que ainda conserva: sua coleção de arte, uma das seis melhores do país.

Nove fundações privadas atenderam também ao apelo de Rosen e doarão US$ 330 milhões, fundos que não só poderiam salvar o momento presente do museu mas o deixariam blindado perante vaivéns econômicos futuros.

Se esta iniciativa progredir, o Instituto de Arte de Detroit se transformaria em uma organização sem fins lucrativos, independente tanto do poder municipal como das fundações, o que poria ponto final a uma história de contínuos sobressaltos para a pinacoteca, inaugurada em 1919, ficando nas mãos da Prefeitura.

Os responsáveis do museu não esquecem de comemorar cada mão que se estende em sua defesa com um comunicado esperançoso de imprensa em seu site, conscientes de que com o apoio explícito da Justiça, do governador do estado e, certamente, dos profissionais da cultura de todo o país, a cada dia se afasta um pouco mais o cenário mais temido: a venda das grandes obras de uma das seis melhores coleções de arte dos EUA.