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Vargas Llosa teme que corrupção derrube os progressos da América Latina

01/12/2013 21h51

Guadalajara (México), 1 dez (EFE).- O escritor peruano Mario Vargas Llosa afirmou neste domingo que a América Latina tem muitas razões para ser otimista, mas advertiu que "a corrupção é uma gangrena" que pode derrubar os progressos que vem sendo feitos.

"Acho que talvez, pela primeira vez em nossa história, temos muito mais razões para ser otimistas do que pessimistas. E que, inclusive, perseverar no pessimismo é ir semeando obstáculos para algo que começa a funcionar, a melhorar", disse o Nobel de Literatura de 2010.

Em entrevista coletiva na Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL), no México, o escritor advertiu que "alguns países sim têm razões para se sentir extremamente desmoralizados".

"Há ditaduras, digamos, clássicas, que são Cuba; Venezuela. E há democracias muito imperfeitas, que não mereceriam sequer esse nome, como na Nicarágua e na Bolívia", explicou.

No extremo contrário situou o caso do Peru, um país onde, atualmente, "há instituições democráticas que começam a funcionar" e onde dois conceitos se consolidaram: que a democracia "é o único modelo realmente eficaz para progredir sem violência", e que é preciso apostar em "uma economia aberta que estimule os investimentos e o crescimento de empresas privadas".

"O Peru não é o paraíso, mas é um país onde finalmente parece haver uma luz no fim do túnel", disse o escritor.

Vargas Llosa disse que o México era um caso "muito interessante", pois "há 20 anos era uma ditadura. O Partido Revolucionário Institucional (PRI) tinha uma hegemonia absoluta, 70 anos no poder, uma corrupção enorme, os presidentes saíam ricos", e isso mudou.

O PRI governou de maneira ininterrupta durante sete décadas até 2000, quando perdeu as presidenciais para os conservadores do Partido da Ação Nacional (PAN), mas retornou ao poder com a eleição do atual presidente Enrique Peña Nieto

"É um país onde há uma democracia, há partidos políticos rivais, forças que realmente estão presentes no Parlamento, na imprensa, manifestações gigantescas de opositores. Esse é um progresso muito considerável. Hoje em dia, é possível atacar o poder", acrescentou.

Para Vargas Llosa, "infelizmente, com o crescimento econômico de muitos países da América Latina, praticamente em todos a corrupção cresceu".

"Na maior parte dos países latino-americanos começa funcionar a legalidade", sustentou, e recorreu ao exemplo do Brasil, com políticos e, inclusive, ministros submetidos a processos legais.

Em termos gerais, alertou que continua havendo uma mentalidade muito arraigada na qual "as pessoas já não sabem diferenciar o bom do mau e pensam, por exemplo, que transgredir a legalidade é perfeitamente aceitável porque todo o mundo o faz".

Por último, mencionou que um dos maiores desafios regionais é o de conseguir que "os jovens mais preparados façam política", pois para muitos a política "se transformou em algo desprezível, vil, sujo e corrompido", e é preciso atrair as pessoas mais brilhantes e criativas para ela.