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Woody Allen retorna com "Blue Jasmine", tragicomédia da decadência das elites

14/11/2013 21h33

Marta Garde.

Paris, 14 nov (EFE).- Woody Allen retorna amanhã às telas brasileiras com "Blue Jasmine", uma tragicomédia que aborda as consequências e a origem da crise financeira através da queda em desgraça, social e econômica, de uma mulher endinheirada.

A australiana Cate Blanchett no papel de Jasmine se entrega de corpo e alma em uma interpretação que lhe rendeu algumas das melhores críticas de sua carreira. No filme, ela humaniza uma mulher que vê sua vida arruinada após a morte do marido, um magnata encarnado por Alec Baldwin.

O filme se passa em Nova York e San Francisco, e através de flashbacks retrata o antes e o depois de alguém que passa da elite econômica ao outro extremo da escala social. Com isso, o cineasta americano remete inevitavelmente a Ruth Madoff, esposa do investidor financeiro e fraudador Bernard Madoff.

O diretor, no entanto, assegurou em entrevista à Agência Efe que o filme nasceu não dessa fraude, mas de outra história real contada pela sua própria mulher, Soon-Yi Previn, e que, com algum adorno, reunia todos os ingredientes para fazer dela "uma boa história dramática".

Seu foco é justamente essa decadência, e não no resto de aspectos econômicos, sociais e financeiros que classifica como "coincidências", mas que dotam o filme de uma boa dose de realidade e dramaticidade mais elevadas do que em seus filmes anteriores.

Não faltam situações absurdas e neuroses próprias dos personagens encarnados ou criados por Allen. Contudo, adianta o diretor, trata-se de uma trama que não pretende emitir qualquer crítica, implícita ou explícita.

Para Cate Blanchett seu personagem é "uma princesa de Upper East Side", que acumula todo o ódio e a traição fruto das fraudes de seu marido, mas também é o resultado das fantasias de "ver as coisas como quer ver, em vez de como realmente são".

Essa é a primeira vez que Cate trabalha com Woody Allen. Por isso, o pânico de refletir o alter ego do diretor e a responsabilidade de colaborar com alguém de seu calibre fizeram com que as filmagens não fossem muito relaxantes, como ela mesma contou.

"É aterrorizador trabalhar com alguém que você admira tanto como eu admiro Woody e sua obra. Estava muito nervosa, mas ele é um homem tão prático na hora de fazer um filme que eu me dei por inteira. Se não funcionava ele me dizia. É algo que pode ferir o coração, mas essa é a maneira de avançar", comentou.

Já para a britânica Sally Hawkins, que interpreta a irmã adotiva de Blanchet, Allen não está interessado no processo de atuação em si, mas quer que o ator chegue ao set já sendo o personagem.

"Woody Allen é Woody Allen. Ele é um ícone, embora vá me odiar se me ouvir falando assim. É um cérebro incrível, que pensa como um dramaturgo, e com quem se aprende um montão simplesmente por estar com alguém como ele", declarou a atriz.

Com "Blue Jasmine", o diretor rompe o ciclo europeu que nos últimos anos lhe levou a rodar em Roma ("Para Roma, com Amor"), Paris ("Meia-Noite em Paris"), Barcelona ("Vicky Cristina Barcelona") e Londres ("Ponto Final - Match Point"). Com isso também recupera a aprovação geral da crítica.

Mas o que o fez poder assinar sua produtiva carreira, conclui Allen, foi justamente se fazer de surdo para as opiniões sobre ele, sejam elas positivas ou negativas.

"Em 50 anos, nunca li uma crítica. Neste tipo de trabalho é muito fácil ficar narcisista, preocupado consigo mesmo. Quanto mais faz, menos trabalha. Esqueça as críticas, o público, a bilheteria, não importa se é fantástica ou terrível. É muito importante não ficar preocupado com isso. Isso só te fará se afastar da única coisa importante: o trabalho", ponderou.