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Biblioteca árabe-sul-americana, a última assinatura de Niemeyer na Argélia

13/11/2013 10h12

Jorge Fuentelsaz.

Argel, 13 nov (EFE).- A biblioteca árabe-sul-americana de Argel, que pretende se tornar uma das principais obras arquitetônicas contemporâneas da cidade e em uma ágora aberta que abrigue as duas culturas, será a última assinatura deixada na Argélia pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

"Niemeyer tinha 101 anos quando fez os primeiros croquis, os primeiros desenhos" do projeto, contou à Agência Efe o arquiteto-chefe do estúdio do arquiteto, Jair Valera, que se encontra em Argel para dar impulso à iniciativa, nascida na primeira cúpula árabe-sul-americana realizada em Brasília em 2005.

Trata-se de um ambicioso projeto avaliado em cerca de 80 milhões de euros, que ocupará uma superfície de mais de 50 mil metros quadrados em Zeralda, cidade vizinha a Argel.

"É uma biblioteca que é praticamente um centro cultural", explicou Valera, detalhando que será composta por uma sala de exposições, um auditório e uma residência para pesquisadores, além de um biblioteca de oito andares.

Valera alega que Niemeyer tentou fazer algo diferente dos edifícios projetados na Argélia, coincidindo com seu exílio europeu dos anos 60 e 70, como a Universidade Houari Bumedian, próxima ao aeroporto de Argel, a Universidade de Constantin (no leste do país) e a cúpula do Estádio Olímpico.

"Passaram muitos anos e o projeto também é totalmente diferente", analisou Varela. No entanto, reconheceu que a biblioteca, que contará com uma cúpula de 60 metros de diâmetro, "tem as formas de quase todos os trabalhos de Niemeyer, que parecem uma assinatura sua".

Um dos elementos-chave do conjunto, confessa Valera, é uma "grande laje que cobre toda a área de convivência, onde há projetados bares e restaurantes".

Essa laje é, justamente, a essência do conjunto arquitetônico, no qual "Niemeyer quis fazer grandes espaços generosos de convivência para cumprir com a ideia inicial de integração".

"São duas culturas (a árabe e a sul-americana) totalmente diferentes, e essa interação é muito interessante", acrescentou o também arquiteto que trabalhou mais de 40 anos com Niemeyer e que viveu em Argel em 1975, onde participou da construção da Universidade Houari Bumedian.

Do projeto, Varela também quis destacar sua harmonia e sua adaptação ao terreno "com poucas elevações, quase plano".

"Niemeyer tinha uma capacidade excepcional para fazer a implantação das obras (...) sempre muito simples, um edifico só aproveitando o espaço e adaptando-se muito bem ao lugar", disse Valera.

A realização da obra, supervisada pela Agência Nacional Argelina de Gestão e Realização de Grandes Projetos da Cultura, que tem projetados outros grandes edifícios como a Ópera e a Grande Mesquita de Argel, ainda levará, pelo menos, cinco anos.

Valera também quis ressaltar que para Niemeyer "foi uma honra ser convidado tanto tempo após ter trabalhado nesse país. Tinha a Argélia como uma parte importante de sua vida".

"Foi uma grande honra para ele com 100 anos e estava muito entusiasmado. Falava muito desse projeto. Ele teria gostado de vê-lo pronto, era muito importante para ele essa obra e penso que vai ser uma grande homenagem, uma homenagem merecida", concluiu.

Um centro cultural nos Açores, um centro musical na cidade argentina de Rosário e a sede de uma fábrica em Ulm, Alemanha, são alguns dos projetos não finalizados do arquiteto.

No entanto, Valera confessa que, neste momento, a biblioteca árabe-sul-americana, onde trabalha com um grupo de arquitetos espanhóis com que já colaborou na construção do Centro Cultural Niemeyer de Avilês (Espanha), "é o mais importante".