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Caral, cidade mais antiga das Américas, comemora 19 anos de sua descoberta

08/11/2013 09h57

Carmen Jiménez.

Lima, 8 nov (EFE).- A cidade de Caral, considerada a mais antiga das Américas, comemora o 19º aniversário de sua descoberta no Peru com novos achados sobre sua planta urbana, ao mesmo tempo em que avançam os estudos que assinalam que a mudança climática acabou com esta civilização de mais de 5.000 anos de antiguidade.

Situada em uma área desértica ao norte de Lima, entre o vale banhado pelo rio Supe e o litoral do país, o sítio arqueológico, foi declarado pela Unesco como Patrimônio Mundial em 2009.

Por ocasião desta comemoração, durante este fim de semana serão realizadas diversas atividades que começarão nesta sexta-feira com a inauguração do Museu Comunitário de Supe e com a cerimônia de culto à Pachamama (Mãe Terra) em Caral, que estará toda iluminada.

No sábado vai acontecer o "Catu Caralino" (feira de produtos agroecológicos e artesanais dos habitantes das províncias de Barranca e Huaura); o festival gastronômico "Sabor da minha terra"; e o festival artístico cultural ou "Runa Raymi".

Ao se completar 19 anos desde que pesquisas revelaram os restos desta civilização, que foi contemporânea da egípcia e da suméria, a chefe da Zona Arqueológica Caral, Ruth Shady explicou à Agência Efe que foi descoberto um caminho o qual foi denominado "Rua da Integração Social", porque liga a área central da cidade com um setor da periferia.

A área central de Caral é o principal setor da cidade onde ficavam os prédios públicos de mais destaque e as casas da elite, enquanto na periferia ficavam as casas menores desta civilização.

Nesse setor da periferia é onde este ano foi descoberto um prédio público, de menores dimensões, e uma rua que o conecta com a área central, o que segundo Shady demonstra que ambas as áreas "estiveram em conexão e participando do mesmo sistema social e cultural".

A arqueóloga explicou que atualmente estão trabalhando em 11 assentamentos o que evidencia que esta civilização teve "grande prestígio e o manteve por mais de mil anos até que entrou em crise devido a uma "forte mudança climática".

Segundo Shady, em Caral por volta dos anos 2000-1900 antes de Cristo aconteceu uma mudança climática que se manifestou primeiro em terremotos muito intensos, inundações muito fortes em seguida e secas prolongadas que fizeram com que a areia invadisse os campos de cultivo e formasse dunas nos vales.

"Frente a esta situação tão crítica onde não havia água no rio e os mananciais secaram, as povoações tiveram que emigrar ou ficar e morrer", assegurou.

Esta é a hipótese sobre o fim desta civilização na qual trabalha uma equipe multidisciplinar de geólogos e especialistas em engenharia hidráulica da Universidade da Flórida.

Mas além de promover o conhecimento desta civilização, atualmente também realizam oficinas para fomentar o desenvolvimento das povoações que vivem no entorno dos sítios arqueológicos.

A arqueóloga também destacou que no Museu Comunitário de Supe, que será inaugurado nesta sexta-feira, se poderá apreciar a fibra de cores naturais recuperada dos sítios arqueológicos, onde foi descoberto que se interviu geneticamente em diversas plantas e se conseguiu quatro cores naturais de algodão.

Neste sentido, Shady explicou que foi uma civilização com grandes conhecimentos de arquitetura, de ciência e tecnologia, já que desenvolveram tecnologias antissísmicas graças às quais suas construções perduram até nossos dias, apesar de estarem no chamado Cinturão de Fogo do Pacífico, uma região onde se registra quase 85% da atividade sísmica do mundo.

Em Caral também encontraram conjuntos musicais inteiros, o que "demonstra sua complexidade" e a importância que davam para a música para um desenvolvimento mais harmonioso das pessoas, que embora tenha se mantido na história andina foi se perdendo nos últimos anos, segundo Shady.

Entre os instrumentos musicais que foram encontrados estão 32 flautas transversais, 38 cornetas, quatro antaras e quenas.

Apesar de a cada ano aumentar o número de turistas, Shady lamentou que ainda não seja dado o valor que se merece a Caral, que de janeiro de 2003 até agosto deste ano recebeu 428.333 visitantes. EFE

cjn/ma

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