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Escritora britânica Jo Baker dá voz a criados de "Orgulho e preconceito"

Capa do livro "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen - Divulgação
Capa do livro "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen Imagem: Divulgação

Da Efe, em Madri

05/11/2013 11h51

A escritora britânica Jo Baker é fascinada por histórias não contadas dos personagens secundários da literatura, e por isso decidiu dar voz em seu último romance aos criados da mítica obra de Jane Austen "Orgulho e Preconceito", que, como seus senhores, escondem paixões e segredos.

"As sombras de Longbourn" apresenta aos leitores os serventes da família Bennet, que protagoniza "Orgulho e Preconceito", romance que Jo Baker diz ter lido diversas vezes. Em entrevista à Efe, a autora afirma que as leituras permitiram que ela respeitasse a forma de escrever de Jane Austen sem imitá-la.

"Demorei um pouco para encontrar minha própria forma de escrevê-lo", confessou a autora, que tentou fazer com que seu romance tivesse "ressonâncias" de "Orgulho e Preconceito", respeitando as estruturas dos capítulos e fazendo referência ocasionais a diálogos da obra de Austen.

Os personagens principais de "As sombras de Longbourn" são, segundo Baker, "presenças fantasmais" em "Orgulho e preconceito", que existem unicamente para servir o casal Bennet e suas cinco filhas: são eles que cozinham suas comidas, os que esperam à porta do baile para levá-las outra vez para casa e os que lavam sua roupa interior.

Jo Baker reconhece que foi um desafio difícil se aproximar a um livro tão conhecido: "Acho que, se tivesse pensado antes de começar, nunca teria escrito".

A escritora explica que foi "precisa e minuciosa" para cartografar seu romance e ajustá-lo ao de Austen e se mostra orgulhosa das críticas que sobre o resultado.

Sarah é a donzela protagonista deste romance cuja rotineira vida muda no dia em que chega um novo servente à mansão, um homem chamado James Smith com um passado cheio de mistérios. Segredos que também têm a senhora Hill, cozinheira e empregada doméstica, e seu marido.

Desta forma, Jo Baker dá vida às histórias não contadas de personagens da classe trabalhadora que, em muitos romances de época, se desenhavam no cenário dos argumentos como algo acessório, mas que, em geral, tinham sido ignorados pela literatura.

"Em parte, o que fiz foi reconhecer a humanidade destes personagens", diz Baker, que explica que não se considera "educado" descrever como as serventes tinham as mãos cheias de frieiras.

Uma situação oculta que pode também ser refletida na atualidade, como diz Baker. "Embora já não lavamos as coisas na mão, há pessoas que fabricam a roupa em precárias condições trabalhistas; transferimos para outros países onde sai mais barato. Essa realidade segue existindo, embora já não esteja em nossos porões", sustenta.

Através da vida dos serventes, Jo Baker faz dar "um passo além" a algum personagem de "Orgulho e preconceito", como ocorre o senhor Wickham, o cafajeste que acaba se casando com a menor das cinco irmãs.

O já por si malvado Wickham tenta neste romance se aproveitar de Polly, uma menina que serve na casa. "Se ele já se comportava assim com uma jovem respeitável, o que não faria com as mais humildes quando não o viam?".