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Alemanha celebra 200 anos de nascimento do ícone literário Georg Büchner

Rodrigo Zuleta

De Berlim (Alemanha)

17/10/2013 13h16

A Alemanha celebra nesta quinta-feira (17) o segundo centenário de nascimento de Georg Büchner, que se eternizou como um dos principais ícones da literatura alemã mesmo com a brevidade de sua obra, tendo em vista que o mesmo morreu aos 23 anos com uma infecção de tifo.

Os títulos de Büchner, que dá nome ao principal prêmio literário da Alemanha, podem ser contados em uma mão - o drama "A Morte de Danton", a comédia "Leonce e Lena", a peça dramática "Woyceck" e o relato "Lenz" -, embora não se resumam a um único gênero.

Além disso, Büchner foi autor de um reconhecido manifesto político, escrito ainda em sua época de estudante e que aparece como um dos textos socialistas mais radicais escritos antes do Manifesto Comunista.

"Paz às cabanas, guerra aos palácios" é a sentença que marca o início do manifesto em questão, a qual se tornou clássica e que antecede uma série de denúncias sobre a exploração dos camponeses no grão-ducado de Hesse.

O manifesto marcou a vida de Büchner, que, em 1834, foi obrigado a fugir de Hesse, atravessar a fronteira em direção à França e, posteriormente, se radicar em Zurique, onde realizou um doutorado com um trabalho sobre o sistema nervoso dos peixes.

Enquanto fugia e buscava um destino como cientista - já que tinha estudado medicina -, Büchner começou a desenvolver sua obra literária, terminou "A Morte de Danton" (drama publicado em 1835) e começou a trabalhar em "Lenz", um relato dedicado à loucura de um dos representantes do movimento literário "Sturm und Drang", Jakob Michael Lenz.

Apesar da distância de quase 200 anos de história, sua obra dramática continua sendo representada até hoje, levando em consideração que seu relato sobre Lenz é considerado uma das primeiras tentativas de abordar o tema da esquizofrenia na literatura e seu manifesto cravou uma aura de rebeldia a sua imagem.

Além disso, alguns elementos de sua obra dramática, principalmente na comédia "Leonce e Lena", parecem antecipar o que seria depois o Teatro do Absurdo. Aliás, a obra de Büchner traz um testemunho de um mundo que está se desfazendo sem que um suposto novo futuro se mostre com clareza.

Embora fosse um revolucionário, ou pelo menos era visto como tal, Büchner, em "A Morte de Danton", evidencia sua decepção perante o caminho tomado pela Revolução Francesa com o advento do terror, que, como diz um dos personagens, em vez de oferecer pão ao povo dava sangue.

A morte prematura de Büchner deixou muito espaço aberto às interpretações, muita delas com desconfiança. No entanto, em uma das biografias lançadas por causa do segundo centenário, Hermann Kurzke formula a hipótese de que, no momento de sua morte, tinha deixado para trás suas pretensões políticas e queria se assegurar em uma existência burguesa como professor universitário em Zurique.

Em todo caso, se forem revisar a obra de Büchner, o que encontrão é uma permanente mistura de rebelião e resignação, o que para muitos o torna extremamente atual, em um momento em que o povo tende a desconfiar do capitalismo selvagem e as velhas utopias parecem sepultadas.